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COLUNISTAS

Saem as guitarras e entram os Pad Controllers

30/05/2022 - 17:11h
Atualizado em 30/05/2022 - 18:16h


 

Fotos: Sickick YouTube / Divulgação
 

Na edição 2018 da SIM São Paulo, entrei em uma sala onde iria começar uma mesa redonda com os distribuidores e importadores de baixos e guitarras, entre eles Fender e Gibson. Lembro que havia meia dúzia de “gatos pingados”, mas como sou um entusiasta das guitarras quis assistir.

Então depois de uma sucessão de gráficos sobre o encolhimento das vendas de guitarras, ouvi algo como: “o sonho do Guitar Hero acabou!”. Lembro que fiquei espantado mas não achei que isso seria de fato um problema para essas marcas tão famosas. A tônica da discussão era que uma Fender ou Gibson standard poderiam chegar facilmente a 7 mil reais com o dólar a 3,8 reais (o que hoje seria um sonho). Então com o dólar elevado (para os padrões da época) e a mudança do perfil do jovem músico, essas marcas conseguiam ainda atingir apenas um pequeno mercado de “rock stars de fins de semana”, geralmente médicos e advogados abastados. Nada contra médicos e advogados, nós certamente precisamos deles tanto quanto eles da gente, mas segundo os palestrantes, um músico não teria condição de colocar para o uso diário um instrumento tão caro, quanto mais um jovem aprendiz. Então eles apontaram um gráfico e relataram um crescimento exponencial na venda de PADs controladores, MPCs e equipamentos para DJs. Um outro gráfico apontava um grande crescimento na procura de aulas de canto e cursos de Djs. Lembro de ter ouvido algo assim: “o jovem não quer mais ser Rockstar, quer ser Popstar”.

 

 

Zeitgeist - O espírito do tempo

O termo alemão, vulgarmente traduzido como "espírito do tempo” muito conhecido como título do filme produzido em 2007 por Peter Joseph, aponta para um conjunto de características morais, sociais, políticas e econômicas que marcam épocas nas sociedades modernas. Sendo assim, como o tempo corre numa seta de uma única direção, esse “espírito do tempo” também se move e afeta as tendências de consumo, desejos e desenvolvimentos tecnológicos. Então seria óbvio que o jovem em algum momento não quisesse mais ser um Rockstar nos moldes tradicionais, coisa que eu na minha humilde ignorância nunca imaginei. Nunca imaginei que o Rock deixaria de ser a manifestação mais genuína da rebeldia jovem. Esse é um sintoma de que o "espírito" está sendo atropelado pelo tempo.

 

 

“Open mind for a different view”

Meu amigo leitor de mais de quarenta, não sofra! A finitude das coisas é um fato inexorável e cabe a você ajudar no que pode e pedir ajuda com o não pode. Nós que viemos de outro tempo, temos muito a falar sobre o dia a dia do trabalho duro, da persistência em suportar as intempéries, de um mundo onde “filho chora e a mãe não vê", mas se ficarmos só nisso não conseguiremos nos locomover na indústria fonográfica. Veja Quincy Jones e suas várias camadas como produtor musical. Miles Davis se reinventando até a morte! Não que eu ache que devemos ficar fazendo dancinha no TikTok  (eu sei que pega mal pra alguns), mas o jovem está lá desbravando esse mundo e nos cabe dar suporte e apoio.

 

 

Os Mitos da Indústria Fonográfica

De fato a indústria do entretenimento foi inventada e conduzida por mentes brilhantes de mais de cinquenta anos, dirigindo companhias e desfrutando do glamour da indústria fonográfica. Já leram a biografia do André Midani, Do vinil ao Download? Quando eu terminei o livro estava embriagado de histórias mágicas, eu só queria ser o André Midani, não aquele das histórias tristes de guerra, fuga, navio e etc, eu queria ser o Presidente da Warner. Parece engraçado, mas leiam o livro que vão entender. Também tem o livro do Nelson Motta, De Cú pra Lua, são histórias e mais histórias de tudo que eles viveram e que nós ainda estávamos saindo das fraldas. Lindas histórias de um tempo que não volta mais.

 

 

Jovens no comando

No meu delírio divertido de inventar uma Gravadora Experimental, para os alunos do curso de Produção Fonográfica,  fui percebendo que vinte anos de diferença hoje são muito mais do que apenas vinte anos.  As vezes fico com muita dificuldade de selecionar um bom artista jovem para eles gravarem, uma vez que para mim tudo que é jovem parece esquisito. De fato, o jovem de hoje escolhe melhor a música que gosta que um homem de meia idade, coisa muito diferente dos anos 80 e 90. Sem falar nas meninas, que na FATEC, comandam as gravações com competência e segurança, coisa incomum a dez anos atrás, quando os garotos do áudio, com seus cotovelos, mantinham as mulheres bem longe dos consoles. Então vai ficando nítido quando se trabalha com os jovens, que no contraste, nossas verdades maduras são apenas pontos de vistas, e nada mais.

 

 

“De a Cesar o que é de César"

Não faz muito tempo Adele publicou na internet que “não faz música para TikTok”, eu concordo plenamente, eu também não faria, mas isso não quer dizer nada além de que existem muitos públicos para se conectar com as mais diversas formas de música. Ainda existe público para Adele e também para Anitta, que não duvido um dia possam até fazer algo juntas. Pensando assim seria até meio engraçado um dueto de Adele e Anita, mas quem pensaria em um de Lady Gaga e Tony Bennett? Quem pensou eu não sei, mas acertou em cheio. Talvez a lição que fica é que existe o “tempo que passou” e que há o “tempo que virá”. Nesse sentido, se o jovem agora quer ser Popstar, esse é o "espírito do tempo”.  Apesar da divagação filosófica, que para mim é muito importante, penso que essa coluna precisa falar mais sobre o que o jovem quer para sua carreira e ajudar a desvendar o oculto, o místico, e iniciático, mercado fonográfico. Então chegou o momento de um “turnpoint” nessa história, para as próximas colunas falar mais sobre as ferramentas que conectam o artista com o público, seja ele jovem ou maduro. Grande abraço e até a próxima. 

 

P.S : Leiam os livros!

Saem as guitarras e entram os Pad Controllers
José Carlos Pires

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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