Carlos Freitas é um dos principais engenheiros de masterização do Brasil. Trabalhando em alto nível desde os anos 1980, desde meados dos anos 90 trabalha na área de masterização.
Sendo a masterização uma área do áudio que faz a interface entre a área de produção e o grande público, o profissional acompanhou a transformação das mídias do LP ao CD, do CD ao áudio digital, do DVD ao Blu-Ray e hoje faz trabalhos com padrões técnicos específicos para cada mídia, incluindo transmissão de áudio por stream e televisão digital.
Os seus trabalhos de masterização, restauração de áudio e remasterização incluem nomes como Ed Motta, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Carlinhos Brown, Marisa Monte, Jota Quest, Paralamas do Sucesso, Djavan, Ivete Sangalo , Lulu Santos, Carmen Miranda, Orlando Silva, João Gilberto e muitos outros.
Qual sua área de atuação hoje no áudio?
A minha área de atuação continua sendo a masterização de música , porém, com a chegada do dolby atmos, aumentou a minha oferta de serviços. Hoje eu masterizo músicas em Stereo, 5.1, Atmos (9.1.4) e faço espacialização em Atmos utilizando Stems gerados pelo eng. de mixagem.
Pode destacar momento chave que identifica na evoloção da tecnologia do áudio na sua área de atuação?
Com Certeza o avanço e desenvolvimento da tecnologia digital no áudio na última década. Hoje temos ferramentas bem específicas para cada problema enfrentado, especialmente na área de restauração e recuperação de áudio com a eliminação de ruídos e até seperação de canais de um audio original em Stereo. Nesse sentido a Izotope nos trouxe muitas ferramentas.
De que forma estes momentos mudaram a sua atuação? Teve de mudar a forma de trabalho? Facilitou ou dificultou?
Minha forma e objetivo no trabalho na masterização continua exatamente os mesmos, que é entregar ao ouvinte e ao fã do artista através dos diferentes formatos, a melhor experiência musical e Sonora possîvel idelizada pelo Produtor e realizada pelo eng. de mixagem.
As ferramentas digitais me ajudam e muito nessa tarefa, mas ainda existe um bom espaço para os equipamentos analógicos.
É possível dizer que já foi concluída a transição da tecnologia analógica para a digital no áudio?
Totalmente! Eu ainda utilizo meus equipamentos analógicos em muitos projetos, especialmente álbuns de Jazz e MPB, mas por puro gosto pessoal. Eu Masterizo muitos albuns “In The Box” e os resultados são excelentes. O que importa atualmente é o resultado, não o processo! Eu sempre digo que saber equalizar e comprimir e saber o resultado que você quer chegar é o que importa, não as ferramentas utilizadas, ainda mais se são analogicas ou digitais, isso pouco importa.
Ainda tem algum momento do trabalho no qual o equipamento analógico, mais que uma opção de ferramenta, é realmente necessário?
Para estilos e situações especificas eu ainda gosto do analógico, mas sempre faço um A/B entre o processamento analógio e digital e escolho o que mais me agrada.
Não existe uma regra, como eu disse anteriormente, o que importa é o resultado, não o processo.
Durante a implantação do digital no áudio, com os codecs de compressão, houve um questionamento se a qualidade do áudio era uma demanda do consumidor ou apenas dos profissionais da área? Isso é um debate? Ou a banda larga da internet já permite que este debate seja superado?
Assim Como aconteceu no processo analógico com o Vinil e depois já em digital com o CD, houve um tempo necessário para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do formato digital de distribuição de música.
Compare os codecs MP3 128 ou AAC 128 no inicio da era do streaming com o Napster e iTunes com o MQA 96K24B utilizado atualmente no Tidal. A evolução e o aperfeiçoamento proporcionou a alta qualidade do MQA do Tidal, na minha opinião muito superior até mesmo ao CD e Super Audio CD, mas isso levou um tempo para acontecer, mais de 20 anos.
Áudio em 3D já é algo irreversível no mercado, ou ainda é uma tentativa, assim como foi o 5.1, por exemplo?
