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COLUNISTAS

Cartas Portuguesas 8: visitas brasileiras, lembranças cariocas e canções francesas

13/05/2022 - 08:53h
Atualizado em 13/05/2022 - 12:44h



Arte: Pikisuperstar / Freepik 

 

Falei por telefone com meu ex-cunhado e sempre amigo Ricardo Villas, cantor e compositor, que conheci nas priscas eras em que ele integrava com Zé Rodrix, David Tygel e Maurício Maestro, o grupo vocal Momento Quatro, embrião do futuro Boca Livre. Ricardo está aqui em Portugal em visita a dois de seus filhos, e nosso agradável papo fez-nos lembrar, entre risadas, de uma história que me acontecera no Rio em finais da década de 70, quando ele pediu-me para ciceronear Claude Nougaro, cantor francês em plena ascensão que participara em uma faixa do seu mais recente disco. Nougaro não queria luxos ou badalações, preferia o “vrai Riô”, como dizia. Simpático e acessível, fiz com ele uma rápida amizade e partimos pela noite, não me lembro por quantas, visto que levamos ao pé da letra a urgência de degustar e entornar Ipanema e Leblon nas breves horas em que Nougaro ficaria na cidade.

 

 

Numa dessas noites ele quis ir ao Antonio's, antro chique da intelligentsia fincado numa polêmica invasão de calçada na esquina de Bartolomeu Mitre com Ataulfo de Paiva, onde Claude tinha esperanças – não realizadas - de cruzar com Tom Jobim. A espera por Tom revelou-se inútil e acabamos resolvendo fechar a noite no Baixo Leblon. Saímos a pé pela Ataulfo e quando passávamos pela porta do 406 - badalado piano-bar que acumulava canjas das figuras musicais estrangeiras de passagem – Nougaro parou de súbito, olhando um grupo que conversava na porta. Sem mais nem menos, dirigiu-se a um dos integrantes e cutucou-o de leve pelas costas. O homem voltou-se para ele , exclamou alguma coisa em francês e os dois se abraçaram efusivamente. Já um pouco cansado pela mal sucedida vigília etílica Jobiniana, fiquei a princípio um pouco à parte, mas logo Nougaro chamou-me para junto deles e apresentou-me ao homem e à sua bela acompanhante, enchendo minha bola e dizendo que eu era "um talentoso cantor e compositor", etc.,  etc.. Conversamos todos animadamente durante uns vinte minutos e depois de fartas despedidas e abraços, continuamos para o Diagonal. Sentamos lá,  pedimos chopes e eu comentei:

 

 

- Simpáticos, seus amigos franceses.

 Nougaro apertou minha mão em cima da mesa e quase contrito, falou:

- Ele é meu ídolo e minha inspiração.

- Ah, sim, seu amigo... – respondi, impressionado por sua visível emoção. Continuei, agora curioso:

- Esses encontros com amigos em outros países são mesmo de emocionar. Mas... quem é esse cara? é músico também, não é, ele falou muito de música...

Nougaro olhou-me. perplexo:

- Tu rigoles! (Você deve estar brincando!)

            Como eu fizesse uma cara de evidente ignorância, ele abriu os braços, em espanto total:

- Mais c’etait Aznavour! Charles Aznavour!

 

 

Foi minha vez de cair de costas. Aznavour era um nome mundialmente famoso, sucesso ininterrupto por décadas de música francesa e dono de um inconfundível perfil esculpido em charmosa feiura, que – na escuridão daquele pedaço da rua e no inesperado do fortuito encontro - eu não reconhecera.

 

 

Nougaro sequer me olhou durante uns bons minutos. Devia estar bastante decepcionado, achando que eu não saboreara devidamente o encontro por sequer ter uma exata noção da grandeza de seu ídolo. Quebrei o incômodo silêncio e tentei consertar:

 

 

- Claro que eu sei quem é o Aznavour! Mas pense bem, como eu poderia reconhece-lo naquela escuridão?!

            Foi a senha para que ele se virasse para mim e - depois de apenas sorrir, a princípio, acabasse por desatar em sonora gargalhada:

- Louis, você é inacreditável! conversou com Aznavour, abraçou Aznavour e nem sabia com quem estava falando!

            E rimos ainda por mais uma boa dúzia de chopes...

 

 

            Beijos e salut les copains, Claude & Charles, que estão cantando na Banda do Céu.Quem sabe ainda dando boas risadas ao lembrar dessa nuit a Riôe daquele músico carioca que conversou meia hora com Charles sem saber que ele era...o Aznavour!

 

 

*Para conhecer melhor os personagens desta história, acesse:

@aznavourofficial

@aznavourfoundation

#claudenougaro

@claudenougaro

 

Cartas Portuguesas 8: visitas brasileiras, lembranças cariocas e canções francesas
Luiz Carlos Sá

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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