Anuncio topo
REPORTAGENS / Matérias Completas

Do rock independente ao som de Beyoncé

10/03/2025 - 19:38h
Atualizado em 11/03/2025 - 15:38h

 

Daniel Pampuri começou a mergulhar na música aos 10 anos tocando bateria, mas foi “brincando” de gravar as próprias bandas que descobriu a verdadeira paixão: o estúdio de gravação.  Aprendeu tudo na prática, criando um estúdio com amigos em São Paulo no qual trabalhou até acompanhar uma das bandas independentes que gravou em uma mixagem em Los Angeles, nos EUA, onde decidiu ficar com o irmão Filipe Pampuri.

 

 

Lá se tornou, com o irmão, assistente no estúdio NGR, o que deu a chance de participar de produções com músicos e engenheiros de som como Nathan East, Paulinho da Costa, Beyoncé, Moogie Canazio e Al Schmitt. Paralelamente, ajudou a fundar, também com o irmão, a Beetronics, empresa de pedais de guitarra. Recentemente tem se reaproximado do Brasil, colaborando com artistas como Marina Sena e Rael

 

 

O início no áudio      

A paixão de Pampuri pelo áudio surgiu da necessidade de registrar suas próprias bandas. Aos 10 anos, começou na bateria e, com amigos, improvisava gravações em um pequeno estúdio caseiro. "Um amigo arrumou um computador e sugeriu: 'Vamos tentar gravar'. Aí fui tentando, e fui o único que conseguiu ali", conta. O interesse pelo áudio cresceu e Daniel começou a pesquisar equipamentos, posicionamento de microfones e formas de obter o melhor resultado possível com os poucos recursos disponíveis.

 

 

Mais tarde, Daniel e seus amigos abriram um estúdio em São Paulo chamado C4 em São Paulo. "No início, foi tudo na guerrilha: PC velho, microfone básico e caixa de som caseira", conta. O aprendizado foi todo na prática, com exceção de um período no qual fez curso no Instituto de Áudio e Vídeo (IAV), em São Paulo. Depois, com o estúdio mais estruturado, se profissionalizou e começou a atrair mais clientes, principalmente do rock independente.

 

 

 

A ida para os EUA    

O divisor de águas veio quando Daniel Pampuri produziu um disco para um amigo que cantava em inglês. Ele conseguiu um selo nos Estados Unidos e foi mixar em Los Angeles. Lá, ele e o irmão Filipe viram o trabalho ser mixado no NRG Studio. Os dois logo perceberam que estavam diante de algo diferente. "Eu e meu irmão resolvemos dar uma chance para a vida e ver como as coisas funcionavam lá". Os dois foram “adotados” pelo dono do estúdio NGR, o produtor Jay Baumgardner, que ofereceu apoio no início da jornada.

 

 

O estúdio NRG, localizado em Los Angeles, tem uma história repleta de álbuns e artistas de peso trabalhando em suas salas – estiveram por lá Evanescence, Linkin Park, Beyoncé e muitos outros - o espaço se tornou um verdadeiro laboratório sonoro para Daniel e Filipe Pampuri, além de terem a oportunidade de trabalhar lado a lado com grandes nomes da indústria e explorar ao máximo as ferramentas do áudio. Daniel exalta a chance que teve de ver todo o funcionamento do processo de gravação e mixagem no mais alto nível, desde o posicionamento do microfone até o uso criativo de equipamentos na mixagem.

 

 

O engenheiro de som também chama a atenção para a diversidade de processadores analógicos e gravadores de fita que encontrou no NGR, possibilitando experimentações sonoras do vintage ao digital mais moderno. “O NRG é um estúdio com todos os instrumentos, uma salona grande e microfones excelentes. Tem periféricos clássicos e equipamentos raros. Eu ficava a noite inteira sozinho, ligava tudo e ia fazendo dub, mixando, vendo como os compressores reagiam. Era um verdadeiro mapeamento sonoro do estúdio. Quando você treina com equipamentos de verdade, ganha referência sobre timbres, sobre como tratar o som de forma intuitiva. O digital é incrível, mas ele não tem um som próprio, você precisa saber exatamente o que quer construir”, define Pampuri.

 

 

 

 

Os trabalhos com grandes nomes: direto na fonte      
              

Nos EUA, Pampuri teve a oportunidade de trabalhar com os músicos e engenheiros de som da capital dos melhores estúdios de gravação. Como auxiliar, participou, por exemplo, da gravação do álbum Reverence, do baixista Nathan East (Eric Clapton, Stevie Wonder, Michael Jackson e Daft Punk). "Ver essas pessoas tocarem de perto muda tudo. É um aprendizado diário", se entusiasma. Neste álbum, trabalhou com o também brasileiro Moogie Canazio, um dos mais respeitados engenheiros de som daqui atuando no exterior. Pampuri destacou Canazio como um de seus mentores. Ele frequentemente solicitava sua presença nas sessões de gravação.

 

 

Daniel também colaborou, como assistente de gravação, no álbum próprio do baterista Denny Seiwell (baterista dos Wings e Billy Joel, entre outros) chamado Boomerang, que teve músicas mixadas por Al Schmitt Ao lembrar da experiência, Pampuri destacou a responsabilidade de ter um trabalho revisado pela lenda do áudio. Pampuri afirma a influência da filosofia de Schmitt em sua trajetória de aprendizado na gravação, com a preocupação de capturar o melhor som possível já nesse estágio, sem depender de correções na mixagem.

