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COLUNISTAS

Vari-Lite: 40 anos de uma revolução nos palcos

17/09/2021 - 13:16h
Atualizado em 17/09/2021 - 14:37h

 

A dinâmica proporcionada pela iluminação cênica na atualidade, da forma como é concebida, percebida e experenciada, deve-se, em grande parte, às inovações tecnológicas decorrentes dos últimos quarenta anos. Pode-se, inclusive, afirmar que esse desenvolvimento ocorreu com o surgimento dos moving lights, que apareceram pela primeira vez nos palcos no fim de setembro de 1981. Para celebrar este fato, esta conversa será centrada em alguns detalhes da primeira turnê das Vari*Lites, luminárias que estabeleceram um novo conceito e uma estética revolucionária na iluminação cênica.

 

Com a retomada dos espetáculos, shows, festivais e turnês em decorrência do avanço da vacinação, redução dos casos de internação e flexibilização nos protocolos sanitários mesmo que a pandemia ainda não esteja controlada, em nível global - principalmente em alguns países da Europa e nos Estados Unidos - retorna também uma rotina exaustiva, mas muito satisfatória, realizada pelas equipes de produção, montagem e desmontagem dessas atrações.

 

Com orçamentos generosos, e mesmo em produções mais modestas, os palcos, nos últimos quarenta anos, passaram a incorporar, em um processo tecnológico evolutivo e irreversível, determinadas luminárias que revolucionaram os conceitos, as percepções, as dinâmicas e as interações nos espetáculos musicais: os moving lights.

 

Conforme já abordado em outra conversa sobre a gênese desse equipamento (na edição impressa 282, de maio de 2018), por meio de diferentes propostas, conceitos e resultados, o processo de idealização de luzes móveis tem sua gênese no início do século XX. Mas foi com os proprietários da empresa americana de produção de shows Showco Inc., Jack Calmes, Jack Maxson e Rusty Brutsché, que as dinâmicas de iluminação cênica atingiriam um novo patamar, ainda na década de 1970.

 

Foi em 1978 que, após diversas tentativas frustradas para um equipamento dotado de um sistema de trocas de cores, uma primeira luminária que possibilitava isso, por meio de filtros de cor dicróicos, começou a apresentar resultados satisfatórios. O objetivo inicial era habilitar rápidas trocas de cores, mas, com a adição dos mecanismos dos “Cyclops”, já utilizados pela banda americana Grand Funk Railroad, os engenheiros da Showco Inc. ousaram por experimentar outras possibilidades.

 

Importante destacar que a General Electric havia lançado naquele mesmo período uma série de lâmpadas de arco de haleto metálico, lâmpadas do modelo GE MARC 350-T16, com temperatura de cor de 5600K, capaz de, a partir de uma única luminária, produzir uma iluminância de 1500 lúmens por metro quadrado, com ótimos resultados a uma distância de 12m do objeto ou superfície iluminada. Após alguns protótipos e novas tentativas, além das mudanças de cores (com suavidade e transição), essas luminárias foram também desenvolvidas para serem multifuncionais e automatizadas, controladas isoladamente ou com agrupamento, que quando combinadas com um sistema de controle computadorizado mais abrangente e inédito (que poderia armazenar até dezesseis pistas), e por meio de dados seriais digitais, podiam ainda incorporar os princípios de Pan e Tilt de 180º em dois segundos. Surgia com isso o VL-Zero.

 

Deve-se recordar, a partir da conversa já publicada, que a primeira demonstração do produto foi para a banda inglesa Genesis em um celeiro utilizado para ensaios de som e luz da própria banda. Para surpresa geral, além da mudança de cores, a luminária ainda podia se mover. Estava realizado, com sucesso, o intento da equipe da empresa Showco: os engenheiros Jim Bornhorst e John Covington responsáveis pelo design, Brooks Taylor incumbido pelo software e Tom Walsh encarregado pelo hardware.

 

Com a premissa de utilizarem esse sistema na nova turnê da banda, que ainda estava em estúdio com a gravação de um novo álbum, que se chamaria “Abacab” (nome derivado das seções ou estruturas de uma canção: Verso – A, pré-Chorus – B e Chorus – C) a banda e seu Manager, Tony Smith (foi ele quem sugeriu o nome “Vari-Light”) fecharam um contrato para a instalação de 55 luminárias móveis na turnê mundial subsequente.

 

 


Figura 1: Moving light VL-1 e primeira mesa controladora utilizadas na turnê “Abacab”, em 1981. Fonte: PBase/Paul Pelletier.

 

 

A partir do momento em que Brutsche, empresário, e Bornhorst, engenheiro chefe, assinaram um acordo para entregar as luzes, eles tiveram um pouco mais de seis meses para construir todas as 55 luminárias e a mesa controladora, incluindo o software, idealizado do zero. Em 2 de março de 1981, Bornhorst registrou uma patente para um "sistema de iluminação controlado por computador com posição, cor, intensidade e divergência de feixe variáveis automaticamente" (patente homologada somente dois anos depois). Tratava-se do primeiro moving light da história, assim registrado, intitulado Vari-Lite Series 100, ou simplesmente VL-1.

