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COLUNISTAS

Shows Híbridos? A iluminação cênica nos cenários da pandemia

11/01/2021 - 10:03h
Atualizado em 11/01/2021 - 12:29h

Figura 1 (acima): Show no Drive-In Cinema em Düsseldorf (Alemanha) com o cantor pop alemão Tim Bendzko (15/05/2020). Fonte: Autodevot

 

Historicamente, as pandemias são registradas por cenários, desde o surgimento e expansão e as dinâmicas de desenvolvimento em condições de crescimento, linear e exponencial – de uma epidemia regional até a propagação para outras regiões e continentes – com quedas nos casos e disseminação, e potenciais/evidentes retomadas no aumento dos números, tratados como ondas.

 

Vários são os fatores que determinam essas variações (também historicamente percebidas): dificuldade ou ineficiência nas medidas de controle, inexistência de políticas públicas de contenção, negacionismo e falta de adesão às medidas básicas de prevenção e cuidados básicos, sendo esta, basicamente, identificada na população. Como reflexos, temos a persistência da pandemia por períodos longos, e como consequências, impactos em todas as áreas da sociedade.

 

No mundo dos espetáculos, vários momentos já foram percebidos nessa pandemia do Covid-19: paralisação total das atividades em todas as áreas de produção de shows (com maior tempo nesse contexto), shows com restrições (nos Drive-Ins, por exemplo), shows ‘testes’ (com participação monitorada e controlada de públicos), outros shows com distanciamento e setorização. Nesses eventos, determinados protocolos sanitários de segurança foram seguidos, e mesmo com essas premissas, a possibilidade de ocorrerem alternâncias entre momentos de abertura e fechamento ainda se torna presente.

 

Um paralelo pode ser identificado no setor da Educação. Várias são as discussões sobre as possibilidades de aplicação de alternativas, já testadas e algumas em curso, como a oferta de ensino presencial mesclado com ensino remoto. A essa modalidade de ensino dá-se a denominação de ensino híbrido.

 

Na iluminação cênica, o termo híbrido se associa a uma linguagem figurada para designar tecnologias diferentes coexistentes, ou ainda, tecnologias e sistemas que são combinadas e integradas com técnicas diversas, para exercer funções ou necessidades específicas. Contemporaneamente, as soluções que integram instrumentos e equipamentos de iluminação cênica com a conversão de padrões analógicos em digitais, ou a mescla de circuitos nesses padrões já estabelece uma relação de hibridez.

 

Mesmo em um enfoque micro (ou mais específico), luminárias convencionais como refletores PAR 64 com filtros gel controlados por consoles mais atuais já se configura em um sistema híbrido, pois contempla tecnologias emergentes e tradicionais, ao mesmo tempo em que opera parâmetros puramente elétricos e outros digitais, integrados com conversores que possibilitam a utilização de protocolos de comunicação que oferecem possibilidade de controle e utilização desses elementos distintos.

 

Figura 2: Hibridismo com tecnologias distintas no controle de Iluminação Cênica. Fonte: Asimusic

 

 

A atualização de sistemas também é um processo de hibridação que ocorre em etapas – como evolução tecnológica. A simples substituição de um sistema convencional ou mesmo obsoleto por outro mais atual não se configura em hibridez, a não ser que elementos do sistema original sejam mantidos com a inclusão de outros distintos ou mais recentes.

 

Ainda se pode também remeter o híbrido a uma outra referência, igualmente tecnológica, e que já fez parte de alguns espetáculos e shows, com a mescla de artistas reais e virtuais. A presencialidade (que será retomada no fim desta coluna) de público e banda complementada com alguma participação especial ou mesmo um show completo por meio de superprojeções 3D (como exemplo, a expectativa de uma nova turnê da banda sueca ABBA em 2020 com músicos reais – banda de apoio - e o quarteto clássico em trajes e performance realizada em 1979, através de hologramas).

 

Assim, o híbrido já faz parte do dia a dia da iluminação cênica há décadas. No entanto, são identificados outros movimentos para a oferta de shows específicos, considerando um caráter de exclusividade e comercialização em outros patamares e dimensões quantitativas incomuns ou atualmente inatingíveis.