 

 

De trabalho em trabalho, Daniel chegou às produções de Beyoncé. Pampuri destaca a grandiosidade dos projetos e o alto nível de exigência. No álbum The Lion King: The Gift, ele participou principalmente da captação dos coros e elementos vocais. Já em Cowboy Carter, que ganhou o Grammy de Álbum do Ano e Melhor Álbum Country de 2024, Pampuri esteve envolvido na captação e produção de elementos diversos que ajudaram a definir a sonoridade do trabalho. Ele chegou a viajar pelos EUA para gravar artistas convidados, como Gary Clark Jr. e Post Malone, diretamente nos estúdios deles. "(O álbum) é uma colaboração de muitas pessoas envolvidas trazendo o que elas têm de melhor no momento para o projeto. Então a lista de créditos é imensa. Todas as pessoas envolvidas são monstro. Aprendo demais com todo mundo. E tem mais dois brasileiros no projeto: o Henrique Andrade e o Mateus Braz”, comemora.

 

 

 


 

Beetronics: os pedais dos irmãos Pampuri
 

A Beetronics nasceu quase por acaso, quando Filipe Pampuri, então guitarrista de uma banda em turnê, decidiu criar seus próprios pedais. “Ele sempre pesquisava quais pedais seus ídolos usavam, desmontava, estudava os componentes e tentava recriar os efeitos”, conta Daniel Pampuri, irmão de Filipe e cofundador da empresa. 

 

Na época, por brincadeira, Filipe escrevia "Beetronic" nos pedais com uma canetinha. Os amigos então começaram a pedir pedais personalizados. “Um pedia um, outro pedia outro… e quando percebemos, já estávamos pintando pedais à mão em casa e vendendo para conhecidos”, relembra Daniel. O que parecia apenas uma piada interna acabou se tornando o nome da marca.

 

 

O negócio começou a crescer rapidamente. Os irmãos decidiram fabricar 50 pedais. “Nosso pensamento era: se vendermos todos em um ano, já será um sucesso”, diz Daniel. No entanto, a demanda surpreendeu. “Em uma semana, esgotamos tudo. Fizemos mais 50 e, de novo, acabaram em poucos dias”. O próximo passo foi testar a marca na NAMM Show, uma das maiores feiras de música do mundo. “Pegamos todo o dinheiro que tínhamos e investimos na exposição. Foi um sucesso”, afirma.

 

 

Nos primeiros anos, a produção acontecia dentro de casa. Mesmo assim, a Beetronics já vendia para grandes redes. Com o crescimento da marca e o nascimento do filho de Filipe, os irmãos decidiram estruturar a empresa. “Alugamos um galpão, montamos uma fábrica e formamos uma equipe”, conta Daniel. Hoje, a Beetronics tem uma linha consolidada de pedais.

 

 

 

 

Projetos no Brasil  
  

Agora alternando entre Estados Unidos e Brasil, Pampuri tem se reaproximado da cena musical brasileira em mixagens para Marina Sena, Rael e Baco Exu do Blues.  "Quinze anos fora me fizeram querer voltar e me conectar com os amigos. Os músicos brasileiros são os melhores do mundo. Sempre quis trazer um pouco do que aprendi lá fora para cá. Coloquei como objetivo estar mais presente aqui, participar das coisas com os meus amigos. Muitos começaram junto comigo e também estão fazendo um monte de coisa”, comenta Pampuri. Ao mesmo tempo, ele se abre para novas conexões. “Tá sendo um reencontro com a galera que já conhecia e também uma oportunidade de conhecer essa nova geração que tá quebrando tudo”. Mesmo depois de tantos anos, muitos dos profissionais com quem iniciou na música continuam na ativa. “O meu antigo estúdio se mudou, mas ainda está funcionando. Tem os meninos da Rede Mídia, como o Marcelinho Ferraz e o Pedro, com quem estou trabalhando agora”, conta.

 

 

Aos 40 anos recém-completados, Pampuri vê esse retorno como um momento de equilíbrio entre carreira e vida pessoal. Depois de um longo período de trabalho intenso, ele percebe a necessidade de olhar para sua trajetória de forma mais consciente. “Acho que vem com a idade. Primeiro, a gente vai com tudo, depois dá aquela pausa para refletir. É o fluxo natural da vida. Chega um momento em que precisamos ser mais intencionais nos nossos movimentos, pensar na saúde, no que realmente importa.”.

 

 

Para quem deseja ingressar no mundo do áudio, Pampuri dá um conselho: "Divirta-se e cuide da sua saúde". Ele ressalta a importância de estar sempre aprendendo e testando novos equipamentos e técnicas, sem esquecer o equilíbrio entre trabalho e bem-estar. "Os horários de um engenheiro de som são loucos. Se você não cuidar da sua alimentação e do seu corpo, uma hora isso cobra seu preço".

 

 

 

Para saber mais acesse:

https://www.instagram.com/danipampuri/

 

 

 

  • COMPARTILHE
voltar

COMENTÁRIOS

Nenhum cadastrado no momento

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Escreva sua opinião abaixo*