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SUMÁRIO / Sumário

As tendências da tecnologia: Carlos Ronconi

17/01/2022 - 10:09h
Atualizado em 18/01/2022 - 16:08h

 

Carlos Ronconi trabalhou por mais de 35 anos na área de áudio da TV Globo, inclusive fazendo pesquisas na área de áudio para TV digital.Trabalhou em programas fundamentais da TV Brasileira, incluindo, na área musical, Chico e Caetano nos anos 1980, a transmissão do carnaval no Rio de Janeiro e o sucesso The Voice.

 

Durante todos estes anos, teve contato em primeira mão com as tecnologias mais complexas do áudio, sabendo de antemão o que viria a ser de uso corrente na área.  Hoje trabalha como consultor para a Dolby.

 

 

A primeira pergunta: qual e a sua atuação hoje no áudio?

Meu nome é Carlos Ronconi, eu sou consultor independente, tenho uma empresa de consultoria chamada ThinkLab Pro. Atualmente estou trabalhando junto com a Dolby na implantação de Dolby Atmos nas emissoras e nos estúdios

 

 

Pode destacar momentos chave na evolução da tecnologia do áudio durante a sua atuação?

A minha atuação começou em gravação, no estúdio de gravação. Trabalhei na SomLivre.. Trabalhei em vários estúdios independentes, depois eu fui para Globo na área de broadcast e pós-produção e produção de audiovisual. Dentro das duas áreas o que mais evoluiu nesses tempos, desde que comecei em 81 até agora, foi a grande mudança do analógico, do tape,da gravação em fita, para a gravação digital em work station, essa foi a  maior mudança.Significou uma virada tremenda no áudio profissional... Em qualquer coisa. No começo da minha carreira eu trabalhava com pesquisa espacial ,e lá a gente trabalhava com um compressor digital para medidas espaciais, ´para medidas de temperatura e de pressão do foguetem, combustível... Então a gente tinha de converter esses dados analógicos em digitais para poder transmitir. Quando isso foi colocado no áudio e depois no vídeo, na televisão também... O  áudio digital que é um pouco mais antigo que o vídeo digital. Uns dez anos mas antigo...  Quando o áudio passou a ser digital, foi uma virada de chave fantástica. Tudo o que era muito difícil de se fazer no analógico ficou muito fácil de fazer no digital. Esse momento em que essa chave foi virada foi no final da década de 70 e começo da década de 80. Foi quando os processadores tiveram potência o suficiente para processar sinais com vários bits, que para o áudio digital ser decente tem que ter no mínimo 16 bits, nesse momento foi virada a chave.

 

 

De que forma esses momentos mudaram a sua atuação profissional?

Claro que essa mudança do analógico digital foi uma mudança drástica, e mudou muito a atuação.  Mudou para melhor em alguns casos e criou outros problemas do outro lado.  Nem toda mudança é cem porcento melhor ou conveniente. Sempre tem alguma coisa que puxa para trás. A principal delas é a compatibilidade. Uma vez que você mudou a tecnologia,  tem que ser,durante algum tempo, compatível com a tecnologia antiga para que haja uma transição no mercado. Mas acho que a maior mudança no modo de atuação foi deixar de gravar em fita e gravar em computador, em hard disc. Ou seja: você  tem uma ganho de qualidade tremendo então você tem que começar a pensar: se antes eu tinha que fazer uma compressão de uma maneira técnica,  ou seja, impedir que o áudio oscilasse (a dinâmica) mais que a mídia que eu ia colocar (suportasse), que normalmente era um vinil ou um tape.... se você pensar bem, a relação de sinal-ruído no tape, por mais que esteja bem calibrado, alinhado com o sistema dolby de redução de ruído, vai a 62 dB (de relação sinal ruido). No digital você chega, com 24 bits, a 144dB. Ou seja:  esquece né? Para de pensar em comprimir porque não vai mais precisar mais comprimir tecnicamente. Você irá usar o compressor artisticamente. Assim como os outros recursos que a gente usava para por causa das limitações técnicas das mídias: disco, transmissão em rádio FM, transmissão analógica... Hoje em dia, depois que o digital chegou, você não precisa mais pensar aquilo como recurso técnico, e sim como recurso artístico. O que facilitou muito para nós do broadcast foi o tal do “hum”. Você tinha que sair catando o “hum”porquetrabalhava com cabo e tal... Quando trabalha com o digital, o “hum” some docaminho.   Se você não gerou “hum” na fonte ele não vai aparecer mais no trajeto. Mas começou a ter problemas de sincronismo e de latência, porque você precisa de um certo tempo para processar o sinal digital, coisa que no analógico você não precisa. No analógico você não tinha atraso. No digital você começou a ter atraso. Você começou a ter um tempo de processamento para converter do analógico para o digital e voltar para o analógico,e esse tempo muitas vezes dificulta algumas coisas. Mas a gente sempre consegue fazer a coisa legal.

