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COLUNISTAS

Fones Referência e Técnicas de Equalização

17/01/2023 - 16:39h
Atualizado em 18/01/2023 - 09:29h


 

Na nossa última  oportunidade, paramos a nossa análise dos processos da mixagem na equalização dos canais. (Não se trata da equalização ou o alinhamento do sistema de caixas, ok?) Aqui entra um elemento essencial à qualidade do trabalho de qualquer operador de som, chamada referência. É comum encontrarmos equipamentos como amplificadores, monitores de estúdio e fones de ouvido descritos por este termo “referência”. Mas o que ele significa? Basicamente, ele nos transmite a ideia de que estes equipamentos reproduzem os sinais que lhes são apresentados com transparência, “honestamente” sem adulterar ou contaminar o som pela introdução de colorações ou distorções permitindo que confiemos que o que eles reproduzem e nos apresentam é fiel ao sinal que receberam.

 

É importante que quem mixa tenha os seus fones de ouvido referência para usá-los quando for solar um canal ou uma mix e poder avaliar o seu trabalho sem a influência dos elementos finais da cadeia de sinal (amplificação, caixas e acústica do ambiente). Os ouvintes do nosso trabalho, na plateia ou congregação, obviamente ouvirão o som influenciado por estes últimos elementos da cadeia. Mas os ouvintes não precisam tomar decisões críticas quanto aos ajustes na mix, para corrigi-los e/ou adequá-lo a esses elementos finais como cabe a nós que mixamos. É por isto que é importante termos à mão um par de fones referência, honestos e transparentes. Eles são a ferramenta que nos permite focar com maior precisão nos ajustes. É como se estivéssemos dando um “zoom acústico” com eles, para atuar com precisão na fonte do sinal e depois ouvir o resultado no PA e ambiente.

 

Na equalização existem algumas decisões críticas em que os fones referência podem nos ajudar. Se o som de um instrumento ou voz está soando natural e não requer correções, obviamente não precisamos alterá-lo. Basta apenas aplicar no canal os filtros que deixarão passar as frequencias produzidas por ele para que o seu som fique limpo. Aqui, os fones nos ajudam a identificar os limites superior e inferior destas frequências produzidas pela voz ou instrumento, especialmente os harmônicos mais sutis que podem não ser ouvidos facilmente no som amplificado devido à acústica e ou outros sons simultâneos. 

 

Porém, além do caso ideal, acima, o mais comum é precisarmos aplicar a equalização para resolver diversas necessidades que encontramos. Estas necessidades podem pedir desde a equalização “de combate” passando pela equalização “paliativa” e, se formos abençoados, chegam na equalização artística. Estes termos não são de uso padrão, estou criando-os para facilitar a lembrança destas três áreas de correções da EQ, por isto vou definir o que quero dizer por eles.

 

Primeiramente temos a EQ de Combate. Esta é a mais simples de entender. Na passagem de som, você abre o canal e quando ele se aproxima do nível adequado na mix, surge a microfonia. Independentemente de se a microfonia surgiu por algum mal alinhamento ou mal posicionamento das caixas, em um sistema fixo, ou da interação destas com a acústica do ambiente, não vai ser o caso de você começar a fazer ajustes no sistema com a banda tocando e/ou os ouvintes presentes. Se for o caso de uma voz fraca, pode ser que aproximar o microfone da fonte sonora, adequar a inclinação do mic e/ou pedir que a pessoa projete mais a voz proporcione energia suficiente para você não precisar já começar a corrigir na EQ. Se for microfonia média-aguda em um sistema portátil, pode ser que uma alteração do ângulo das caixas, para redirecionar as reflexões, resolva sem ter que cortar frequencias inocentes. Mas como, muitas vezes, a passagem de som é feita às pressas, você acaba aplicando lá na consoles a EQ de Combate, identificando a frequência ou frequências que estão gerando a realimentação acústica entre as caixas, acústica e o transdutor (microfone ou captador de instrumento) que a capta, para cortá-las e eliminar a realimentação. Se isto é feito em meio à passagem de som, com os outros elementos da banda tocando e cantando, você, obviamente, irá querer isolar apenas o som do canal afetado usando os fones de referência para aplicar o filtro com precisão para cortar apenas a frequência que realimenta e não retirar frequências “inocentes” do som da voz ou instrumento.

 

Em segundo lugar, temos a EQ Paliativa. Por definição, paliativo significa acalmar ou abrandar temporariamente um mal, sendo geralmente usado em contextos da saúde. Porém, no caso da EQ Paliativa, acabamos fazendo algo bastante semelhante.  Digamos que o violão que você irá mixar tenha uma sobra imensa de médios graves, ou que a guitarra tenha tantos médios-agudos que ela dói nos ouvidos. Você não vai conseguir trocar o captador do instrumento, nem o amplificador, ficar ajustando a posição do mic no amplificador demora e pode não dar resultado, e boa sorte se for tentar pedir para o músico alterar o tom do instrumento dele – que pode até estar legal nos fones de retorno. Então você aplica a EQ Paliativa, que não vai resolver o timbre produzido por um captador barato, mas vai limpar os excessos de frequencias que sobram na mix, proporcionando clareza e evitando sobrepor e embolar elementos importantes como as vozes, por exemplo. Aqui, novamente os fones se tornam importantes para que em meio à passagem de som você consiga identificar a frequência principal e largura do filtro que aplicará para não cortar desnecessariamente as frequencias “inocentes”.

