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COLUNISTAS

Carnaval na sapucaí: espetáculo de ritmos e luzes

23/04/2024 - 11:22h
Atualizado em 24/04/2024 - 11:42h




Foto abertura: Aspecto dos Desfiles das Escolas de Samba do Grupo Espacial do Rio de Janeiro, na Sapucaí. Fonte: Riotur.

 

Teatro Grego (século V), passando pela ‘Commedia Dell’Arte’ (século XV), culminando nos festivais e shows artísticos e musicais, em estádios descobertos, como em outros lugares adaptados no século XXI. O Carnaval, comumente referendado como a “maior festa do Brasil”, tem seu ápice no Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, evento este que reúne linguagens visuais, sonoras, musicais, corporais e, cada vez mais, aprimora-se na integração de soluções de iluminação cênica. Nesta conversa, as luzes saem do contexto dos shows musicais para desfilarem, magnificamente, na Marques de Sapucaí”.

 

Arte, cultura e entretenimento são, ao mesmo tempo, conceitos distintos, como também áreas de conhecimento e produção técnica que se desenvolveram significativamente, em decorrência de novas tecnologias, e da mesma forma, pela mais diversificada abrangência e acesso por diferentes públicos. Isoladamente, constituem representações, elementos e comportamentos próprios de determinados povos, atrativos que captam turistas e visitantes em determinadas épocas do ano, a partir de calendários e datas específicas e festivas.

 

Entretanto, a convergência entre esses três pilares, associados à evolução humana e ao lazer, potencializam determinadas produções, estabelecendo condições para a realização de espetáculos singulares, notadamente e historicamente a partir do século XIX com a Ópera, o Circo e as Grandes Exposições. No Brasil, o paralelo de grandiosidade histórica comparável aos mesmos impactos que aquelas produções tiveram como fenômenos e influência, com certeza, tem no Carnaval uma dimensão ainda mais significativa, deslumbrante e inovadora.

 

Também como um conceito complexo e abrangente, o Carnaval tem seu mais expressivo desenvolvimento com a popularização do samba, no início do século XX. Mesmo que seja uma festa de âmbito nacional e com desdobramentos culturais associados a outras linguagens musicais e repertórios rítmicos dos mais diversificados e plurais, foi na capital federal (até 1960), a cidade do Rio de Janeiro, que o Carnaval atingiu um marco de referência de uma identidade nacional, “exportada” como produto cultural genuinamente brasileiro a partir dos blocos que se tornaram Escolas de Samba desde 1928. Oficialmente, o Desfile das Escolas de Samba tem no ano de 1932 a sua gênese, como realização organizada e programada no formato de concurso ou competição anual.

 

Deve-se destacar que, tão deslumbrantes quanto essas realizações produzidas na Cidade Maravilhosa, são as incontáveis as festas, festivais, bailes, e outros eventos, além de desfiles com designações e associações geográficas específicas, que ocorrem anualmente no fim de semana, segunda-feira e terça-feira que antecedem a Quarta-Feira de Cinzas, no Brasil. Muitas dessas realizações ocorrem em estruturas dedicadas a essas festividades (principalmente salões para os bailes), outras em espaços adaptados ou multifuncionais, desde o início.

 

 


Aspecto do Desfile das Escolas de Samba do Grupo Espacial do Rio de Janeiro, na Sapucaí. Fonte: Leo Queiroz/PropMark.

 

 

A partir da inauguração do popularmente conhecido “Sambódromo da Marquês de Sapucaí”, em 1984, cujo emblemático projeto arquitetônico foi elaborado por Oscar Niemeyer, sendo o projeto luminotécnico concebido pelo magistral Lighting Designer teuto-brasileiro Peter Gasper, além de um novo patamar qualitativo no espaço dedicado aos desfiles, foi pela ampla cobertura dos meios de comunicação tradicional que houve uma disseminação ainda mais significativa, mesmo que o processo de evolução da década de 1930 até os anos de 1980 tenha sido igualmente significativo, ainda que em condições mais modestas, financeiramente e midiaticamente.

 

Assim, com esse palco projetado para os espetáculos carnavalescos produzidos para os desfiles dos grupos classificados de acordo com critérios competitivos definidos para acesso e rebaixamento, milhares de profissionais se dedicam anualmente para a produção do “Maior Espetáculo da Terra”. No projeto original, Gasper buscou atender as necessidades de transmissão de TV ao mesmo tempo em que idealizou a “teatralização da luz” (nas palavras dele), ficando inviável naquele momento pelas tecnologias disponíveis. Em 2002, conseguiu implantar um projeto, com equipamentos locados de empresa fornecedora estadunidense – descontinuado, em função dos investimentos necessários (e, posteriormente, indisponíveis).

