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COLUNISTAS

Discos da minha vida: Outra vez na estrada - Ao Vivo

04/06/2020 - 17:45h
Atualizado em 04/06/2020 - 17:45h

 

Como os leitores habituais da coluna já sabem, venho contando em sequência a história dos discos da minha carreira. Depois de dois discos de Sá, Rodrix & Guarabyra e mais treze de Sá & Guarabyra – número místico! – chegamos ao século XXI. E aí a história se refez... SÁ, RODRIX & GUARABYRA - OUTRA VEZ NA ESTRADA

 

Ao começar esta crônica o que me vem à cabeça? O eterno título do nunca escrito livro de Snoopy nos quadrinhos de Charlie Brown: “era uma noite escura e silenciosa...”. Mas era mesmo uma noite escura e silenciosa daquele último ano do século XX – ou primeiro do XXI, como queiram – quando meu telefone tocou. Do outro lado, Marisinha Menezes, produtora do Rock’n’Rio, que como de hábito foi direta ao assunto:


- Sá, neste Rock’n’Rio queremos fazer uma homenagem ao Rock Rural. Vocês topam?
Confesso que a princípio pensei em fazer aquele sebinho de artista, tipo: “Quando? Onde? Quanto?”. Mas o Rock’n’Rio era – e ainda é – uma janela poderosa para qualquer um, de Foo Fighters da vida a Mané Qualquer Coisa. Então tudo o que eu consegui falar foi um “ok” que tentava ser menos entusiasmado do que realmente era, já que no meu íntimo eu vibrava pensando nas possibilidades que aquele convite nos abria. Por exemplo, eu e Guarabyra – superado o receio de se abrirem antigas feridas e ressuscitarem velhos ressentimentos - já vínhamos há algum tempo “namorando” seriamente a volta de Zé Rodrix e a retomada da trajetória do Sá, Rodrix & Guarabyra. Então, a primeira coisa que passou por nossa cabeça foi chamar o Zé. Isso, aliás, com toda a justiça, pois o chamado “rock rural” nascera da conjuminação de nossas três cabeças. Ligamos então pra ele, que triplicou nosso entusiasmo e publicou seu “estou dentro” nas áreas aleatórias dos então inexistentes i-clouds.

 


Voei pra Sampa direto pra casa-no-campo-na-cidade do Zé, uma bela mansão Pacaembística com direito a piscina, passarinhos matinais e coisa e tal. Lá começamos nós três a bolar a ressurreição do rock rural: de onde viemos? Pra onde iríamos? O que faríamos? Repetir o já feito era tão necessário quanto útil, mas queríamos algo mais, alguma coisa que mostrasse que continuávamos atuantes como trio. Resolvemos então reconstruir nossa trajetória com um mix de já feitos e inéditos. Resolvido isso, passamos à prática e nos reunimos diariamente por uns quinze dias na casa do Zé, compondo, tocando e cantando. No fim selecionamos cinco inéditas para juntar aos hits que obrigatóriamente  cantaríamos no show do Rock’n’Rio: Outra Vez na Estrada, No Tempo dos Nossos Sonhos, Aqui se Faz, Aqui se Paga, Jesus Numa Moto e Criador e Criatura. Para a gig, partilhamos músicos que já viajavam conosco com outros que eram da confiança do Zé. Isso resultou numa brilhante formação: Webster Santos (guitarra), Pedrão Baldanza (baixo), Pepa D’Elia (bateria), Thiago Costa (teclados), Eduardo Gomes e Cassio Poletto (violinos MIDI), Tostão Cunha (percussão), Jairzinho Teixeira (saxes e flauta), Lucimar Peres (trombone), Rubinho Antunes (trumpete/ flugelhorn). Para uma nova fase musical, nada melhor que um novo instrumento e lá fui eu Teodoro Sampaio (a rua da música em Sampa) afora atrás de um outro violão. Depois de experimentar uma boa dúzia de violões, apaixonei-me por um Gibson Montana Blues King. A cor não me agradou muito, uma madeira clara country demais pro meu gosto, mas a pegada dele era incomparável. Apesar de perfeito, era visível que já tinha sido usado, mas não liguei nem um pouco pra isso: ele parecia ter sido feito pra mim.


Enfim, chegou o Dia D, 13 de janeiro de 2000. Depois de três curtos dias de ensaios com a leitura dos arranjos do Zé, rumamos pro Rio, pra Barra, pro Rock’n’Rio - ele mesmo. Apesar do curto cronograma de ensaios, nos sentíamos bastante seguros: sabíamos o que queríamos, do que precisávamos e até onde podíamos ir. Melhor que tudo, estávamos absolutamente seguros do nosso potencial.


Embora estivéssemos na Tenda Brasil, na lateral do palco principal, podíamos descortinar dali todo o terreno. Era um mar de gente à nossa esquerda, esperando pelas atrações internacionais. Começamos a nos arrumar no palco. A princípio aquilo tudo me pareceu meio improvisado, mas à medida em que íamos nos ajustando ao espaço, as coisas começaram a fazer sentido. De repente eu me vi diante do Sennheiser que eu havia pedido e à esquerda do Roland acústico que me era necessário. Perceber o profissionalismo do setup me tranquilizou. Zé contou um, dois, três, e de repente eu já começava a cantar: apesar das minhas roupas rasgadas/ eu acredito que vá conseguir/ uma carona que me leve pelo menos à cidade mais próxima...”. Não se passaram duas estrofes antes de eu perceber que havia um mar de gente migrando do palco principal – onde nada estava acontecendo – para a frente da nossa comparativamente modesta Tenda Brasil. E aí fizemos um show para não sei quantas milhares de pessoas, que – para meu espanto – cantaram junto com a gente a maioria das músicas que tocamos.


Saímos daquele palco em estado de graça. De volta ao nosso camarim – container, encontramos com a cúpula da Som Livre e ali mesmo combinamos a assinatura do contrato para um CD/DVD baseado naquele show. Em junho de 2001 subimos ao palco do Teatro Mars, em São Paulo, e gravamos o DVD com a mesma formação e o mesmo repertório que haviam sido apresentados no Rock’n’Rio. Dali partimos pros Canecões e que tais da vida, felizes de novo em trio. O Zé então era só sorrisos, caindo na estrada depois de uns bons vinte anos de engessamento publicitário. Não havia uma só entrevista em que ele não dissesse em alto e bom som que se arrependia de ter saído em 1973, depois da gravação do Terra para seguir uma carreira solo, na qual aliás alcançou grande sucesso popular, mas - segundo ele mesmo - pouca satisfação musical. E lá estávamos nós enfim Outra Vez na Estrada com o CD/DVD que traria de volta, depois de 26 anos de separação, o trio Sá, Rodrix & Guarabyra. Era o nosso sonho revivido.

 

 

 

Discos da minha vida: Outra vez na estrada - Ao Vivo
Luiz Carlos Sá

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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