 

Em terceiro lugar, temos a EQ Artística, quem nos dera que Deus nos abençoasse a ponto de precisarmos apenas trabalhar com esta! Deixei esta por último, porque se as outras forem necessárias, elas terão prioridade na qualidade da sua mix. Porém, se você não precisou usá-las ou conseguiu aplicá-las e ainda tem tempo de trabalhar com esta, é nela que você pode levar a qualidade da sua mix para um nível superior. Quem segue essas minhas reflexões já me ouviu dizer que a diferença entre um trabalho, uma mix, regular e uma de excelência, se revela por meio dos detalhes. Pois é na EQ Artística que iremos atuar nestes detalhes. Às vezes esta EQ pode dar um ganho de qualidade incrível que transforma o som do que você está ajustando para algo maravilhoso. Porém é mais comum que seja apenas um ganho sutil, talvez nem muito ouvido pelos ouvintes presenciais, mas importante para as gravações e o público de streaming bastante comum desde a pandemia. Novamente serão os seus fones que lhe permitirão avaliar estas nuances da EQ Artística.

 

Um exemplo desta EQ Artística é quando uma voz ou instrumento não está aparecendo bem entre os outros componentes da mix, mas se você subir um pouquinho o fader do canal, fica muito alto. Neste caso, um reforço de frequências específicas daquele canal pode fazer o seu som aparecer ou “chegar junto” sem ficar alto demais. Vale comentar que, enquanto nas outras duas EQs, usamos apenas cortar o nível nos filtros, nesta podemos reforçar frequencias. Aqui é preciso comentar dois aspectos. Primeiramente, os reforços são acréscimos eletrônicos e, portanto, a rigor, não serão fiéis ao timbre original da fonte sonora. Mas se o canal não aprece na mix, é preferível fazê-los do que deixar o instrumento ou voz sem clareza.  E segundo, porém importante, é que esta EQ Artística deve ser feita após a estrutura de ganho dos canais estar bem ajustada, pois ela dificilmente conseguirá corrigir desníveis de ganho entre os canais. E normalmente, ela deve ser aplicada com moderação, assim como adicionamos um tempero numa receita; até porque fortes reforços de frequências podem gerar microfonia, ressonâncias e até serem prejudiciais aos drivers e falantes das caixas e fones. Por outro lado, é preciso relembrar que no nome desta EQ temos a palavra “artística”, e o que é chamado de arte nunca foi algo tão subjetivo quanto nesses tempos em que vivemos. Portanto, se um reforço mais forte for útil em um canal ou outro para ajudar a transmitir a linguagem da banda, e ele não colocar os componentes do sistema em risco, aplique-o.

 

Nessa questão de arte subjetiva, vem à mente  o caso de uma banda bastante famosa que insistiu com o engenheiro de PA que queria que o seu som parecesse o som de um rádio AM. O engenheiro imediatamente disse que ele não seria o cara indicado para mixar aquela turnê. Ele ficou triste por não poder agregar aquela banda top ao seu expressivo currículo, mas foi honesto com a sua consciência e indicou um colega que aceitou o desafio e foi contratado pela banda. Mais tarde, quando ligou para o colega para saber como estava indo, ele lhe confidenciou que para tomar decisões sobre como equalizar o som da banda ele estava escutando as gravações no falantinho do celular... A arte é de fato subjetiva!

 

 

 

 

 

Os recursos visuais nas consoles digitais têm facilitado bastante o trabalho com a EQ. Estes recursos podem ser ferramentas valiosíssimas na identificação de frequências, porém, qualquer ferramenta pode ser mal-usada. No caso do nosso trabalho com o som, é imprescindível lembrar de trabalhar com os ouvidos e não apenas com os olhos. Já ouvi depoimentos de engenheiros de som de primeiríssima linha sobre como confiarmos apenas no visual pode nos levar a errar. Então a minha recomendação é que se você tem o recurso visual de uma mesa digital, use-o para confirmar aquilo que o seu sistema auditivo já deve estar lhe indicando. Por exemplo, se você deseja eliminar uma microfonia, o seu sistema auditivo deve lhe informar que ela ocorre por volta de 2kHz. Então, você olha na tela da sua mesa digital e vê que tem um pico de energia em 2.375 Hz. Os seus ouvidos podem não ter toda a resolução precisa até as dezenas e unidades de Hertz, mas devem poder lhe indicar que é neste pico que você precisa trabalhar e não em um pico de energia igual ou, talvez superior, que um instrumento está produzindo mais embaixo, digamos em 900 Hz.

 

Na próxima oportunidade, voltarei dando sequência neste tema importante.

Até lá!

Fones Referência e Técnicas de Equalização
David Distler

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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