 

 

 


Iluminação Cênica na Sapucaí em 2002 – Projeto de Peter Gasper. Fonte: Peter Gasper/Lume Arquitetura

 

 

Conforme destaca a matéria elaborada pelo excelente jornalista Miguel Sá, “Iluminação cênica na Sapucaí” (publicada em 30/03/2023 no seguinte link: https://www.revistabackstage.com.br/sumario/sumario/iluminacao-cenica-na-sapucai), que apresenta detalhes técnicos, equipamentos e estruturas utilizadas nesse contexto, o atual projeto – elaborado por uma competentíssima e espetacular equipe liderada pelo brilhante Lighting Designer Césio Lima -, finalizado em 2019, coloca a Passarela Professor Darcy Ribeiro, situada na Avenida Marquês de Sapucaí, também conhecida como Sambódromo da Marquês de Sapucaí – ou simplesmente, Sapucaí – como um dos palcos mais sofisticados para a realização de eventos – principalmente para os Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.

 

 

 

 

Com os recursos dos espetáculos produzidos em ambientes abertos – tais como estádios esportivos e, atualmente, arenas multi-eventos – a Sapucaí tem a competência de disponibilizar tecnologias de monitoramento e controle de iluminação em patamares iguais àqueles instalados para a realização de megaeventos, com fibra ótica e Wi-Fi para toda a extensão de aproximadamente 700m – sendo cerca de 560m somente do comprimento da pista.

 

 


Iluminação Cênica na Sapucaí em 2024. Fonte: Guito Moreto/O Globo

 

 

Nesse processo de renovação, também como “retrofit” de iluminação, com a devida atualização tecnológica – luminárias, equipamentos e efeitos -, como também o aproveitamento máximo das possibilidades de melhorias nas torres e estruturas verticais existentes – uma vez que o conjunto arquitetônico integra o Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Só por essa estratégia, trata-se de um desafio superado e fundamental para projetos específicos, programação e criação de cenas personalizadas, a partir da decupagem dos roteiros produzidos para cada tema, cada Agremiação ou Escola de Samba.

 

Para além de uma requalificação tecnológica, deve-se destacar também o caráter comemorativo de um espaço cultural e simbólico que em 2024 celebra quarenta anos desde a inauguração, atingindo marcas e cifras impressionantes a cada ano, fomentando ainda mais a capacidade de captação de turistas e visitantes para uma cidade com natural vocação turística em diversos aspectos – naturais, culturais, de negócios – e que projeta, notavelmente, o Carnaval como símbolo e produto composto, que de maneira indissociável converge correntes artísticas e culturais em um ambiente propício para a contemplação estética e o entretenimento.

 

 


Aspecto de Carro Alegórico da Grande Rio no Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial (2024). Fonte: Hermes de Paula / Agência O Globo

 

 

Como resultados esperados, a mais intensa valorização de um espetáculo único, singular e incomparável, cuja visualidade, marcada pela profusão de cores, texturas, formas e movimento, será ainda mais exuberante, vívida, memorável. Aliam-se a isso as novas potencialidades e alinhamentos conceituais e contextuais, que expandem as referências e simbologias, os figurinos, os carros alegóricos, as bandeiras que representam cada Escola, cada Agremiação, possibilitando ainda novas percepções e sensações para tão relevante acontecimento.

 

Como recursos cênicos, mesmo com a reforma de 2012, entende-se como uma nova conjuntura tecnológica, técnica e operacional para o uso da iluminação cênica em condições inovadoras e inigualáveis, tanto no âmbito de qualidade como versatilidade, comparável talvez – e claro, com as devidas proporções - às melhorias que Richard Wagner propôs na construção do Teatro de Bayreuth e que permitiram a dimerização da iluminação cênica, fato esse que revolucionou a Ópera e os espetáculos desde então. Trazendo essa reflexão para um contexto atual: seria essa perspectiva e expectativa revolucionária o prenúncio de um Carnaval 4.0?

 

Abraços e até a próxima conversa!!!

 

 

 

Carnaval na sapucaí: espetáculo de ritmos e luzes
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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