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SUMÁRIO / Sumário

Lei Aldir Blanc

09/04/2021 - 16:43h
Atualizado em 03/05/2021 - 14:38h

 

Reportagem: Miguel Sá.
Fotos: Divulgação / André Morbach

 

Não é nenhuma novidade o quanto a área da cultura foi afetada pela pandemia. De acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores de Eventos (Abrape), que abrange também a parte de shows musicais, foram mais de 450 mil vagas de trabalho diretas e indiretas extintas.

 

Se, por um lado, foram aprovadas, no Congresso Nacional, medidas especiais para as empresas do setor por meio do Perse, por outro, a aprovação da Lei Aldir Blanc, acelerando o repasse do Fundo Nacional de Cultura na Pandemia, permitiu uma série de iniciativas mais ligada ao universo local de estados e municípios, gerando trabalho remunerado em cenas especificas.

 

Aqui, apresentamos dois eventos:  um Festival já tradicional na baixada fluminense, o Rock Pense!,  com dez anos de estrada com artistas ligados à cena local, seja por morarem lá ou por afinidade, e  QQ VC Ouve, que surgiu como filho direto do cenário da pandemia, a partir de bate papos musicais no Instagram que se tornaram um festival musical de MPB.

 

O Roque Pense! É explicado pela diretora executiva Giordana Moreira. Realizado nos dias 09, 10 e 11 de abril, pode ser visto neste link do youtube: https://www.youtube.com/channel/UCgtfGKBVZCE5o16P3jsPy0Q ou clicando na imagem abaixo.

 

 

O QQ VC Ouve é apresentado pela diretora geral do festival, Aline Paes. Aconteceu entre os dias 25 e 28 de março neste link: https://www.youtube.com/user/alinepaes0000 ou clicando na imagem abaixo.

 

 


 

Roque Pense!

 

- Conte, por favor, um pouco da história do Roque Pense!

A ideia inicial era de realizar shows de bandas independentes, só que com mulheres no palco. Muitas pessoas e coletivos da rede de cultura da Baixada Fluminense se engajaram, e propus escrever um festival que potencializasse nossa tradição com o rock, mas em que as mulheres estivessem comandando. O Festival foi realizado em três cidades da região (Nova Iguaçu, Mesquita e Duque de Caxias), sempre em praças e gratuito. Além da música, agregamos o graffiti, campeonato feminino de skate, cineclubes, coletivos da região e feministas de outros estados. O impacto foi tanto que desde 2011 realizamos vários outros projetos, como o Laboratório RP! de formação em produção cultural para mulheres, a web série Estúdio RP! já com 13 episódios e o posdcast PodPense! Então hoje a RP! é um projeto transmídia realizado por mulheres profissionais da cultura. É um processo constante, de práticas feministas nos fazeres artísticos na periferia.

 

 

- Quando perceberam que o festival poderia se encaixar no formato Live e entrar na Aldir Blanc?

Por nossa natureza transmídia, de utilizar várias plataformas em uma mesma narrativa - e o Youtube já era uma delas. Neste momento atual era superimportante em nosso cenário, e para o público confinado em casa, realizar esses projetos, inclusive o Laboratório e o Festival que eram exclusivamente presenciais. A única coisa que não havíamos realizado foi a live, que rolou no último dia 8 de março em comemoração aos 10 anos de RP! Mas fomos pioneiras no streaming de shows desde nossa primeira edição, em 2012, então sabíamos que tínhamos essa capacidade de realização. A proposta da Lei era de preservar o setor criativo, e como nós da Baixada, somos altamente vulnerabilizados por não contar com a iniciativa privada nem um cenário sustentável, a Lei precisava chegar até nós.

 

 

- Foi difícil encaixar na Lei? Como foi a trajetória burocrática? Foi por estado ou município?

Executamos dois projetos diferentes, Roque Pense! 10 anos, uma live em celebração aos dez anos da RP!, pelo município de Nova Iguaçu. E a 4ª edição do Festival RP! Transmídia, pelo Estado do RJ. Mas a maior dificuldade pra nós e a grande maioria dos produtores foi o fato de que os gestores encararam o recurso emergencial como fomento, com formatos e burocracias desta natureza, como se não estivéssemos vivendo uma crise mundial. Exigências burocráticas que não consideraram a dificuldade da periferia em formalizar seus empreendimentos, somado aos prazos impraticáveis de 90 dias para realizar todas as ações, e 30 dias para a prestação de contas. Isso sacrificou milhares de profissionais em um período em que a pandemia só se agravou.