 

 

É possível dizer que a transição da tecnologia analógica para a digital se concluiu?

Sim, eu acho que nós estamos totalmente no ciclo digital. Claro que você ouve em analógico e você gera em analógico. Quando estou falando, é no formato analógico. Ou seja: estou movimentando partículas, vibrando ar na minha frente de uma maneira analógica. Eu tenho que captar isso com microfone,pré-amplificar primeiropara ter um bom ganho,poder fazer esse processamento para fazer a conversão digital. Do outro lado também eu tenho que pegar o meu sinal digital e converter para analógico para poder colocar nos alto-falantes e ouvir.  Então essas duas extremidades ainda continuam. Nisso a gente não vai mexer. Então um bom pré-amplificador tem que continuar existindo para ter qualidade e um bom amplificador final também tem que continuar existindo para ter a qualidade de mandar o sinal pro falante. Então as pontas todas ainda são analógicas e tem que ser de qualidade. Isso não tem como mudar, mas no meio (do processo) já foi concluído. Agora só tem a ganhar com o aumento da velocidade, computadores mais rápidos para diminuir a latência tremendamente de maneira que você não tenha mais que se preocupar com um ou dois milissegundos de latência.

 

 

Então ainda tem esse momento do trabalho no qual o equipamento analógico mais que uma opção de ferramenta é realmente necessário...

Sim. Como eu falei, o microfone é um equipamento analógico e ele tem que existir, assim como o pré-amplificador que vai acoplado a ele. E o alto-falante é uma parte analógica que tem um amplificador acoplado a ele, apesar de ter muitos amplificadores já com entradas digitais. Mas que tem que converter o sinal analógico para movimentar o cone do alto-falante. Então esses dois extremos ainda são fundamentais no trabalho com o áudio. Tanto a captação com microfones com sensor analógico, para pegar a vibração, quanto a reprodução ao final da reprodução, que são os alto-falantes, são analógicas.

 

 

E a qualidade do som por conta dos codecs e ompressões de áudio? Isso ainda é um debate ou a largura de banda já resolveu esse problema?

Bom... Codec sempre existiu e sempre vai existir.  Porque sempre você vai ter que fazer uma transição. Claro que a gente gostaria que tudo fosse PCM linear não é? Converter para 24 bits... Só que são arquivos muito grandes, e em tempo real e são complicados para você enviar. Talvez aí com uma tecnologia muito rápida de processamento a gente consiga trabalhar assim. Mas os codecs também são um pouco responsáveis pela latência, porque você precisa de um tempo para fazer essa conversão. Qualquer codec que você tem hoje em dia ,tem que codificarpara transportar o sinal e depois decodificar para reproduzir. O MP3 por exemplo, você codifica e você tem que decodificar para o wave, para bits lineares para poder reproduzir. Então essa codificação e decodificação tem que existir quando você usa codec como MP3, MP4, como flac ou qualquer outro tipo de compressão de áudio para você ter um arquivo menor para transportar, um stream menor. Sempre vai ter isso daí. Hoje em dia, por exemplo, quando trabalha com áudio imersivo, ao longo do tempo ele foi também ganhando uns codecs que melhoram muito a qualidade. Então eu acho que hoje em dia a qualidade do áudio... O codec está meio transparente para isso. Se você pegar os melhores codecs que tem por aí, eles estão meio transparentes para esse tipo de coisa. E a banda larga da internet hoje permite que realmente você trafegue com um áudio um pouquinho melhor. Por exemplo, se antes você tinha que trafegar com MP3 de 128kbps, que é terrível. Hoje você pode trafegar com MP3 de 320, que já é melhor. Então você tem uma banda um pouco melhor e uma reprodução com um pouco mais de qualidade. Claro que se você comparar o som em MP3 com owave que gerou esse MP3 ainda vai haver algumas perdas, mas o que eu quero dizer é que você consegue, hoje em dia, ter codecs cada vez mais eficientes. A Dolby está trabalhando nisso, tem o AC3 e agora lançou o AC4, que são codecs muito eficientes que conseguem fazer compactação  e descompactação rapidamente e com qualidade, inclusive porque hoje em dia o áudio imersivo demanda muita coisa. Antigamente você trabalhava com dois canais mono em estéreo com 6 canais no 5.1, e agora você trabalha com 12 canais no Dolby Atmos, no imersivo, e também no equivalentetambém trabalha com bastante canais. Então você precisa ter uma grande compactação de dados para fazer isso rapidamente.

