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COLUNISTAS

Iluminação Cênica e Inteligência Artificial: convergências e influências

15/02/2023 - 17:52h
Atualizado em 17/02/2023 - 11:40h



Imagem de aberutra: Otimização e versatilidade como aplicações específicas da inteligência artificial na iluminação cênica. Fonte: Ombra Design.

 

Na iluminação cênica, as práticas e operações sempre estiveram em alinhamento com as tecnologias vigentes, em todos os períodos de sua história. Neste momento, discute-se como a inteligência artificial – tecnologia ou sistema que, entre múltiplas aplicações, simula soluções – pode ser adaptada ao cotidiano, em todos os setores, com enfoque nos benefícios, como também reflexões dialógicas, para potenciais prejuízos. Nesta conversa, serão abordadas as convergências da inteligência artificial na iluminação cênica, a partir de influências que já acompanham esse segmento há décadas.

 

 

A inteligência artificial tem sido uma temática central e recorrente de muitos dos debates neste momento, tanto para a produção de conhecimento como para a tomada de decisões, entre outras aplicações. As discussões são relacionadas principalmente à capacidade desse sistema - desenvolvido para a coleta ou captação de informações e dados - simular conexões mentais humanas para a elaboração de textos ou mesmo para a execução de tarefas, e suas finalidades e usos, para o benefício individual e coletivo, e também para a geração de conteúdos falsos (aqui, relacionados aos textos e ao fomento de Fake News nas redes sociais).

 

Mesmo que este debate tenha se evidenciado nos últimos meses (ainda que existente desde a primeira metade da década de 2010), tornou-se mais latente em decorrência de ferramentas disponibilizadas na Internet para a elaboração de textos e codificações em linguagens de máquinas com finalidades distintas. Principalmente pela disseminação do ChatGPT (ou Chat Generative Pre-Trained Transformer, algoritmo criado pelo OpenAI, laboratório americano que atua desde 2015 nas pesquisas em inteligência artificial, e que está na versão GPT-3), podendo ser utilizado inclusive na iluminação cênica (fornecendo linhas de codificação em Python). Contudo, por mais que tenha sido explorado por diversas percepções em diversos contextos, o conceito de inteligência artificial não é recente; do contrário, tem mais de sessenta anos.

 

 


Automação como aplicação específica da inteligência artificial na iluminação cênica. Fonte: ARM Radio.

 

A concepção de “inteligência artificial” surge com o genial matemático inglês Alan Turing (1912-1954), a partir de um artigo redigido por ele e intitulado "Computing Machinery and Intelligence", publicado postumamente em 1956 na revista britânica “Mind”. No artigo, Turing antecipava reflexões sobre uma sociedade apoiada em computadores capazes de auxiliar os seres humanos no cotidiano.

 

Nas últimas décadas, em função das especificidades e aplicações, a inteligência artificial passou a ser classificada em três níveis: inteligência artificial estreita (ANI), com capacidades limitadas, associada aos assistentes virtuais inteligentes; inteligência artificial geral (AGI), associado aos algoritmos compatíveis com as habilidades humanas, e associado por exemplo, aos sistemas de processamento de linguagem natural; e a superinteligência artificial (ASI), com capacidades para além do raciocínio humano, associado aos supercomputadores.

 

 


Interação como aplicação específica da inteligência artificial na iluminação cênica. Fonte: Becoming Human: Artificial Intelligence Magazine.

 

 

Com essa premissa, e com o desenvolvimento das tecnologias computacionais, estabeleceu-se uma certa repulsa, a partir de percepções equivocadas - outras, nem tanto -, de um cenário distópico e aterrorizante para uma sociedade regida por robôs, conjuntura essa alimentada pela ficção científica diferente de uma condição na qual a vida humana por ser beneficiada com o suporte dessas tecnologias, e consequentemente, robôs. Este último não se trata de um mundo descrito pela série inglesa “Black Mirror”, por mais que essa produção tenha, criticamente, revelado possibilidades horripilantes para o uso indevido de determinadas tecnologias.

 

Especificamente para a iluminação cênica – teatral ou dos shows musicais – deve-se imaginar que, desde a criação do protocolo DMX 512, há diversos recursos disponíveis alinhados ao contexto da inteligência artificial. Desde o desenho assistido por computador (CAD), alinhamento de parâmetros, dimerização, criação de cenários, looping etc., poderiam ser elencados diversos recursos e possibilidades que não exigem mais a utilização pura e artesanal das habilidades humanas para a elaboração e execução dos projetos de iluminação cênica.