 

 


Equipe Roque Pense

 

 

- Conte sobre a equipe: quantas pessoas? Repartida por quais funções?

A equipe audiovisual foi composta por direção, direção de produção, pós (montagem e produtora de pós) e direção de arte, além do trio base do audiovisual, formado por  fotografia (direção e duas operadoras), som (captação, mixagem e técnica de som) e iluminação em que tivemos dois profissionais. Agregamos aí a direção técnica da transmissão e seu assistente. A produção trabalhou a área executiva, com duas produtoras, produção artística e a produção específica para o Laboratório. Na comunicação tivemos a produtora de conteúdo e a comunicação visual, além de assessoria de imprensa e libras. Ainda agregamos o produtor de set e a produção de arte no final. Foram envolvidas 40 mulheres na realização do festival, sendo 17 artistas e 23 profissionais, além dos 10 homens que fizeram parte diretamente, totalizando 54 pessoas contando com os músicos da banda mista.

 

 

- Houve uma mistura entre novatas e veteranas, correto? Há uma intenção de formar profissionais para fomentar esse tipo de evento?

Sim, tivemos referências como a diretora de fotografia Bia Marques, trabalhando junto a jovens talentos da fotografia da região, como a Laís Dantas e a Duca Caldeira. Temos um potencial de polo cultural fluminense, mas como historicamente não investiram no setor criativo das periferias, nós buscamos criar esse espaço profissional em que estas jovens tenham uma experiência e uma referência local para se desenvolver e também multiplicar. Se eu consegui realizar esse festival, no chão da Baixada, elas também podem viver de seu trabalho criativo aqui também. E para quem vê de fora temos um festival transmídia, de música independente, criado e produzido por mulheres. Isso você encontra em alguns lugares do mundo e também na Baixada Fluminense.

 

 

- Além de som e iluminação, que vocês já deviam ter um jeito de trabalhar, desta vez vai ter também a transmissão, o que modifica um pouco a forma de fazer tanto a luz como o som. Teve que ser feita alguma mudança de fornecedores devido ao festival ir para o terreno do audiovisual? Vai ser ao vivo ou gravado? Como selecionaram o fornecedor?

O streaming nos festivais era um plus, pois quem não vinha até a Baixada poderia assistir pela internet. Algo totalmente diferente deste formato de live, principalmente após a pandemia. No entanto nós trabalhamos com empresas locais, e crescemos juntos aprimorando nossas tecnologias. A Dutra Filmes passou de streaming a direção técnica da apresentação, junto com um iluminador muito conhecido aqui na Baixada que é o Jon Thomaz, e que já tinha assinado uma temporada da nossa web série. Há uma característica que ajudou muito nessa adaptação de formato que é a apropriação das novas tecnologias. Então não mudamos os fornecedores, buscamos aprender e crescer juntos. Um dos maiores exemplos disso é o estúdio criativo DesignLinhadas. Elas assinam nossa comunicação visual desde 2016, e agora também a direção de arte. Além de expandir a atuação das empresas e profissionais nós vislumbramos continuar essas iniciativas aqui no território. A direção foi fundamental nesse processo, por isso chamamos a diretora Muriel Alves, que tem sua origem na Baixada, e uma expertise para comandar a live ao vivo em tempo real, no dia 8 de março, e o festival, que já foi todo gravado, para ser transmitido em abril.

 

 

- Foi possível dar uma remuneração justa para a equipe? Ou tiveram de ajustar os valores à verba?

Nós praticamos a colaboração em rede, essas profissionais já trabalhavam com a gente em produções de baixo custo. Em uma época tão desesperadora para os profissionais escolhemos remunerar de forma justa a todas. Sempre trabalhamos com cachês simbólicos, desta vez pudermos pagar um cachê de verdade. No entanto precisávamos reduzir a equipe, por conta dos protocolos. Mas em certa altura tivemos que chamar outros profissionais, então tivemos que nos ajustar ao orçamento dos projetos da Lei Aldir Blanc, que são baixos se comparado aos orçamentos de festivais e lives praticados no mercado.