 

 

O 3D já é algo irreversível no mercado ou ainda é uma tentativa assim como foi com o Atmos por exemplo?

É claro que o áudio 3D veio para ficar. Isso é uma coisa que se vê claramente pelo mercado. O que o consumidor demanda em experiência de dimensão, começando pelo filme, hoje em dia já se propaga também pela música. A Apple lançou o AppleSpecial dela, baseado no Dolby Atmos, que fez com que todo mundo aprovasse e mudasse para isso. Tanto que as gravadoras grandes, como a Universal, a Sony, todas elas estão convertendo até o seu catálogo de músicas para Dolby Atmos. Principalmente os lançamentos mais recentes e os músicos mais importantes. A música clássica também se beneficiam muito com isso, porque com o áudio imersivo... Vamos falar então de áudio imersivo, porque na verdade não tem terceira Dimensão, você está imerso dentro desse áudio. Ele te gera um campo sonoro que preenche o espaço. Ao invés de ouvir o áudio vindo de apenas dois pontos você ouve, mesmo com fone, usando a técnica de codificação binaural, o áudio ao redor de você. Então você está sentadoouvindotudo ao redor de você. Isso tira aquela coisa do som estar dentro da sua cabeça para o som estar no espaço novamente. Ouvindo um estéreo normal com fones, o som  só está dentro da sua cabeça. Ouvindo com o Dolby Atmos codificado binaural ou com o Apple Music Spatialo som sai da sua cabeça. Isso com a vantagem que você ouvindo com os fones da Apple IPod Pro, você tem ainda o tracking do movimento. Ou seja, você vira a cabeça e o som fica no lugar, não vira junto com você. Você tem a sensação de estar ouvindo do espaço, não dos fones. O que contribuiu para isso? A tecnologia de processamento, que é uma coisa muito mais rápida, diferenciada e precisa. A tecnologia Dolby Atmos trabalha com objetos sonoros ao invés de caixas, e você poder ter não só o audiovisual mas também a m´sucia disseminados... É claro que nem todo mundo pode ter um sistema 7.1.4 em casa, que são sete caixas ao redor, mais quatro sub ufers e uma caixa no teto, mas você pode fazer isso com um soundbar. Essa tecnologia veio realmente para aliviar e difundir mais isso,  Se no 5.1 era complicado colocar seis caixas na sala, a tecnologia de soundbar e o áudio imersivo com fonespermite que você tenha uma ampla divulgação e aceitação desse novo padrão de áudio imersivo.

 

 

Com todas as possibilidades flexíveis de trabalho, com recall e até mesmo simulação de alto nível de equipamentos analógicos, ainda há algo que se possa buscar em termos de facilidade e flexibilidade de operação seja ao vivo, estúdio ou broadcast?

