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COLUNISTAS

De repente, trinta: bodas de pérola do festival de curitiba

29/03/2022 - 14:34h
Atualizado em 29/03/2022 - 15:27h


 

Nas produções de um espetáculo, único e isolado, diversos são os aspectos que devem ser considerados para o atendimento dos requisitos necessários às narrativas propostas, como também às expectativas do público. Nos festivais, essas complexas combinações se multiplicam, tornando esses eventos realizações desafiadoras e melindrosas pela mais ampla gama de necessidades, espaços, estruturas e anseios. Nesse sentido, um evento que chega aos trinta anos de existência, merece reverência e aclamação. Nesta conversa, algumas linhas sobre o Festival de Curitiba, com destaques para uma história iluminada e repleta de iniciativas marcantes e consideráveis contribuições para as artes performáticas brasileiras.

 

 

Após um período de dois anos, completos no dia 11 de março de 2022, a pandemia da COVID-19, mesmo vigente, permite na atuais condições de contágio e ocupações hospitalares, com uma parcela majoritária da população brasileira vacinada (com no mínimo duas doses no esquema recomendado para a imunização desejável), uma gradual retomada na realização de eventos coletivos e mais significativa flexibilização para os protocolos recomendados aos encontros presenciais, tanto na realização de espetáculos.

 

Nesse contexto, será realizada na capital paranaense mais uma edição do Festival de Curitiba, no fim de março e início de abril, em um momento com mais intensa oferta de várias atividades artísticas, realizadas em espaços abertos e fechados, importante também pela celebração do aniversário de trinta anos de um dos mais importantes eventos para as artes performáticas brasileiras.

 


Figura 1: Cena da peça “The Flash And Crash Days”, direção e iluminação de Geral Thomas (1992). Fonte: geraldthomas.com

 

 

Realizado pela primeira vez como Festival de Teatro de Curitiba (FTC) em 1992 e focado originalmente na arte teatral com linguagem dramática, trazia nas primeiras peças apresentadas uma concepção estética e formal que conduziria esse evento a um patamar de exigência e expectativas que o acompanha até a atualidade. Muitas peças são estreadas nos palcos curitibanos como uma estratégia que busca na reação da crítica e plateia os parâmetros de avaliação e aprovação necessários à viabilidade de turnês ou revisão do todo em busca de aprimoramento, ou mesmo prorrogação, em função das circunstâncias de desaprovação ou reprovação por esses públicos.

 

 

Nos antecedentes da primeira edição, deve-se destacar as condições estruturais para realização do eventoem uma cidade que já possuía equipamentos notáveis para os espetáculos teatrais, como o Teatro Guaíra (Guairão) e Guairinha, assim como o Teatro Paiol. Além destes equipamentos, ainda fomentou a criação de outros espaços concebidos especialmente para esse festival. Especificamente o Teatro Ópera de Arame foi inaugurado no dia 18 de março de 1992 para a apresentação de “Sonhos de uma Noite de Verão”, peça de William Shakespeare encenada pelo Grupo Ornitorrinco e dirigida por Cacá Rosset. Teve outros espaços adaptados e estruturados, como a Boca Maldita, na Avenida Luiz Xavier no centro da cidade, que recebeu “Febeapá Revisitado” (1994), do texto de Stanislaw Ponte Preta, encenada pelo Grupo Tá na Rua, dirigida por Amir Haddad; ou ainda o espetáculo “Apocalipse 1,11”, realizado em 2000 no 9º FTC, cuja montagem foi produzida na Penitenciária de Piraquara (a 20km da capital paranaense). Atualmente, são 26 teatros e salas de espetáculos em Curitiba que já receberam encenações e produções artísticas para o festival, além de outros, como galpões, barracões, espaços abertos e públicos transformados em palcos, tablados e instalações.

 

 


Figura 2: Aspecto da peça “Em Lugar Algum/Somewhere”, direção de Beth Lopes e iluminação de Wagner Pinto (2003). Fonte: Performa Teatro.

 

 

Desde então, o FTC passou a ampliar gradativamente suas linguagens e expressões, além da oferta de manifestações artísticas diversas (tais como dança, música e circo, entre outras), eventos paralelos (mostras Fringe, Risorama,Gastronomix, MishMash entre outros eventos), nos mais distintos espaços, para espetáculos gratuitos apresentados à população em praças e lugares públicos. Ampliou-se, portanto, o evento a ponto de mudar de FTC para Festival de Curitiba, realizado com uma série de atividades envolvendo entretenimento, discussões, mostras e encontros dos mais diversificados públicos, inclusive estrangeiros, com artistas e companhias nacionais e internacionais.

