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COLUNISTAS

Coesão e Intensidade: show da banda Saxon em Curitiba

03/12/2023 - 10:55h
Atualizado em 04/12/2023 - 08:49h


 

Além de revelar os protagonistas de um espetáculo, a iluminação cênica também possui diversas outras funções, tais como propiciar dinâmica, atratividade visual, dramaticidade, sensações e emoções. Potencialmente, aproxima plateia e palco, estabelecendo interações com variados graus de intensidade. Muitas vezes, essa intensidade se mantém nos patamares mais elevados, fomentando uma sinergia surpreendente e marcante. É nesse contexto que essa conversa aborda o sensacional show da banda britânica Saxon, com brilhantes, enérgicos e iluminados momentos de sintonia e simbiose entre banda e plateia.

 

 

Pela terceira vez em Curitiba – e oitava vez no Brasil -, um dos mais emblemáticos expoentes daquela que foi nomeada “Nova Onda do Heavy Metal Britânico” ou NWOBHM - New Wave of British Heavy Metal – apresentou-se na capital paranaense, desta vez no Teatro Ópera de Arame, totalmente lotado. Nas outras vezes, em 2002 e 2011, no Moinho São Roque e Master Hall (locais esses que atendem por outros nomes, na atualidade), por motivos diversos, as plateias estavam mais esvaziadas, embora os shows tenham sido memoráveis, marcados pelas ótimas performances tanto da banda como pela receptividade dos fãs.

 

 

Formada em 1977 pela união de cinco músicos das bandas S.O.B. e Coast, que se apresentavam na região de South Yorkshire, Inglaterra, a banda Saxon lançou seu primeiro e homônimo álbum dois anos depois. No entanto, foi a partir do segundo álbum, "Wheels of Steel", que a banda atingiu um patamar diferenciado na história do Heavy Metal, no início da década de 1980, sendo decisiva e responsável por uma sonoridade que influenciou incontáveis bandas e artistas. Dos vinte e três álbuns da banda, o repertório do show realizado no dia 14 de novembro presenteou os fãs com dezoito empolgantes canções, contemplando as mais significativas e essenciais de uma trajetória de quarente e seis anos de carreira.

 

 


Banda Saxon em Curitiba – Teatro Ópera de Arame (14/11/2023). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Coube ao ótimo quarteto equatoriano-estadunidense MadZilla o show de abertura, com quarenta minutos de duração e canções nos estilos do Heavy Metal e Trash Metal. Além das ótimas canções, deve-se destacar a interação com a plateia, principalmente do guitarrista e vocalista David Cabezas que apresentou as canções na maior parte em português. Completam a banda Daniel Gortaire no baixo e backing vocals, Dane Haws na guitarra e Luis Zevallos na bateria.

 

 

Para a “Seize The Day World Tour 2023”, a banda Saxon destinou, além de Curitiba, outras três capitais brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte e a capital federal, Brasília), cujos shows promovem o ótimo álbum “Carpe Diem” lançado em 2022, sendo o vigésimo terceiro álbum de estúdio. Na formação atual, Biff Byford (vocal), Doug Scarratt (guitarra), Nibbs Carter (baixo), Nigel Glockler (bateria) e Brian Tatler (líder e cofundador da banda britânica Diamond Head), substituindo Paul Quinn, guitarrista e cofundador da banda Saxon, que se aposentou dos palcos em abril deste ano (2023).

 

 


Banda Saxon em Curitiba – Teatro Ópera de Arame (14/11/2023). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Eram passados cinco minutos das vinte e duas horas quando Byford e companhia entraram no palco, saudando efusivamente a plateia para executarem “Carpe Diem (Seize the Day)”, faixa título do álbum promovido pela turnê, emendada com “Motorcycle Man” (do clássico álbum “Wheels of Steel”, de 1980) e “Age of Steam” (também de “Carpe Diem”, 2022). Com uma demonstração de força e potência, fachos marcantes, cores dominantes (vermelho, amarelo, verde, azul) em combinações complementares ou análogas, com contrastes de formas em configurações predominantemente simétricas.