 

 

- É possível dizer que há diferença entre esse tipo de evento na periferia e nos locais mais privilegiados da região metropolitana do Rio de Janeiro?

Apesar de estarmos na mesma metrópole a diferença está no investimento, público e privado, na infraestrutura para o desenvolvimento do setor criativo nas periferias. Faltam espaços adequados, incentivos à criação de empresas e ao acesso do público local aos produtos culturais que produzimos, mesmo nessas condições. A falta disso somado aos estigmas de violência e precariedade dificulta o alcance de público e, consequentemente, nosso crescimento enquanto mercado de entretenimento local. Mas enquanto vetor de impacto social é na periferia que isso acontece. Um festival aqui pode salvaguardar memórias, construir uma imagem positiva do território, oferecer perspectivas as jovens no campo da cultura. Arte aqui transforma vidas.

 

 

- Para o formato live tiveram que fazer mudanças na quantidade de atrações, tipo de show, etc.?

Sem dúvida, pois o audiovisual é um outro universo. O show continua a existir só que para se transformar em um produto audiovisual existe outra camada. E o custo disso aumenta junto.  Nos preocupamos em produzir experiências mais profundas, como a live com a Banda Gente, onde a vocalista Lolly Amâncio, tem uma história com a Roque Pense! que marca muito nossos dez anos de trabalho, costurada pela interação dela com a Mestre de Cerimônias, a Malê, que também tinha a sua história com a RP! No entanto para aprofundar precisamos reduzir. Em cada edição eram 12 a 13 apresentações, nesta temos uma apresentação por dia, no total de três.

 

 

- Que locação escolheram para filmar? Por quê(questões técnicas, afetivas, facilidades de locação, etc.)?

Tivemos o apoio de um dos melhores estúdios para música atualmente que é o Lab Oi, através do programa Labsônica, mas para a gravação da Cypher de rappers mulheres da Baixada a escolha foi afetiva: o Teatro Sylvio Monteiro, na cidade de Nova Iguaçu. Desta forma mostramos nossa vida cultural, para quem vive aqui e não tem essa imagética na mídia, e para quem ainda não sabe que aqui temos um circuito artístico urbano e original.

 

 

- Como foi feita a curadoria das atrações?

Partimos da temática que permeia nossos dez anos de atuação, o artivismo. Assim buscamos artistas e bandas com esse diálogo com a RP! A Kaê Guajajara assume seu artivismo sem ser panfletária, trazendo a palavra da jovem indígena urbana de periferia. Fugindo do eixo sudeste buscamos na Luísa e Os Alquimistas nossa conexão com a cena artística do norte, que sempre está presente na RP! E a Cypher foi um modo de mostrar a potência das muitas mulheres artistas da Baixada. Entre elas a Athena, uma MC que brilhava nas batalhas de rima, mas nunca havia apresentado um show. Pudermos compartilhar sua rima pra quem não frequenta batalha, trazendo-a para nosso palco. Foi o artivismo que nos chamou a reverenciar nossas ancestrais, mulheres que vieram antes de nós nos fazeres artísticos e na luta por Direitos, então o festival traz as performances de jovens atrizes e slamers com textos de ilustres como Mae Beata de Yomonjá, Mãe Meninazinha de Oxum e Lírian Tabosa. A poesia estará presente.

 

 

- Esta foi uma lei emergencial para apoio à cultura devido à pandemia. Acha que este tipo de mecanismo, com uma verba mais direta do Estado, sem ser por isenções à empresas por leis como a Rouanet, é importante?

Apesar de toda a emergência, com a LAB, vamos poder constatar o quanto o investimento público direto em cultura pode movimentar uma cadeia produtiva, com milhares de trabalhadores e impacto econômico. Via lei de incentivo atinge a restritos modelos de iniciativa, e não chega aos trabalhadores da base, nem na cultura popular, sem uma mediação. Isso limita os territórios populares, segmentos, mercados, mas também toda a cultura no país. Além disso, como o imposto vai pra cultura? Na saúde constroem hospitais e contratam médicos, na educação escolas e professores. Na cultura é no estímulo das manifestações culturais. Em muitos lugares do mundo há o incentivo público para esse setor, pois gera renda, contribui significativamente com o PIB, e a cultura é reconhecida como fator importante do desenvolvimento humano. No Brasil não deveria ser diferente.

