Anuncio topo
COLUNISTAS

Discos da minha vida: Antenas

22/05/2020 - 17:10h
Atualizado em 22/05/2020 - 20:03h

Como os leitores habituais da coluna já sabem, venho contando em sequência a história dos discos da minha carreira. Depois de Passado, Presente, Futuro e do Terra - ambos do trio Sá, Rodrix & Guarabyra - e dos nove primeiros da dupla, chego ao décimo de Sá & Guarabyra, o... Antenas

 

Que, aliás, não se chamava assim. Chamava-se simplesmente Sá & Guarabyra. Mas para mim ele sempre se chamou Antenas. Do nome que eu queria, sobrou apenas a ilustração de uma parabólica no encarte. Acho ruim esse negócio de disco ter o nome do artista por título. Mas enfim, perdi a parada e saiu o Sá & Guarabyra, dois anos depois do Vamos por Aí, que fora embalado pelo sucesso das músicas da trilha do Pantanal. A gravadora Eldorado, com Antônio Carlos Duncan na direção artística, deu todo apoio aos nossos sonhos de mudança: mudamos de banda, de rumo e de músicas. Pra começar, fomos nos concentrar numa pousada familiar que Guarabyra descobrira em suas andanças mineiras. O Pouso de Minas Gerais ficava a mais ou menos quinze quilômetros de Barbacena, tocado pelo seu Agostinho e sua simpaticíssima família. Jamais me esquecerei daquele salpicão de frango! Alugamos três apartamentos, um para mim, outro pro Guarabyra e o terceiro pra trabalhar. Como não tínhamos nada pronto, as músicas saíram ali mesmo, ao longo de quase dois meses de um “brainstorm” apenas interrompido para passeios ciclísticos por perto e uma meia dúzia de noitadas “de alívio” em Barbacena, porque ninguém é de ferro, né não? Tomamos bons vinhos, comemos a excelente comida mineira do Cozinha de Minas, do Antonio (que hoje pilota o Mandalun, em Tiradentes) e fizemos dezenas de novos amigos. Astral melhor não poderia haver.


Antenas tem um dos melhores sons de disco que já ouvi. Todos os instrumentos aparecem, o som das vozes e dos violões é exemplar e a mixagem do Hamilton “Micca” Griecco uma verdadeira lição de áudio. Honra também ao som do Mosh, que já então era o state of the art dos estúdios brasucas. Rolaram uns tecladeados de época, é verdade, mas estávamos em 1993 e era assim que as coisas aconteciam. Para completar, nossos amigos estavam todos presentes: matamos as saudades de Zé Rodrix – que arranjou Duas Vezes Dez e Maria Terra e Zé Homem, além de participar do apoio vocal de várias outras faixas – e Rogério Duprat, que saiu da aposentadoria por ele dita “irreversível” para orquestrar lindamente a Piracema. Além deles tivemos também de volta os arranjos de Paulinho Calazans e Ruriá Duprat, fora a inauguração de uma parceria pessoal e musical com o talentosíssimo Roberto Lazzarini, que acabou caindo na estrada com a gente por um bom tempo, como arranjador e tecladista. Não satisfeitos, quisemos também ter de novo na capa as fotos de Miguel Rio Branco, então já internacionalmente consagrado, que trabalhara conosco no Terra (Sá, Rodrix & Guarabyra) e no Nunca, o primeiro da dupla. Miguel fez dois pequenos “portraits” nossos que usamos como uma espécie de 3 x 4 na contracapa e cedeu duas fotos suas que tinham tudo a ver conosco: uma, da rua do “Vietnã” - zona dos prostíbulos de Bom Jesus da Lapa, cidade onde Guarabyra cresceu, serviu de capa. E a outra, na contracapa, mostra a turbina de um avião Electra II - Ícone máximo da ponte aérea Rio – São Paulo - em meio à névoa. Parte integrante e indispensável de nossas vidas, o Electra figura ali também como um símbolo das nossas eternas idas e vindas entre as duas cidades.


Então! Super banda, grandes arranjadores, paz para a criação, o melhor estúdio, fantástica equipe técnica, design de primeira... o que poderia dar errado? Tudo.


O Sá & Guarabyra, ou Antenas – como quero eu – passou em brancas nuvens pela fonografia nacional. Posso contar nos dedos as vezes que ouvi suas faixas no rádio. Ao contrário do seu predecessor da mesma gravadora, o Vamos por Aí, que voltou ao mercado em diversas épocas, ele jamais foi relançado. Se você não for um especialista em Sá & Guarabyra, vai pensar que esta crônica é uma ficção e eu estou viajando, achando que gravei um disco que na realidade nunca existiu...


Reouvindo o CD ao mesmo tempo em que escrevo, acho que o Antenas talvez seja o nosso disco mais injustiçado. Mas de repente surge diante de mim o que poderíamos chamar de “síndrome da perfeição”. Ele é muito certinho, muito exato, bem construído demais pra ser a cara do que a dupla vinha sendo até então. Talvez o nosso público da época não estivesse preparado para nos ver como aparecemos nesse CD. Talvez tenham sentido falta da nossa “bagunça arrumada”, daquele dom de improviso que sempre acompanhara nossa carreira até ali, daquele fator surpresa que sempre conseguíramos inserir em nosso trabalho. Ou talvez ainda tenha influenciado nisso tudo o fato de que a Eldorado estava numa fase de “vai não vai”, investindo na qualidade, mas distanciada da realidade do mercado. Mesmo que a gravadora dispusesse de espaço nas rádios do grupo Estado de São Paulo, do qual fazia parte, ela não tinha poder suficiente para forçar uma barra e pôr pra tocar todos os seus produtos. Circunscrita ao estado paulista, o simples fato de ter uma rádio e um jornal poderosos não bastaria para fazer acontecer um disco como esse nosso a nível nacional.


Nada disso me distancia do prazer de reouvir o Antenas. Ele tem seus bons e maus momentos, mas acho que os bons superam os maus por uma boa margem. Se ele estivesse disponível no mercado eu diria para você ouvi-lo com cuidado, por várias vezes seguidas, até que você nos pudesse enxergar andando de bicicleta naquela estrada remota do interior mineiro, entre Barbacena e algum outro lugar onde conseguíssemos chegar antes do anoitecer.

 

Discos da minha vida: Antenas
Luiz Carlos Sá

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Escreva sua opinião abaixo*