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COLUNISTAS

A Marca da Zorra: Minha vida no stage, antes e depois de Rita Lee

09/05/2023 - 23:38h
Atualizado em 10/05/2023 - 01:37h


 

São Paulo, 9 de Maio de 2023... Um dia extremamente difícil pra escrever uma coluna, mas a vida nos reserva surpresas frente aos nossos sonhos, e ser Engenheiro de Monitor da Rita foi um dos maiores. Portanto, vou tentar traduzir, na mais alta vibe, o que foi essa fase, com um respeito e gratidão que não cabem no coração!

 

 

Um belo dia pinta um telefonema do Wander Taffo em casa: “Farat, o que você ta fazendo agora, quer fazer a tour da Rita?…” (risos). Bem eu, que tomei muita chuva na Av. Brigadeiro Luis Antônio pra comprar ingresso pro “Babilônia”, que tenho todos os LPs de vinil da Rita… Fechei no ato, sem saber o que ia rolar de agenda, banda, quanto tempo seria, etc. Olha, não me arrependo nem um pouco… A palavra “festa” tem dois significados: um antes e outro depois da Rita.    

 


 

Esse show foi bárbaro, era rock and roll total, todas as músicas da minha delinqüência juvenil no set list, mulher pelada no palco (miss Brasil 2000), levitação, um helicóptero rádio controlado voando por cima da banda e muitas outras loucuras reunidas em um só palco, na batuta do “maestro da produção” Leonardo Neto. Sem contar que o primeiro passo dessa tour foi abrir os Rolling Stones na “Voodoo Lounge”, primeira visita da banda ao Brasil, pra depois partir por todo o país com a Zorra (que está registrado no disco ao vivo no Canecão). A banda era formada por Paulo Zinner, Lee Marcucci, Ronaldo Paschoa, Fabinho Recco e Roberto de Carvalho. Mais pra frente na coluna vou falar sobre o operacional do show, que vale a pena.

 

 

Uma coisa marcou muito nessa tour; o profissionalismo do Roberto. Eu, que era um desses ridículos radicais órfãos do Tutti Frutti, conheci um dos caras mais profissionais do rock nacional. A concepção de arranjos do Roberto é impressionante e facilitou muito o trabalho da técnica nessa tour (obrigado “de Carvalho”, aprendi muito contigo nessa empreitada… rs). Nos tempos atuais, nos quais existem alguns artistas que nem falam com seus técnicos, eu posso encher o peito pra falar que já fui engenheiro de monitor da Rita, e compartilhei por esse tempo a cumplicidade Rita & Roberto, o que foi outra aula… Uma Artista com “A”, que não tinha “corte”, tinha uma “família” dedicada e focada no que ela representava pro Rock Brasil. Eu acho que o mesmo acontece com a galera da técnica envolvida na Zorra; O Silvinho, o Bellini, o Adriano Colono, o Oswaldo, o Labak, o Baldinato… Salve Sta. Rita de Sampa…

 

 

Rita foi festa, foi alegria explícita, foi respeito extremo com o crew, foi uma profissional sem tamanho, talvez nem sabendo o quanto fez parte e modificou nossas vidas. Dar um play em Atrás do Porto ou Fruto Proibido, lá no começo, já era uma flecha direta no coração dos amantes do Rock Brasil. Estava se desenhando uma carreira sólida e apaixonante. Quando fiquei cara a cara com ela pela primeira vez, tremi nas pernas, fiquei gago, mas disfarcei e fui em frente na oportunidade inacreditável que me foi oferecida de estar no Paraíso, no “Universo Paralelo Santa Rita de Sampa”!!!.

 

 

O monitor, menos importante na coluna de hoje, mas vou descrever…

 

Como seria a primeira vez que trabalharíamos juntos e eu não sabia como a Rita e a banda gostavam de mixar os monitores, praticamente começamos do “zero”. Escolhemos a Ramsa 840, gráficos Klark Teknik e monitores Clair Bros., um kit básico mas de muita responsa! Falei pro Roberto de Carvalho que faria uma sugestão para começar e com o andamento dos ensaios iríamos modificando a mix e a posição dos monitores de acordo com a necessidade (detalhe: a primeira montagem foi a que valeu pra toda a tour!).

 

 

 

 

A via da Rita era composta por oito monitores em linha reta na frente do palco, divididas em duas mixes: as quatro centrais em uma e as duas restantes em cada ponta em outra, pois com a proximidade do side elas trabalhavam bem mais baixas que as centrais. Duas caixas na mix do Roberto, duas nos teclados e uma para cada um nas vias da guitarra e do baixo. Na bateria utilizamos apenas uma Clair sobre o sub trabalhando bem próximo ao Paulo Zinner, nos dando muito rendimento com pouco volume. Uma última via com quatro caixas espalhadas pelas passarelas e escadaria resolveu todos os pontos do stage (era muito fácil correr atrás da galera nas mixes, pois absolutamente todos os pontos do palco estavam cobertos). Na mix do side tinha bateria, baixo, teclados, vozes e as guitarras cruzadas; na mix da Rita basicamente voz, bateria e teclados (as guitarras e baixo ficavam só por conta dos amplificadores). Um detalhe legal desse monitor foi conseguirmos trabalhar com um grave infernal na bateria do Zinner apenas na área ocupada pela batera, no resto do palco a bateria era mixada muito seca e apenas o necessário para dar o beat pra banda (lembrem-se daquela bateria do Paulo que era igual a do Ian Paice, com bumbo de 26, etc…). A coisa mais trabalhosa mesmo desse show era o head set da Rita que ela utilizava quase o tempo todo, por isso optei por um equalizador no insert desse canal.

 

 

 

Os únicos momentos de stress absoluto no monitor desse show eram a decolagem e pouso do helicóptero rádio controlado que voava pelo palco e quando a Valéria “Miss Brasil 2000” entrava em cena, nos 90 segundos mais esperados do rock nacional naquele ano, principalmente pra quem estava nas primeiras filas…rs.

 

 

Inesquecível tour, inesquecível Artista, inesquecível pessoa!!! Vou ficando por aqui, com as suas melhores imagens na memória. Muito obrigado por tudo...

 

 

Que o CARA lá de cima te receba com todas as honras, e que teus novos caminhos sejam de Luz e Serenidade, pois vc fez um monte de gente feliz!!!

 

 

 

Um enorme e infinito beijo desse teu fã e amigo!!!

 

Love You!!!

A Marca da Zorra: Minha vida no stage, antes e depois de Rita Lee
Paulo Farat

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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