 

 

Figura 3: Holograma de Frank Zappa para o show tributo “The Bizarre World of Frank Zappa” (Huntington, New York) (2019). Fonte: Bryan Weber/Rolling Stone

 

 

Surgem então os ‘shows híbridos’. Mesmo que esse termo não seja associado ou utilizado no momento, consideradas as características desses eventos, pode-se vincular a esse significado a ideia de mescla de show presencial e remoto/virtual. Mas não são as tecnologias que assumem um protagonismo nesse contexto, ou, ainda, não são somente as tecnologias.

 

O sentido híbrido está mais associado às premissas das aulas remotas: públicos presentes e ao mesmo tempo outros virtuais. Isso não é novidade, se considerados os shows e festivais transmitidos em plataformas digitais. O que modifica é a concepção do espetáculo nesse formato híbrido.

 

Como exemplo disso, destaca-se o show de encerramento de 2020 realizado pela banda americana Kiss. Intitulado como Kiss 2020 Goodbye. Trata-se do primeiro show da turnê de despedida da banda, programada para ser iniciada no passado, com passagem no Brasil mas, em função da pandemia, foi postergado com algumas datas já divulgadas, mas com a possibilidade de nova programação (com novas datas). Este show único foi realizado no complexo do hotel “Atlantis, The Palm” (em Dubai, Emirados Árabes Unidos) no dia 31/12/2020.

 

Figura 4: Show “Kiss 2020 Goodbye” da banda americana Kiss no hotel “Atlantis, The Palm” (em Dubai, Emirados Árabes Unidos) (31/12/2020). Fonte: Fan Pop/Rakshasa

 

 

Nesse show realizado no último dia do ano, a participação do público ocorreu de duas formas: presencialmente e com distanciamento, pela presença de público nos balcões dos apartamentos do hotel, cujo pacote de hospedagem incluía as unidades habitacionais situadas para a frente do palco, ou pela Internet, com a aquisição de ingressos adquiridos por um canal premium de streaming pelo sistema pay-per-view (que necessitava conexão de alta velocidade).

 

Apesar de ser uma apresentação com distanciamento social, foram estimados cerca de US$ 1,000,000.00 (isso mesmo, um milhão de dólares!) em pirotecnia. Trata-se da maior produção da história da banda, cujo show foi filmado com mais de 50 câmeras 4K para dar ao público uma visão de 360 graus do palco – estrutura essa superior a qualquer programa transmitido no ano passado, para aquele que foi o maior evento musical de 2020 de um único artista ou banda, podendo servir como referência ou até padrão para apresentações virtuais em um futuro bem próximo.

 

Nesse contexto, destaca-se a exclusividade desse show. A natural restrição de acesso decorrente da pandemia, como citado, pelo distanciamento social, como também pela capacidade do meio de hospedagem já criam condições de privilégio que poderão ser aplicados, em novos eventos, a um mercado muito específico e sofisticado, ao mesmo tempo em que também produzirá shows como símbolo de status.

 

Figura 5: Show “Kiss 2020 Goodbye” da banda americana Kiss no hotel “Atlantis, The Palm” (em Dubai, Emirados Árabes Unidos) (31/12/2020). Fonte: Kiss/Facebook (página da banda)

 

 

Se nesta condição esse show da banda Kiss foi o mais ‘próximo’ de uma experiência presencial (salvo os exemplos já citados no início desta coluna), surge então um novo produto, cuja estratificação de acesso, consumo e de entretenimento cultural será dirigida a poucos – pela limitação de capacidade/oferta de lugares, pelos elevados custos dos ingressos. Naturalmente, a estrutura de iluminação, efeitos e pirotecnia serão reais, únicos e dirigidos a esse novo formato – híbrido de show com apresentação para TV/Plataforma digital – e pela singularidade do evento – experiência única.

 

Nessa categoria, dadas as características citadas anteriormente e na manutenção (indesejável) da pandemia, os shows e seus componentes (o que inclui a Iluminação Cênica) serão também superlativos, únicos e atribuídos a um modo de consumo que prezará por uma nova experiência, talvez mais exclusiva, quem sabe atribuída a uma condição mais de status do que experiência estética. Para uma melhor análise e avaliação disso, novos capítulos e cenários deverão ser identificados para possíveis e prováveis conclusões. Mas isso será assunto para um novo momento, ainda este ano que agora se inicia (e que 2021 traga ótimas novidades e notícias)!

 

Abraços e até a próxima conversa!!!

Shows Híbridos? A iluminação cênica nos cenários da pandemia
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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