 

 

- Algo mais que gostariam de comentar?

Eu agradeço a oportunidade de falar sobre criação, produção e realização, pois quando é um projeto feminista acabam por nos limitar a algum discurso sobre machismo. Quando na verdade o feminismo é uma proposta de um outro mundo, que não é possível nas estruturas patriarcais e capitalistas. Neste outro mundo tem música, audiovisual, festivais, só que estamos como sujeitos, criando possibilidades na arte, na indústria e na sociedade, que os homens já têm, mas com lógicas mais coletivas.

Veja em https://www.youtube.com/channel/UCgtfGKBVZCE5o16P3jsPy0Q

 


 

QQ VC Ouve

 

- Como percebeu que o bate papo virtual poderia ser um festival?

Todas as vezes que eu conversava no formato de bate-papo em live com os artistas ficava imaginando também como seria se pudessem cantar, tocar e compartilhar referências no formato de show. E assim foi: pensei no festival logo que vi o edital da Lei Aldir Blanc e vi a linha de ação para festival. Por isso, elaborei a proposta nesse formato de festival online e submeti a inscrição. Fui aprovada com nota máxima no edital do Rio de Janeiro. Fui a única proposta que recebeu nota 100, isso me deixou muito feliz. Além disso, escolhi ter uma artista homenageada juntamente pelo fato de o projeto ser uma reverência às referências. Então ter jovens cantoras e uma cantora referência me fez incluir essa característica do festival em ter uma homenageada nessa primeira edição, e pretendo ter também nas seguintes um artista homenageado como referência para a edição.

 

 

- Como foi para formatar? Que modificações?

Uma modificação foi não manter o bate papo. O projeto se transformou em um festival, então a prioridade é a música e mostrar que um show é um compartilhamento de referências. Todas as artistas que participaram desta primeira edição montaram seus repertórios conscientes disso, de que poderiam cantar seus repertórios autorais, mas também coisas que fizessem parte de um repertorio afetivo, de uma memória em suas referências musicais. Eu quis mesmo privilegiar a música entendendo que a aprovação no edital permitiria uma estrutura de som e vídeo que permitiria aproveitar ao máximo um espaço para cantar e tocar. Foi uma mudança, mas uma mudança conceitual. Em termos da lei, foi mudar de uma série de bate papos para um festival online na linha Fomenta Festival, que foi uma das linhas de ação do edital da Lei Aldir Blanc aqui no Rio de Janeiro.

 

 

- Como deu entrada no projeto?

Dei entrada no edital pela Secretaria Estadual de Cultura. Tinha a possibilidade de se inscrever, se não me engano, como ponto de cultura, Tinha uma outra linha que era o retomada cultural, especifica para shows, lançamento de discos, uma linha mais ampla dentro da linguagem da música, e tinha também a linha fomenta festival.

 

 

- Os tramites foram rápidos?

Não. O edital em si, a escrita, gerou muitas dúvidas, foi muito questionado e ocorreram várias erratas durante o processo. Não foi um processo de inscrição tão usual. Foi bem difícil a compreensão e sei que muitos artistas e produtores até desistiram de inscrever por conta da dificuldade de entendimento de algumas das regras que o edital estabeleceu. Isto foi uma dificuldade. Depois de aprovado teve um processo muito sofrido que durou até 31 de dezembro que foi o recebimento do aporte. Foi bem tenso porque teoricamente o governo tinha até o último dia de 2020 para fazer os repasses para as contas tivemos de abrir. Todos os aprovados tiveram que abrir contas no banco Bradesco, porque este é o banco ligado ao governo do estado para esses processos de recebimentos de aporte, seja lá que linha de ação de política pública que for, e isso também foi confuso e demorado. Teve uma falta de comunicação entre a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e o banco, e muita gente sofreu com essa dificuldade. Na agência que eu abri a conta tive uma certa facilidade porque a funcionaria que abriu estava ciente, mas demorava 15 dias para abrir e o edital dava dez dias para abrir a conta, por exemplo. Recebi meu aporte no limite mesmo, e até então havia o entendimento de que quem não recebesse, o ano ia virar e não iria receber. Nos 45 do segundo tempo, os produtores e artistas se organizaram e conseguiram pressionar a secretaria e prorrogaram o uso da verba para 2021.