Nenhuma nova tecnologia é irreversivel, ela pode não ser aceita pelo mercado e até mesmo descartada, isso depende de alguns fatores que nem sempre é a qualidade e sim um alinhamento com o mercado consumidor. Já aconteceu antes.
A qualidade do gravador de vídeo em fita BetaMax, da Sony era muito superior ao VHS da JVC , que preferiu franquear o formato para as empresas Panasonic, Sharp, Zenith e RCA, e com isso oferecer mais opções de gravadores ao consumidor do que a Sony, que produzia exclusivamente o BetaMax. Isso fez com que o mercado preferisse adotar o VHS pela maior opção de players, mesmo tendo uma qualidade inferior ao BetaMax.
Eu vejo o formato do dolby atmos como uma grande evolução do audio 5.1, pois com a possibilidade de audição em headphones com o Binaural, algo impossível com o 5.1, a dolby atendeu ao mercado de musica e ofereceu um novo formato alinhado como consumidor atual, que consome musica em sua maioria em fones de ouvido.
Com toda a disponibilidade de possibilidades flexíveis de trabalho, recall e até mesmo simulações de alto nível de equipamentos analógicos, ainda há algo que se possa buscar em termo de facilidade e flexibilidade de operação, seja no ao vivo, estúdio ou broadcast?
Eu acho que o digital atende perfeitamente a todas as areas do áudio, quer seja ao vivo, estúdio ou broadcast, ao contrário do analógico, que já não atende mais essas demandas atuais, como a quantidade enorme de canais, edição edição envio e recebimento, só para ficar nesses.
Use como exemplo um gravador Studer de 24 canais. Pode ser até legal gravar nos moldes antigos, mas o custo e dificuldade de encontrar um studio que ainda tem uma em perfeito funcionamento, as fitas e a limitação do número de canais de gravação, acabam inviabilizando o processo atual.
Mas se você realmente desejar esse timbre das maquinas analogicas , utilizando o Plug-In do gravador Studer da UAD você pode chegar ao resultado pretendido com o analógico mas atendendo as demandas atuais como não depender de um studio que tenha uma maquina fisica, ter muitos canais e nenhum custo com a ausencia da fita analógica
A pandemia ajudou a trazer o foco para o desenvolvimento de operações remotas? Isto é uma realidade? Ainda há algum tipo de limitação para isto?
A Pandemia não só antecipou, como solidificou o processo de operação remota na produção de áudio. Você precisa apenas de uma boa banda de Internet.
Da transmissão de arquivos em alta qualidade até operação de equipamentos a distância, você faz uso de algum tipo de operação remota?
O Audio Movers é um excelente software para trabalhos remotos, mas eu não uso em masterizações, que diferentemente da mixagem, não é necessário um acompanhamentodurante o processo.
Acha que o desenvolvimento da tecnologia, I.A, etc., pode fazer com que o profissional de áudio se torne dispensável?
Para o professional pouco desenvolvido e especializado sim, para os profissionais altamente especializados não.
Computadores usam procedimentos e ações repetitivos, baseado em comparação e repetição, sem identidade criativa, ao contrario de humanos que usam procedimentos embora repetitivos, altamente criativos e isso gera uma identidade, algo não encontrado na I.A, pelo menos por enquanto.
Em termos de equipamento, que tipo te chama atenção hoje? O que há de novo?
Na minha opinião, o software “Dolby Renderer” da Dolby para produção de áudio immersivo.
Muitas ferramentas estão sendo desenvolvidas para esse novo formato e várias já lançadas, como os compressores, equalizadores e limiters da FabFilter para Dolby Atmos 7.0.2 and 7.1.2 e o Reverber Verberate Immersive 2 da Acon Digital.
O que você percebe no hozonte do áudio e da produção musical em termos da tecnologia e do uso dela?
Eu vejo o aperfeiçomamento da produção de música para audio immersivo utilizado pelas plataformas gitais e também novas ferramentas que serã amplamente utilizadas no novo ambiente “MetaVerso”. Esse é o futuro.