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COLUNISTAS

Produção musical: Modelos colaborativos no ofício fonográfico

29/08/2022 - 20:43h
Atualizado em 29/08/2022 - 22:29h


 

A cadeia fonográfica é ampla e multifacetada, por isso a indústria cultural, da qual a cadeia fonográfica pertence, é uma das mais rentáveis do mundo. Nesse sentido, nós que trabalhamos com a produção de fonogramas temos uma vasta capacidade de inserção nesse ecossistema repleto de oportunidades de trabalho.

 

 

Por que é tão difícil viver de áudio?

 

Provavelmente porque é difícil viver em um ambiente hostil ao profissional liberal. Nosso dilema no áudio é o mesmo dos alunos de veterinária, odontologia... Direito então, nem se fala.

 

Quando estamos em um processo de formação profissional temos a impressão superficial de que saber realizar seu ofício com excelência será suficiente para uma vida profissional de sucesso. Mas a qualidade do seu trabalho é somente a fundação sobre a qual você vai levantar esse edifício. Uma construção com um fundamento ruim vai ruir sobre a cabeça dos seus clientes, acabando com o seu sonho de uma carreira profícua e longeva. Em resumo, paga-se muito caro pelos erros profissionais. E você achando que seu problema é não conseguir trabalho. Já pensou como seria encarar um processo jurídico e ainda ser "queimado'' na "praça"?

 

Uma forma eficiente de entrar no mercado de trabalho é o do "jovem aprendiz”. Nesse modelo você inicia como assistente de um grande mestre e vai galgando passos até um dia assumir uma responsabilidade maior. Esse modelo é tão eficiente que funciona desde a construção civil até as artes. Porém o que ninguém fala é que nesse modelo a parcela “sorte” para o alcance do sucesso profissional é muito grande. Essa “sorte grande” já foi relatada por mestres como GeoffEmerick, Nick Raskulinecz e tantos outros que iniciaram em um momento que não havia cursos nem escolas. Na maioria das vezes um dia o assistente está lá de bobeira onde passou anos vendo alguém trabalhar, alguém esse que um determinado dia não pode ir trabalhar e o assistente recebe a chance dourada, o “cavalo encilhado”.

 

 

O Afinador de Piano

 

Por séculos o ofício sagrado de afinar e fazer manutenção de pianos foi passado de pai para filhos e netos, sendo uma profissão familiar onde as minúcias e os segredos de uma boa afinação são guardados e passados como garantia de perenidade do sucesso da família por gerações. Pois um dia, eu bobo que sou, nascido e criado na universidade, defensor ferrenho de quem ensina o ofício é o professor, perguntei a um afinador de piano por que ele não abria um curso sobre isso. Ele ficou muito contrariado. E olha que nem era um curso on-line! Nem existia isso naquela época! Não teve jeito ele virou pra mim e disse assim: “escute menino, por que eu vou ensinar uma coisa que vem mantendo minha família viva há três gerações? Eu não cultivo cobras, eu afino pianos”.

 

Eu não concordo com esse pensamento. Eu não concordo com isso pois estou há vinte anos ensinando alunos e ainda não me vi sendo dispensável das coisas que faço melhor no meu ofício e estou constantemente sendo salvo pelas habilidades dos meus ex-alunos que são melhores que as minhas. Hoje eu tenho uma rede profissional de ex-alunos para atender profissionalmente qualquer segmento fonográfico. Isso não quer dizer que eu faço tudo, mas sim, que eu tenho sempre ao meu alcance alguém excelente para atender qualquer demanda profissional, qualquer problema insolúvel, artista insuportável ou função insubstituível eu posso garantir, tenho alguém na manga. Me manda um email!!!

 

 

Gatekeeper Vs HUB

 

Esses dois nomes super comuns na nossa profissão, hoje em dia dizem muito sobre pessoas que atuam no mercado de trabalho e quais os benefícios que cada um pode trazer para seu posicionamento profissional. O Gatekeeper funciona como um porteiro, uma pessoa que seleciona quem passa e quem fica. Nós encontraremos muitos deles na nossa trajetória profissional. A função dele dentro de um segmento é justamente selecionar profissionais para funções ou processos dentro de uma cadeia, no nosso caso a cadeia fonográfica. Por exemplo, um projeto precisa de um mixador, então é aberta uma consulta de preço e uma pessoa fica encarregada de selecionar quem será o contratado para realizar essa tarefa, por isso ele é chamado de “porteiro”, pois cabe a ele dar encaminhamento para o selecionado e reprovar os demais. O Hub, por outro lado, é profissional ou rede de pessoas, que recebe muitas demandas e conecta profissionais capacitados para essas demandas. Tanto o Gatekeeper quanto o Hub são importantes na sua carreira e é necessário saber lidar com ambas as situações, porém o mais importante é não colocar todas as fichas em uma única estratégia de ingresso no mercado.

 

 

Criando um novo ecossistema

 

Como é difícil adentrar os ecossistemas da cadeia fonográfica já existentes no áudio profissional! Ser aceito em um grupo remete a algo ancestral, algo da nossa parcela animal que acende um alerta vermelho para a escassez de recursos. Quando um membro novo é aceito os demais se questionam: será que vai faltar para nós em algum momento? A saída descrita no livro “A estratégia do oceano Azul” de W. Chan Kim e Renée Mauborgne é fugir dos “mares” tingidos do sangue da concorrência e buscar novos ambientes, segmentos e locais inexplorados. Neste sentido, uma estratégia que recomendamos aos nossos alunos é a formação de grupos cooperativos multidisciplinares compostos por profissionais nas áreas de gestão artística, música e áudio de modo a oferecer a um possível cliente não só um serviço específico mas também uma gama de alternativas para aumentar a receita do artista com shows, merchandising, cursos, palestras e toda uma sorte de ações de marketing que irão ajudar a financiar os serviços dos membros desse grupo de profissionais cooperados.

 

Não é de hoje que "ganhar dinheiro junto” com o artista é muito melhor do que querer ganhar dinheiro do artista. Nesse mundo cada vez menos haverá lugar para aquele profissional que realiza seu trabalho e “tira o seu da reta”, aquele que não se envolve no processo, que não aposta junto nem uma parcela do seu pró-labore. Até porque num ambiente saturado de pessoas excelentes desenvolvendo atividades técnicas e repetitivas, a lei da oferta e procura vai cada vez mais desvalorizar o serviço mecânico e valorizar a solução que movimenta o setor econômico como um todo. Pensem nisso, se organizem e contem comigo.

 

 

Produção musical: Modelos colaborativos no ofício fonográfico
José Carlos Pires

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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