Eu acho que a internet deu um grande passo para realizar muitas coisas. A pandemia veio também para acelerar tudo isso. Se a pandemia trouxe algo de bom foi aproximar mais as pessoas, porque apesar de estar todo mundo isolado, afastado no isolamento social, eu sinceramente acho que as pessoas se aproximaram mais através das lives, contatos no WhatsApp e tudo mais. Uma das coisas que eu acho que ajudou um bocado nesses tempos foi descobrir que poderia fazer muita coisa remotamente. Você não precisa estar no backstage para mixar o monitor de uma banda, assim como foi a primeira volta do Foo Fighters. O técnico de monitor deles não tava lá, tava em casa, mixando do outro lado dos Estados Unidos. Sâo coisas que foram apressadas por causa da pandemia,  e a gente sentiu, principalmente aqui no Brasil, eu fiquei surpreso da nossa Internet aguentar tudo isso. Tivemos lives com Sandy e Júnior com 8oito milhões de pessoas assistindo, e o negócio estava tranquilo. Ou seja, não estava engarrafado em lugar nenhum. Pelo menos nos grandes centros, se não tivesse essa estrutura de internet boa teria esse engarrafamento. Na área de broadcast é provou-se mais ainda que a se pode fazer as coisas remotamente. Tanto que a TV Globo está com operação remota desde o carnaval de 2019, que foi antes da pandemia. Foi o último carnaval que eu fiz na Globo antes de me aposentar, já estávamos com toda operação remota de áudio e vídeo colocada na emissora. É claro que existem as câmeras na Avenida, os operadores de câmera, uma estrutura para mandar o sinal, mas todo o corte, operação de vídeo, operação de áudio estava sendo feito remotamente na estação. Hoje em dia você pode fazer isso com qualquer coisa. Vários profissionais de áudio estão fazendo a mixagem remota, fazendo a mixagem remota dessas lives, fazendo inclusive mixagem para shows ao vivo e para discos remotamente.  Então eu acho que houve uma aceleração no processo a pandemia. Talvez fosse uma coisa que as pessoas não quisessem muito porque realmente estar junto é uma coisa legal. Estar presente ali no show é uma coisa legal mas essa coisa de você poder fazer remotamente várias operações é bom.

 

 

Então a operação remota já é uma realidade?

Claro que existe algum tipo limitação. Tem coisas que não dá para fazer em tempo real até por conta da latência. Ou seja, o tempo de sinal chegar ao lugar e voltar para gente, uma realimentação, porque tudo que você tem que operar você tem que ser de acordo com o feedback que está recebendo. Se você está na mesa operando a banda na sua frente, o feedback é imediato. Se a banda Tá a 40 quilômetros de distância, tem um tempo de receber a informação, processar e enviar e receber de volta o feedback. Eu creio que com o 5Gcosigamos superar isso daí. Estão prometendouma velocidade fantástica. Não tive chance de testar o 5G, mas eu acredito que é uma saída muito boa. A limitação está ainda na latência. O resto você pode fazer quase tudo. Com óculos virtual e uma câmera 360, você pode estar presente quase que pessoalmente no lugar, então isso é questão de tempo.

 

 

Em termos de equipamento, qual chama a sua atenção hoje?

São as workstations e plug-ins cada vez mais criativos.  Você tem uma quantidade de plug-ins novos aí que fazem coisas que você nem pensava que precisava que fizesse, então tem muitos plug-ins interessantes, muitos processadores e sistemas de processamento rápido para poder trabalhar com áudioe eu acredito que uma tecnologia que vai começar a evoluir agora por causa do áudio imersivo é o sistema de captação ambisonics, que durante muito tempo já se falava nisso. São da década de 1950 os primeiros estudos, mas nunca se pode fazer isso por questões de equipamento (de reprodução), mas agora já tá bem perceptível (o resultado deste tipo de captação). Então o áudio imersivo trouxe a possibilidade de usar a captação em ambisonics.O que há de novo é isso: cada vez mais a imersão: a pessoa sentir mais imersa dentro do som e poder contar com isso. O estéreo vai ficar uma coisa aqui assim como hoje muita gente não sabe o que que é uma fita k7, daqui alguns anos um muita gente não vai saber o que que é estéreo. Vai achar super estranho ver uma coisa em dois canais apenas. Estamos como no comecinho do estéreo de novo, aquela coisa de ter a ateria do lado, voz do outro...Estamos engatinhando para ver qual o formato (de imagem sonora). Quando você trabalha com audiovisual, o formato já está definido que você tem uma imagem e som tem que obedecer àquele Imagem. Mas quando você fala só de música como no Apple Music, você não tem limitação nenhuma. Sua imaginação é sua limitação, então você pode fazer que você quiser, sem nenhuma limitação.

 

 

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