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SUMÁRIO / Sumário

As tendências da tecnologia: Alwin Monteiro

17/01/2022 - 10:28h
Atualizado em 18/01/2022 - 14:37h

 

Alwin Monteiro  é produtor produtor musical. Iniciou a faculdade de música na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).  Lá, entrou em contato com a área de trilhas sonoras para jogos, principalmente entre 2005 e 2009. Com o volume de trabalho, acabou não concluindo a faculdade, mas fez o seu caminho na música como produtor e engenheiro de gravação e mixagem, sua principal atividade no áudio hoje. Alwin também trabalha na área de ensino de produção musical.  Hoje produz, mixa e masteriza fonogramas para nomes como: Mussa (Mussoumano), MV Bill, Canhotinho (cavaquinista dos Demônios da Garoa), Dona Quimera, Julia Sicone e as músicas originais da personagem Hello Kitty para Brasil e América Latina.

 

O canal da sua empresa Ossia Centro Musical tem conteúdo relacionado ao universo da produção musical, com mais de 75 mil inscritos. Os conteúdos são relacionados ao áudio profissional e produção musical.

 

 

 

Como você vê a tecnologia na música hoje?

Com a evolução da estética do áudio, tivemos várias transições. Depois da virada dos 70 para os 80, depois do hip hop, teve muito o sequenciamento, muito loop. Depois já começou a gravar mais coisas, então ficou um trabalho híbrido em relação aos samples. Na década de 80, a tecnologia MIDI. Eu acho que o que vivemos hoje é uma segunda explosão do sequenciamento, mas a tendência é se tornar mais híbrido, com materiais gravados e sequenciados.Isso tem a ver com a acessibilidade do digital hoje, computadores, conversores... É mais fácil hoje conseguir fazer esse processo em um home Studio, porque o que a gente quer é a forma humana da expressão.As pessoas buscam ouvir a interpretação humana.

 

 

A tecnologia digital está chegando num ponto em que para de mascarar a interpretação humana, perdendo o aspecto artificial?

Com certeza. Uma prova forte dissofoi o boom das lives com a pandemia. .Elas estavam muito bem produzidas, mas não estávamos mais acostumados a ouvir as pessoas cantando com uma certa desafinação.Você escutava um Belchior, um Beto Guedes e descontava aquela desafinação, Achava natural. Mas hoje, esses recursos tecnológicos tem sido usados como recurso de interpretação até. Um efeito, como é um pedal de guitarra. A interpretação está voltando para a música, e com o uso do sequenciamento.A tendência é mesmo uma coisa híbrida.

 

 

A tecnologia, então, é usada como uma potencializadora daa interpretação.Como acontecia no caso do reverb na voz de Milton Nascimento?

Sim, tem o caso das câmaras de eco do Capitol Studios, que eram acústicos, mas ainda assim artificiais.Uma caixa de som dentro de uma sala que a pessoa fala (no microfone) e o som do eco é captado e enviado em outro canal. Isso é um universo mágico que a gente cria no fonograma.Ele não quer representar,necessariamente, a realidade. É criar um universo mágico até no show.A integração entre os diferentes sistemas com uso de DANTE, as ferramentas da Avid...com isto você consegue chegar.a um nível absurdo de fidelidade, em relação à expressão que é o fonograma.

 

 

Durante muito tempo, teve a debate do analógico x digital. Essa transição já está completa?

Cada um vai ter uma preferência de uma ferramenta, mas não há uma limitação na plataforma digital.Você tem um monte de ferramentas, especialmente de empresas que desenvolvem plug-ins.O equipamento analógico fica diferente do outro com o tempo, e até quando sai da fábrica já tem uma pequena diferença entre eles, inclusiveno funcionamento, apesar do circuito integrado. Mas mesmo as válvulas hoje são muito precisas. É muito diferente a fabricação delas do que era nos anos 50.Temos um leque de opções muito grandes.Depende do quão caro isso é. A tendência é que as pessoas se acostumem a construir a sua paleta de cores sonoras com plug-ins, porque é muito mais barato.O equipamento analógico custa por vola de U$3 mil.Um plug-in pode ser U$200. Há também a questão da forma de trabalho, do workflow, então cada um vai preferir uma ferramenta. Eu já me acostumei com um plug-in antigo. Faz bastante tempo que eu uso o mesmo. A questão é: o que você consegue com as suas ferramentas?A tendência, de fato, é ir para o digital pelo custo operacional e capacidade de processamento.Tem os processadores da Apple e da Intel. Ainda está caro por conta da crise do Silício, muita demanda e pouca oferta. Dá uma inflação bem estranha, mas há uma tendência de equilibrar com o tempo. As pessoas vão cada vez comprar mais plug-ins, porque as licenças vão ficar mais baratas e a quantidade de pessoas trabalhando com música é maior.

 

 

O áudio 3D é uma realidade, não é?