 

Todos da empresa Showco passaram o mês de julho testando as luminárias, uma a uma, com vistas à estreia, que ocorreria no fim de setembro. Os ensaios para a turnê estavam programados para serem realizados em agosto de 1981. Quando montaram e ligaram o sistema completo pela primeira vez, o que viram foi totalmente imprevisível. Os efeitos, sincronismo e as potencialidades estéticas resultantes não tinham precedentes na iluminação de entretenimento, e os resultados ainda eram inéditos mesmo para os desenvolvedores.

 

 


Figura 2: Montagem do palco para o primeiro show – 25/09/1981 - La Monumental/Barbelona/Espanha. Fonte: Varilite.

 

 

Além do conjunto integrado, com fachos intensos e bem definidos, o sistema de cores possibilitava uma pré-seleção de sessenta cores diferentes, além de um sistema de disco misturador que permitia a combinação de cores na mesa de controle (console).

 

Originalmente, as luminárias eram todas controladas por um console de computador personalizado com processamento de protocolo proprietário (ou específico para esse sistema). O processador e as memórias ficavam instalados nas próprias luminárias e um link de dados bidirecional de alta velocidade permitia que eles atingissem um nível de sofisticação que um sistema de processamento central não poderia fornecer em grandes plataformas.

 


Figura 3: Show da turnê “Abacab” – 26/11/1981 – The Spectrum/Philadelphia (Estados Unidos). Fonte: The Genesis Movement.

 

 

Havia, inicialmente e naturalmente, uma limitação de dados para toda essa estrutura. O console principal podia armazenar até 250 pistas com tráfego de dados para até 96 luminárias. Isso era praticamente o dobro da estimativa inicial, mas requeria um aprimoramento que somente viria anos mais tarde.

 

Com essa estrutura montada, foi no dia 25 de setembro de 1981, na “Plaza de Toros” chamada “La Monumental”, em Barcelona, Espanha, que foi utilizado um sistema com luminárias Vari*Lite, revelado pela primeira vez ao público que, com certa previsibilidade, ficou atônito.

 

A turnê mundial realizada pela banda inglesa Genesis no ano de 1981, simplesmente intitulada “Abacab”, além da estreia das luminárias Vari*Lite, foi idealizada para o lançamento do álbum homônimo, lançado em 18 de setembro de 1981. Para a série de shows, a banda era formada por Phil Collins (vocais principais, bateria), Mike Rutherford (guitarras, baixo, backing vocals), Tony Banks (teclados, backing vocals), Daryl Stuermer (guitarras, baixo) e Chester Thompson (bateria e percussão).

 

 


Figura 4: Show da turnê “Abacab” – 08/10/1981 – Olympiahalle/München (Alemanha). Fonte: Varilite.

 

 

A turnê teve, ao todo, 65 shows em estádios em três etapas para a turnê, sendo a primeira na Europa (25 de setembro a 2 de novembro de 1981), a segunda na América do Norte (12 de novembro a 11 de dezembro de 1981,) e a última etapa com sete datas na Inglaterra (17 de novembro a 23 de dezembro de 1981). Em todas as etapas, eram frequentes os problemas técnicos, principalmente eletromecânicos. Era necessária uma equipe de manutenção vigilante e atuante para a reparação e substituição de equipamentos, cujas falhas eram constantes nos shows daquela primeira turnê desses novos equipamentos.

 

Três shows, no Savoy Theatre (Nova Iorque), no dia 28 de novembro de 1981, e no Nassau Coliseum, em Long Island (Nova Iorque) no dia seguinte, além de trechos dos shows realizados no National Exhibition Centre em Birmingham (Inglaterra) de 20 a 23 de dezembro daquele ano, foram registrados como integrantes do documentário "Three Sides Live Video", lançado no ano seguinte.

 

 


Figura 5: Aspecto dos moving lights da turnê “Abacab”. Fonte: Patrick Harbron.

 

 

Com essa turnê, mais que o ineditismo de uma inovação dos palcos, seria lançado um conceito que mudaria muitas das concepções cênicas em todas as áreas dos espetáculos, permitindo efeitos dinâmicos no palco que antes eram impossíveis com luminárias fixas. Nesse novo sistema, a Vari*Lite também reduziu o número de instrumentos necessários para iluminar um espetáculo, uma vez que um moving light poderia ser programada para fornecer a cobertura de até oito luminárias fixas. Embora o equipamento Vari*Lite custasse mais, a economia em mão de obra e tempo de configuração ajudou a compensar essa defasagem.

 

Com os moving lights, interações múltiplas, visuais fascinantes e caminhos inéditos surgiram e, mesmo com quarenta anos de história, ainda permitem a exploração de novas e criativas possibilidades para a iluminação cênica!!!

 

Um abraço e até a próxima conversa!!!

Vari-Lite: 40 anos de uma revolução nos palcos
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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