 

 

Nesse processo que incluiu produções renomadas e iniciativas incipientes, mesclaram-se concepções tradicionais e experimentalismo, em um rol de manifestações cênicas e performáticas que neste ano atingem números impressionantes. Segundo dados divulgados pela produção vigente, desde a primeira edição são mais de trinta mil espetáculos, com aproximadamente 42.000 artistas (sem incluir as equipes e staff) e mais de 3,5 milhões de espectadores. A esses números, incluem-se também as dezenas de lugares utilizados para o atendimento da programação em cada edição e todos os serviços ofertados durante o período de realização.

 

 


Figura 3: Aspecto da peça "O Jornal – The Rolling Stone", direção de Lázaro Ramos e
Kiko Mascarenhas, iluminação de Paulo César Medeiros (2018). Fonte: Ana Branco/Estúdio Folha

 

 

No que se refere à iluminação cênica, o Festival de Curitiba proporcionou e ainda apresenta espetaculares produções que, em três décadas de inovações e concepções tecnológicas revolucionárias, propiciou à capital paranaense o encontro de uma plêiade deiluminadores, operadores e técnicos de iluminação, entre outros profissionais e atribuições, oferecendo às artes performáticas estéticas exuberantes, independente do estilo ou proposta resultante.

 

 

Dos refletores PAR 64 com lâmpadas halógenas aos refletores com LEDs, dos retroprojetores às projeções com recursos mais contemporâneos, os teatros e salas de espetáculos também compõem equipamentos e estruturas que evoluíram acompanharam o desenvolvimento dos instrumentos de iluminação cênica nas últimas três décadas. Profissionais e plateias nesse período testemunharam espetáculos com linguagens incomparáveis, em diversas línguas e idiomas de nacionalidades diferentes, e técnicas de iluminação capazes de produzir sentidos para além da visão, sensações indescritíveis e enaltecimento de artistas das mais diversificadas manifestações artísticas e performáticas.

 

 


Figura 4: Aspecto da peça “Outros” encenada pelo Grupo Galpão, direção de Marcio Abreu
e iluminação de Nadja Naira (2019). Fonte: Guto Muniz/Bem Paraná

 

 

Na arte da luz do palco, vários foram e são os nomes que se destacam em um período tão longevo de um festival multicultural. Apenas para citar alguns: o premiado iluminador lapeano Beto Bruel, Medalha de Ouro no World Stage Design; o encenador e iluminador paulistano Caetano Vilela; o iluminador lemense Guilherme Bonfanti; a iluminadora e professora natalense Irma Vidal; o iluminador piauiense Maneco Quinderé; a iluminadora castrense Nadja Naira; o iluminador carioca Paulo César Medeiros; o iluminador também carioca Wagner Pinto; entre tantos nomes que fazem parte da história desse relevante festival.

 

 

Além do encontro dos maiores nomes da iluminação cênica nas artes cênicas, o evento também tem sido marcado pela reunião de emblemáticos e significativos autores, diretores, cenógrafos, figurinistas, maquiadores, artistas e produtores, além de dezenas de outras funções nas produções cenográficas, representadas por centenas de profissionais que entregam aos espaços cênicos produções associadas a diversos estilos e escolas artísticas, não somente do teatro.

 



Figura 5: Cena da peça “Licht + Licht”, direção, dramaturgia e iluminação de Caetano Vilela (2012). Fonte: Manga Cenográfica

 

 

Por essa diversificação, que também preza pela inclusão e diversidade, o Festival de Curitiba estabelece uma referência para as produções culturais brasileiras e estrangeiras, e que também estabelecem um modelo de evento que se mantém nas últimas três décadas, mesmo com adversidades, em um patamar de significativa relevância no cenário nacional e internacional, marcado por perseverança, determinação e apoio de quem acredita na cultura brasileira, mesmo em tempos nos quais a artesofre com abandono, descrédito e obscurantismo.

 

Nesse mesmo contexto, ainda reflete a realidade de muitas produções, de todo porte e aporte, de toda espécie e propósito. Possivelmente, também indica uma trajetória que evidencia êxitos obtidos em um período que também passou por mudanças conceituais e tecnológicas, que naturalmente acompanharam a iluminação cênica como elemento essencial dos espetáculos e referência de evolução técnica e histórica nesse percurso.

 

 


Figura 6: Cena da peça “Tom – 208 beijos e abraços sem fim”, Dramaturgia
e Direção Marcos Damaceno, iluminação de Beto Bruel (2017). Fonte: A Escotilha.

 

 

Ainda como legado e processo em construção, o Festival de Curitiba também possibilita o acesso das artes performáticas a várias parcelas da população, com espetáculos pagos e gratuitos, conduzindo assim as artes e a iluminação cênica a diversos públicos, e nos contrastes e metáforas possíveis nesse contexto, mais posicionados na parcela mais representativa da luz do que das sombras que se revelam no âmbito da cultura brasileira.

 

 

Abraços e até a próxima conversa!!!

De repente, trinta – bodas de pérola do festival de curitiba
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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