 

 


Controle como aplicação específica da inteligência artificial na iluminação cênica. Fonte: Music Star.

 

 

Se amplificado este debate sobre as aplicações da inteligência artificial na iluminação cênica, os conceitos de controle e automação nos projetos de luz dos palcos, originados na segunda metade da década de 1970 e que propiciou o desenvolvimento de consoles, softwares específicos e luminárias móveis, entre outros recursos, antecipavam as potencialidades de sincronismo e combinações que, cada vez mais, tornam-se fundamentais em projetos que prezam por versatilidade e otimização – mais um conceito possibilitado pela inteligência artificial.

 

Considerados assim os conceitos de controle e automação, os projetos se tornaram cada vez mais personalizados, uma vez que, com uma mesma configuração de luminárias (em um festival, por exemplo), pode-se apresentar resultados totalmente diferentes e singulares, induzindo uma percepção de que são estruturas distintas, quando de fato são as possibilidades de configuração, programação e exploração das características e grandezas, formas e cores, dinâmicas e procedimentos.

 

 

Obviamente, as possibilidades não param por aí. Nos últimos doze anos, a aceleração no processo de criação e tratamento de imagens – estáticas e em movimento – também acarretou impactos na indústria audiovisual. Nesse contexto, e a partir de determinadas demandas, animações e interações autônomas criadas a partir de algoritmos se tornaram mais presentes e com patamares qualitativos impressionantes. Ao mesmo tempo, formas de hibridez e sincronismo também surgiram em condições eficazes e ágeis, tornando espetáculos mais imersivos e autônomos.

 

Se em condições anteriores havia uma maior dependência na relação homem-máquina, o que se observa na atualidade se modifica sensivelmente. Determinados algoritmos são hoje capazes de converter texto em imagem, ou seja, a partir de uma descrição simples é possível que um sistema identifique uma demanda (um projeto de iluminação cênica) e, a partir de um software de programação/simulação apresente uma solução completa, a partir desse descritivo. Se antes as máquinas exigiam conhecimentos técnicos mais apurados para a obtenção de respostas mais assertivas, no atual contexto, uma descrição simples poderá propor algo com surpreendente exatidão. Basta, no entanto, que os bancos de dados disponíveis tenham sido alimentados com suficientes dados e informações para que as conexões sejam estabelecidas para relacionar esse conjunto de elementos.

 

 


Influências vintage como aplicações específicas da inteligência artificial na iluminação cênica. Fonte: Live Design Online.

 

 

Embora esse cenário seja assustador, no atual estágio de desenvolvimento da inteligência artificial, o raciocínio humano ainda é insubstituível, tal qual a sensibilidade, a manifestação de sentimentos, a produção de sentidos. Se ainda se discute o potencial criativo da inteligência artificial em diversos campos do conhecimento e da cultura, tal como nas artes digitais, ainda assim é impossível prever ou antecipar a capacidade humana de explorar as sutilezas e delicadezas dos aspectos e influências artísticas. Em outras palavras, mesmo que sejam combinadas e mapeadas todas as possibilidades artísticas a partir do que já foi produzido, a mente humana tem a potencialidade de inventar, reinventar e transformar.

 

Deve-se lembrar sempre que por trás de um conjunto de algoritmos e sistemas que relacionam dados existe também uma ou mais mentes humanas que demandam por alguma solução. A inteligência artificial é uma tecnologia, por ser um sistema ou conhecimento, que pode ser utilizada com fins qualitativos, direcionados a uma melhor eficiência nos projetos de iluminação cênica no teatro ou nos shows musicais, pensada para oferecer facilidades, experiências, interações, e outros caminhos a serem explorados.

 

Abraços e até a próxima conversa!!!

 

P.S.: Especialmente esta conversa é dedicada à minha Amada Mãe, Marli Therezinha Galhart, que nos deixou no começo deste ano. Luz das nossas vidas, brilhou em tudo; iluminada e radiante, deixa um legado de reluzente generosidade e resplandecente dedicação. Toda e qualquer homenagem é ínfima para manifestar a gratidão e amor maior e eterno por tudo o que proporcionou. Descanse em Paz na Luz Divina, Amada Mãe!

 

 

Iluminação Cênica e Inteligência Artificial: convergências e influências
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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