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COLUNISTAS

Estúdio, a menina dos olhos (da cara)!

13/07/2021 - 10:33h
Atualizado em 13/07/2021 - 16:42h


 

Fotos: Divulgação / Freepik.com (Pvproductions, Wavebreakmedia_micro, Senivpetro)

 

 

Se você tem, teve ou sente que terá o tão famoso sonho de ser dono do seu próprio estúdio, esse artigo vai te mostrar algumas alegrias e desilusões desse sonho dourado.

 

 

 Quando recebo os alunos para a primeira aula da disciplina de Consoles Analógicos e Digitais, a primeiríssima pergunta que sempre fiz aos alunos era: Quem aqui quer ter um estúdio de áudio? Atualmente fico surpreso com o diminuto número de alunos que levantam a mão, mas num passado não tão distante, quase sempre mais da metade da turma levantavam a mão.

 

 

 

O que será que mudou?

 

Até tenho um palpite que vou dizer no momento correto. Logo em seguida, a próxima pergunta era: Por que você quer ter um estúdio?  Ao longo dos anos eu percebi que o motivo é em geral o mesmo.  O aluno vê no estúdio o passaporte para o mudo fonográfico, ou então o famoso “viver de música”.

 

 

É engraçado que hoje, depois de mais de vinte anos envolvido com isso, quando penso em pessoas trabalhando e vivendo confortavelmente do mercado fonográfico, raramente elas estão num estúdio. Na grande maioria elas estão na frente de um laptop, participando de reuniões de suas salas confortáveis em condomínios de luxo.  O estúdio que outro momento era o templo sagrado onde a mágica acontecia, foi perdendo espaço para fragmentos diluídos em “proto estúdios” ou ainda em escritórios de negócios. Além disso, grande parte da música pop hoje em dia precisa mesmo de um beat maker e um bom microfone para gravar as vozes.

 

 

Mas o que aconteceu com aquela moçada alucinada para ter seu próprio estúdio, qual o motivo deles estarem diminuindo? Meu palpite tem a ver com a própria percepção da juventude com o fazer musical. Na minha juventude e nas gerações anteriores, não havia a possibilidade de fazer música sem uma bateria, um baixo e uma guitarra, no mínimo. Fazer música exigia ter uma banda, e sonhar com o sucesso dela, de preferência como rock stars. Mas isso foi acabando, a venda de instrumentos desmoronou nos últimos anos, a busca por aulas de canto e cursos de DJs tomou esse espaço para uma juventude que sabe fazer música programando computadores. Longe de mim criticar, até porque já passamos por isso nos anos 80, fato é que ter um estúdio para gravar seus projetos musicais ou viver de música já não é tão atraente para os mais jovens.

 

 

 

Está disposto a gastar?

 

Mas voltemos ao sonho dourado do estúdio próprio. Quando faço a primeira introdução dos recursos de um estúdio e a função primordial dele dentro da cadeia fonográfica uma coisa fica clara, é uma ferramenta cara. Em geral faço uma analogia com os dentistas. Pergunto: “quanto vcs acham que custa ter o próprio consultório odontológico?” “400 a 500 mil reais?” Um estúdio de pequeno a médio porte vai custar o mesmo! Pronto, acabei com o sonho deles. Me pergunto: por que eles acham que um estúdio seria barato? Claro que eu tenho outro palpite. A democratização trazida pelo Pro Tools. Quando a digidesign chegou ao Brasil com a interface Digi 001, por volta de 1997 ela já custava cerca de mil dólares e não resolvia nem metade dos problemas de quem tinha somente um PC 486 como computador. Além disso, o software Pro Tools era dedicado à interface e não era possível a pirataria. Nessa época, nós mortais, filhos do proletariado, sonhávamos com o dia que seria possível ter um porta estúdio Tascan quatro canais. Ou seja, ter um estúdio era caro ontem, é caro hoje e será caro amanhã, pois ele é uma ferramenta especializada para a produção de música, e isso custa caro.

 

 

Então como nossa função como professores é reconstruir a percepção do aluno depois do choque de realidade, eu começo a abordar, quase como um terapeuta, a busca pelo sonho e como separar o delírio, o real e o pesadelo futuro.

 

 

 

 

 

Para quê ter um estúdio?

           

Essa é a pergunta inicial básica que vai afastar metade do delírio sobre o que é ter um estúdio.  Pergunto: “Você será feliz sendo dono do estúdio e gravando de tudo, de sertanejo a propaganda política?” Essa pergunta filtra uma boa parte das pessoas que acredita que por algum acaso do destino na sua porta só vai aparecer bons músicos e futuros sucessos. Mas a realidade é outra, para se manter, os estúdios produzem uma quantidade enorme de “lixo fonográfico”. Lixo no sentido de descartáveis, algo que não tem propósito artístico e que na maioria das vezes será para fins publicitários. Imaginem um chefe de cozinha francesa preparando o menu de um restaurante por kilo. É isso na maioria das vezes. Outras vezes o aluno responde a pergunta assim: “quero ter um estúdio para produzir meu som”. Eu acho isso ótimo, acho que é uma ótima diretriz e que limita o seu estúdio ao tamanho do seu projeto. Ainda assim, se eu projeto musical precisa de bateria e guitarra, pode preparar o bolso pois vai ficar caro em todos os sentidos. Além dos equipamentos de áudio, tem o isolamento e tratamento acústico, monitores de referência e mais um tanto de microfones e cabos.

 

 

 

 

 

O produtor sem estúdio

 

Essa categoria de produtores é sem dúvida a que tem menos dores de cabeça e tem sua vida financeira muito saudável. Não são poucos produtores que nunca tiveram seu próprio estúdio. Em uma palestra na FATEC, o famoso produtor Alê Siqueira, conhecido principalmente pelo seu trabalho com Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Tribalistas, disse com todas as letras: “Eu so tenho um mac e um bom fone!”. Disse que sempre trabalhou locando estúdios quando necessário ou então produzindo com coisas emprestadas ou utilizando uma gravação em estúdio misturada com gravações domésticas. Claro que foi um choque para os alunos, mas como eu to aqui para explicar, resolvi fazer uma série de 4 matérias para orientar os incautos na aventura de ter um estúdio próprio, ou abandonar sem remorso esse sonho nada dourado. Até a próxima.

 

 

 

Estúdio, a menina dos olhos (da cara)!
José Carlos Pires

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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