 

Depois de receber a verba para realizar, aqui no rio de janeiro também teve uma peculiaridade que foi o prazo de 90 dias para que todos pudessem realizar os projetos. Esse prazo é muito curto. Eu consegui realizar dentro do prazo e vou prestar as contas, porém aconteceu que vários projetos ficaram aglomerados, para usar a palavra que não sai da nossa boca, em um espaço de tempo muito curto. Isso gerou dificuldades, por exemplo, na imprensa. Foram vários festivais lutando por um espaço e também o público sendo bombardeado por uma oferta muito grande de produtos culturais entre janeiro e março, quando se tivesse ampliado o tempo de realização poderiamos ter distribuído melhor esses produtos culturais: festivais, lançamentos de disco, peças de teatro. Tudo ficou muito concentrado nesse período de janeiro a março e muitos de nós produtores acreditamos que isso não é produtivo, porque o público fica bombardeado, o espaço na imprensa, que já é difícil, fica ainda mais complicado, e as vezes acabamos não conseguindo atingir mais pessoas por conta desses aspectos. Então foi um prazo curto. Agora recentemente eles ampliaram, aos 45 do segundo tempo, o prazo de execução e prestação de contas, mas também muito tardiamente. São ajustes que podem ser feitos.

 

 

- O dinheiro era o suficiente para pagar a equipe?

O primeiro ponto é que, quando a gente submete, já sabe a qual linha de ação está concorrendo e que orçamento a gente vai ter. No Fomenta Festival eu concorri em Festival Primeira Edição. Ou seja, eu tinha R$50 mil caso fosse selecionada. Então, na hora de elaborar um projeto, eu já montei dentro dessa linha. Na execução fiz algumas adaptações, mas 50 mil para fazer transmissão, assessoria de imprensa, gestão de rede social e pagamento de cachês não é uma verba com folga. É um orçamento apertado sim, porém consegui pagar toda a equipe e estrutura, mas alguns fornecedores e artistas participaram com valores um pouco abaixo do que era praticado antes da pandemia. Foi uma adaptação necessária e acredito que outros tenham vivido isso também. Em termos de adaptação da equipe, foi a mais enxuta possível. Tanto que eu mesma assumi, pela minha experiencia como produtora, mas também pela questão orçamentária, muitas funções. Fiz toda a pré-produção e a direção geral de produção, mas no dia tinha uma diretora executiva me acompanhando, já que eu também estava apresentando como cantora. Em outra situação eu poderia ter tido uma equipe maior caso tivesse um orçamento maior.

 

 

- Quantas pessoas compuseram a equipe?

A ficha técnica no youtube está completa. Só faltou colocar fornecedor de libras, que foi a Rangel produções. Eu, Aline Paes, fiz a direção geral de produção, direção artística, curadoria e apresentação das lives na produção executiva no dia a Cyntia Santos, que também está colaborando na prestação de contas. O Antonio Marcos está na assistência de produção, na direção de arte e cenografia Suzane Queirós, e o cenotécnico foi o Guto Antunes. Também tivemos a equipe da 4D Live, que teve o Guilherme Marques na direção de broadcast, Dioclau Serrano na parte da captação de áudio e duas pessoas na fotografia e na filmagem, que foram o André Morbach e a Kati Tortorelli. Tudo com a direção de arte de Suzane Queiroz. Na gestão de redes sociais Marcia Madela e Leila Guimarães, na assessoria de imprensa a Belmira Comunicação, no design a Gabriela Rocha e Felipe Lamarck e apoio da Re-Roupa e restaurante Sat’s  

 

 


Aline Paes e Áurea Martins. Foto: André Morbach.

 

- Como foi a curadoria?