Tem uma presença muito forte da dolby com Dolby Atmos, estão com um produto excelente, claro que precisa de aprimoramento. A indústria de jogos tem já outras ferramentas, implementando essa tecnologia dentro do universo dos fones de ouvido e dos sistemas estéreo, para que a gente tenha um áudio que seja multifocal mesmo dentro de um sistema estéreo e essas tecnologias já vem sendo usadas já vem sendo usadas por redes de jogos diferentes. Além da Dolby Atmos tem outras tecnologias. A Sennheiser tem uma tecnologia, outras empresas estão com outras tecologias de sistema multifocal de áudio 3D. No universo da música isso ainda está se construindo, e a forma como as pessoas vão aceitar isso vai ser, de fato, com uma inserção desse universo dentro do mundo estéreo, porque é impossível a pessoa ficar mudando o sistema da casa dela. Tem sempre uma curva que é a questão do meio de produção, da cultura de consumo e da tecnologia. Esses são os fatores que estão relacionados. O meio de produção tem a ver com aspectos macroeconômicos e com a capacidade de acesso a recursos de tecnologia, então isso tudo tem muitas variáveis para que se tenha a acessibilidade a esses sistemas. Em rede de jogos, como por exemplo, a Unreal Engine 5, ou a FrostBite, ou outras redes avançadas já usam tecnologias de áudio multifocal de altíssimo nvel para aumentar a imersão do jogador. No universo da música isso vai depender da capacidade desses licenciamentos tornarem esses softwares viáveis.Nos jogos isso já é uma coisa necessária há muito tempo para aumentar a inserção.

 

 

Tem catálogos que já estão sendo convertidos em Atmos. Elton John, Elis Regina aqui no Brasil. Você acha que isso vale a pena em música?Ou pode dar um fracasso, como no 5.1?

Existe já licenciamento dessas tecnologias para celular e para outros aparelhos específicos, e essas tecnologias vem sendo implementadas de forma mais frequente, já utilizando o universo do estéreo. Acredito que é um caminho bacana, mas não acredito que a questão do áudio multifocal vai ser a regra da apreciação da música. Para o sistema estéreo chegar ao que é hoje levou muito tempo. Foram muitas décadas de aprimoramento do sistema, desde serem duas caixas com uma central até chegar ao que temos até hoje. O sistema multifocal de áudio, com mais caixas além do que tem no estéreo, já existe há muito tempo, e vai passando por mudanças por conta da apreciação do público,como o quadrafônico. Porém, a forma como se aplica isso dentro das tecnologias de apreciação do estéreo é o fator para ser inserido aos poucos.Há uma dificuldade de adaptação cultural por causa do meio de consumo.Isso está sendo pensado bem dessa vez, mas ainda há uma briga de protocolos e de licença. ASennheiser também está com um sistema (de áudio imersivo).Você tem muitas opções de sistema multifocal. O público vai determinar isso. Mas é muito importante que se eduque o público, e para isso você não pode ficar mudando muito o consumo final. Tem que fazer funcionar em fone de ouvido. Continuam duas faixas, duas referências, a pessoa vai continuar comprando o fone de ouvido. Tanto que o home theatre ficou mais para audiófilo. Não é uma coisa que ficou super difundida. 

 

 

Do ponto de vista da produção, a operação remota do som, por exemplo mixar algo no home studio do seu cliente, ou gravar ao mesmo tempo em tempo real em lugares diferentesjá é uma realidade??

Acho que sim, mas tem um problema de mecânica, porque você tem que ter um sistema entre servidores locais, o que nem sempre é possível, ou montar um sistema peertopeer... Se não é peertopeer não consegue ainda construir data para codecs em tempo real.  O AudioMovers, eu já usei umas três ou quatro vezes para gravar durante a pandemia.  entrava através do computador do músico, falava para ele posicionar o microfone em X, Y, controlava no Pro Tools, fazia a gravaçãoe escutava em tempo real, com a latência bem pequena. Ainda assim há uma instabilidade do servidor. Isso é um desafio até da telefonia brasileira. Eu tenho aqui umaconexão de fibra ótica ponto a ponto, direto, um giga de upload e download, então eu tenho uma conexão anormal. Ainda assim, se a outra pessoa tem uma conexão de 30, 40 mega, não consigo fazer esse processo de uma forma fluida. Tem também aquelas plataformas que fazem com que as pessoas possam tocar umas com as outras em tempo real com a outra pessoa em outra cidade com streaming de video você em um lugar e a pessoa em outro. Mas aí tem entrega de servidor, tem entrega de pacote, ainda falta essa estabilidade

 

 

Inteligencia artificial pode fazer o profissional de áudio e produção se torne indispensável?

Acho uma ferramenta muito útil, mas com uma pessoa atrás. Tem um machinelearning com uma base de dados, “eu quero menos isso aqui, mais isso aqu”. Mas aí, na estética você vai caminhar no que não é só o âmbito técnico,  entra em um âmbito antropologico muito forte. Porque como existe uma tendência de mercados menores com um ticket medio mais alto,  você ainda vai ter o mainstream, mas a maioria não vai ser isso.  existe uma tendência de você entender aquela estética de uma forma muito específica, ai você cria uma quantidade de variáveis que modificam de acordo com a construção cultural. Isso é relacionado à produção de bens de consumo e à tecnologia e muda em uma velocidade que não vai ser possível o machinelearning prever essas tendencias. Como vou lançar uma música fora da curva, mas que impõe tendência, e o machinelearning já vai saber disso? Não vai saber, porque é uma música nova, com estética nova. O machinelearning não tem como inovar e sair da bolha, fazendo, por exemplo, a SickoMode, do Travis Scott, uma música de não sei quantos minutos, gigante, que fez um baita sucesso. O machinelearning não consegue lidar tão bem com essas variações. Essa mixagem do Bruno Mars que saiu agora (o álbum An Evening withSilkSonics, parceria com Anderson Paak.), com bem pouco loudness, uma coisa bem anos 70. Você pode ter essa informação na sua base, mas não vai entender o que é soar anos 70 e soar moderno ao mesmo tempo. Só mesmo uma pessoa que consegue entender essa orientação e de acordo com a estética chegar lá.

 

 

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