 

 

Se o objetivo de um show é agradar ao máximo a plateia, Saxon tem a fórmula ideal. Na continuidade, e com uma plateia vibrante que entoava o nome da banda a plenos pulmões, desfilaram “Power and the Glory” (do álbum homônimo de 1983), “Dambusters” (também de “Carpe Diem”, 2022) e “Dallas 1 PM” (do álbum “Strong Arm of The Law” de 1980). A combinação de canções-chave dos álbuns mais importantes, com as faixas do último lançamento demonstram a coerência e solidez de uma banda que sempre se manteve fiel ao estilo. Nesse âmbito, o estilo Old-School presente no projeto de iluminação cênica, com luzes definidas em fachos paralelos e padrões mais uniformes, principalmente para as cores, ora monocromáticas e neutras, ora análogas quentes ou frias.

 

 


Banda Saxon em Curitiba – Teatro Ópera de Arame (14/11/2023). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Nas canções “Heavy Metal Thunder” (também de “Strong Arm of The Law”, de 1980) e “Sacrifice” (do álbum homônimo, de 2013), fachos frenéticos em contrastes de intensidade, com predominância de luzes âmbares – projetadas alternadamente e em alinhamento ao backdrop vermelho que estampava a logo da banda, centralizada nesse painel têxtil. Em determinados momentos dessas canções, as alternâncias de luzes com transições mais lentas traziam profundidade e dramaticidade aos temas das canções.

 

 

Byford, extremamente carismático, faz uma enquete com a plateia sugerindo duas das mais pedidas, para que houvesse uma ordem estabelecida pelos fãs mais fervorosos. Venceu “Crusader” (faixa título do álbum de 1983) seguida de “Ride Like the Wind” (do álbum “Destiny”, de 1988), que de fato é cover do cantor e compositor estadunidense Cristopher Cross, originalmente lançada em 1980. Para essas canções, dinâmicas que valorizavam intensidade verticalizada ou movimentos ondulantes criavam atmosferas hipnóticas e envolventes.

 



Banda Saxon em Curitiba – Teatro Ópera de Arame (14/11/2023). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Para finalizar a primeira parte, “Strong Arm of the Law” (terceira faixa do álbum homônimo de 1980), “Solid Ball of Rock” (canção que abre o álbum de mesmo nome de 1991), “And the Bands Played On” (do álbum “Denim and Leather”, de 1981) e “Wheels of Steel” (clássica canção do álbum com esse título de 1980). Novamente, uma mescla de diversos recursos propiciou um fechamento intenso e vigoroso.

 

 

Encerrada essa etapa, a banda, ainda no palco, sugeriu mais duas canções “The Pilgrimage” (também de “Carpe Diem”) e “747 (Strangers in the Night)” (uma das mais pedidas de “Wheels of Steel”, clássico álbum de 1980) para o primeiro bis. A plateia, imersa em luzes que ultrapassavam o proscênio e atingiam as primeiras fileiras, já integrava o espetáculo como um elemento imprevisível capaz de refletir e complementar as luzes, interagindo como integrantes de uma cenografia improvável.

 


Banda Saxon em Curitiba – Teatro Ópera de Arame (14/11/2023). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Para o segundo bis, ovacionados pela plateia, duas canções do álbum “Denim and Leather” de 1981: a faixa-título e “Princess of the Night”, para encerrar com chave de ouro um dos mais surpreendentes espetáculos do ano em Curitiba. Possivelmente, nesta última, os efeitos (com gobos) tenham se destacado, com filigranas esverdeadas que formavam uma trama com cores complementares (vermelho), desfeita pela dispersão de fachos para um final apoteótico.

 

 

A consistência de canções, generosamente ilustradas no palco com luzes instigantes e diversificadas, tornou o show da banda Saxon um acontecimento memorável, tão esperado pelos fãs que, em uma relação de estímulo-resposta, propiciaram interações empolgantes, visivelmente correspondidas pela banda que em reciprocidade apresentou um repertório impecável e vigoroso, abrilhantado com uma iluminação cênica envolvente e fascinante!

 

 

Abraços e até a próxima conversa!!!

 

 

Coesão e Intensidade: show da banda Saxon em Curitiba
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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