Quando comecei a pensar a programação me vieram alguns nomes até de grande alcance, como alguns que passaram durante as lives de bate papo do QQ VC OUVE 2020. Comecei a colocar todos eles no papel mas me deparei com uma programação enquanto festival muito diversa. Eu estava sentindo falta de uma liga. Primeiro foi isso: já que o formato é online eu acho que tem um desafio de amarrar um conceito nesse formato, diferente de um festival presencial, como eu já tive algumas experiencias no processo de produção artística. Então achei que era importante ter uma cara, um desenho bem claro e uma escolha de curadoria bem amarrada. Então comecei a pensar em duas coisas: uma que tinha nomes de maior alcance que achei que não fazia sentido receber um cache pela lei Aldir Blanc. A primeira coisa foi olhar para quem estava mais perto, porque essa verba é para quem tem um porte ainda pequeno ou médio e está na luta por conta da falta de trabalho. Quando penso dessa forma, ao invés de pensar só no alcance que um ou outro artista poderia trazer porque é famoso, entendo que sou cantora e faço parte de uma cena do Rio de Janeiro repleta de nomes maravilhosos. Então faço o recorte, nessa primeira edição, de cantoras mulheres do rio de janeiro. Aí vem nomes incríveis que tive até dificuldade de escolher essas seis: Julia Vargas, Juliana Linhares, Marina Iris, Luciane Dom, eu e Ilessi, e me vem essa possiblidade de trazer uma artista veterana homenageada, entendendo que o festival é um festival de referências. A Áurea Martins é uma referência para todas nós, cantoras do Rio de Janeiro, pela sua trajetória muito respeitada por artistas e pela imprensa. Além disso, há a importância de ter artistas negras nessa programação, e tem a Aurea como esse pilar, a Marina Iris, Luciane Dom e Ilessi, além da marca de cada uma: cantoras muito diferentes mas todas com muita personalidade.

 

 

- Como foi escolhida a locação?

Fechei com a 4D live. Fiz já incluindo o estúdio no orçamento. Preferi já fazer um orçamento fechado, de ambiente controlado em termos de captação de áudio e de iluminação. Não foi uma negociação a parte já que um dos sócios, o Guilherme Marques, também é sócio do Estudio Frigideira, onde aconteceram as lives. Todo o equipamento que usamos já estava incluído como equipamentos do estúdio. Não tive que orçar os itens de sonorização por fora. Entendi que faríamos no estúdio porque era um ambiente confortável para eles também por eles estarem ambientados em fazer som ali. Outras lives foram feitas lá, da Duda Beat, e um material lindo da Roberta Sá também foi filmado ali, a Julia Vargas tinha feito uma live por lá. Era um ambiente conhecido e isso faz sentido em relação à qualidade de áudio que a gente teve também.

 

 

- O mecanismo com verba direta, sem ser por lei de incentivo, deve permanecer?

Esse já é um mecanismo utilizado como política pública há um tempo. Os editais com verba direta dos fundos municipal, estadual ou nacional de cultura, já existiam no pré-pandemia em paralelo com as leis de incentivo. Sem dúvida devem continuar. Em relação à lei Aldir Blanc, o que muitos dos agentes de cultura sentiram foi uma demora nessa articulação. Inicialmente aconteceram alguns editais até privados. Lembro que a Lei Aldir Blanc vem da verba do fundo nacional de cultura. Uma verba que já existe há muito tempo, que estava ali parada para o nosso setor mas que demorou muito tempo para ser distribuída. Então, sim, toda ação de politica pública que tem verba direta deve se manter independente da pandemia, deixando claro que já existe há algum tempo e é fundamental para artistas locais, para artistas de pequeno e médio porte, que não precisem depender de um tipo de contrapartida exigida de uma empresa privada, por exemplo, que exige um retorno de alcance da marca.

 

 

- Algo mais a comentar?

A importância da lei apesar da demora e do entendimento dos editais do processo aqui no Rio de Janeiro, lembrando que a lei foi distribuída para vários outros estados e que acabou tendo peculiaridades em outros estados e municípios. Falando como uma produtora cultural e artista do Rio de Janeiro, tenho que dizer que é uma ação muito importante. Se não fosse por essa verba eu não conseguiria realizar esse projeto e gerar tantos trabalhos, com uma distribuição dessa renda para parceiros e pessoas que estão atuando aqui. Isso me deixou muito realizada, propor um projeto que compartilha referências e compartilha também trabalho promovendo o envolvimento de tantos profissionais maravilhosos. Me sinto muito realizada por estar à frente disso.

 

 

Veja em https://www.youtube.com/channel/UC7yQAhVEzTd1TOJpDcf7-Cg

 

 

 

 

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