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SUMÁRIO / Sumário

Marisa Monte em turnê

30/06/2022 - 11:17h
Atualizado em 01/07/2022 - 09:55h

Reportagem: Tomaz Sá | Fotos: Leo Aversa / Divulgação / Arquivo

 

Produção complexa e em alto nível para viajar pelo Brasil, Europa e EUA: quando se fala em estrutura de trabalho, a produção de Marisa Monte pode ser considerada uma das mais bem planejadas do showbusiness. A turnê chegou em Belo Horizonte no dia 16 de abril, um sábado. A apresentação foi no Anfiteatro do Mineirão: estrutura montada no campo do estádio e voltada para as arquibancadas.

 

O repertório foi montado a partir do álbum mais recente, Portas, lançado em 2021, além de incluir os sucessos de mais de trinta anos de carreira, como Beija Eu, Ainda Lembro e Bem Que se Quis.

 

A direção do show é da própria cantora, com a concepção visual  dela, de Cláudio Torres e Batman Zavareze. A banda de Marisa é composta por Dadi (baixo, teclado e guitarra), Davi Moraes (guitarras), Pupillo (bateria), Pretinho da Serrinha (percussão, cavaquinho e voz), Chico Brown (teclado, guitarra, baixo e voz), Antonio Neves (trombone, adaptações e arranjos de metais), Eduardo Santanna (trompete e flugelhorn) e Lessa (flauta e sax).

 

 

Entre os dias 16 de junho e 9 de julho, a turnê atravessa onze cidades em seis países na Europa. Se nos EUA a Clair Brothers deu todas as condições para manter a turnê com o mesmo desenho técnico do Brasil, na Europa foi preciso trazer o equipamento e o suporte da Gabisom do Brasil, já que as empresas contactadas não tinham os equipamentos do rider da cantora. A produção da turnê mandou o equipamento por avião de carga.

 

 

Dois caminhões atravessaram as estradas europeias com os equipamentos e o backline pela Italia (Milão, Cagliari, Perugia), Belgica (Antuerpia), Inglaterra (Londres), França (Paris), Portugal (Lisboa e Porto) e Espanha (Madri, Girona e Vigo). O único lugar que teve equipamento local foi Londres, tanto pela disponibilidade de equipamentos similares como peças condições de logística, já que não era viável transportar o equipamento de Antuérpia para Londres e de lá voltar ao continente, em  Paris, no tempo necessário.

 

Tomaz Sá, que é técnico de P.A. e monitor, mora em Belo Horizonte e foi no estádio do Mineirão conferir, para a Revista Backstage, a estrutura do áudio da turnê da cantora.

 

 

Entrevista

“Cheguei no Mineirão por volta das 10 horas da manhã, no dia do show, quase ao mesmo tempo da equipe técnica. Arthur Luna, que trabalha no monitor da cantora, me recebeu na porta e entramos juntos. Enquanto a equipe iniciava o dia de trabalho, comecei a conversar com Márcio Barros, o stagemanager. Márcio me contou que trabalha com Marisa Monte há quase trinta anos. Ele é o veterano da equipe, aquele tipo de profissional que tem um elo de confiança tão forte que o artista acaba levando junto para onde for. Márcio já trabalhou com nomes como Djavan, Maria Bethânia, Arnaldo Antunes e Barão Vermelho, entre outros, e carrega em sua cabeça todo o cronograma do dia. Eles vinham de 24hrs de montagem que normalmente seria dividida entre dois dias mas como o Mineirão um dia antes havia sido o gramado para o jogo da Libertadores entre Atlético e América Mineiro seu tempo havia sido reduzido, mesmo assim a dedicação da equipe fez com que os preparativos não saíssem do programado para a execução pontual do show.

 

 

“Enquanto organizava alguns itens na coxia, ele me contou que hoje fariam um tempo maior de passagem de som do que a tradicional uma hora de passagem de som para que Marisa Monte pudesse testar seus recém-chegados earphones, os quais Arthur Luna me mostraria mais tarde. A montagem do palco foi feita em cima do projeto ‘Anfiteatro do Mineirão’ da SleepWalkers Entretenimento, agência conhecida por realizar eventos como o Planeta Brasil, com o formato ativo no estádio desde 2017. A partir do projeto, é possível abrigar um público variável entre 3 e 10 mil pessoas. O espaço consiste na estrutura de palco montada dentro da grande área de um dos lados do campo de frente para a arquibancada e por cima de placas modulares de proteção ao gramado natural da Arena Governador Magalhães Pinto, o nome oficial do Mineirão, vigiado por seus funcionários de modo que ninguém se atrevia a sair da área estabelecida para a estrutura sob risco de ser repreendido.

 

“Neste ambiente tive a oportunidade de conhecer o empresário Silvio ‘Bibika’ Gomes, muito conhecido na cena do heavy-metal em Belo Horizonte e no Brasil por ter sido o primeiro empresário do Sepultura. Bibika havia acabado de chegar de Nova York e, em nosso breve papo, me contou que anda com empreendimentos de lá até a Arábia Saudita. Neste show, ele também é o empreendedor e produtor local. Por conta dele fica toda a estrutura de palco, painéis de LED e tudo o mais que não viaja junto com a produção do ‘Portas’. A estrutura pesada de som e backline foi fornecida pela Gabisom.

 

 

“Já a parte de RF fica por conta de Adriano Colado, que me convida para assistir a montagem do sistema. Colado utiliza duas interfaces Motu que podem ser alternadas através de um switcher sw8 da Radial promovendo a redundância do sistema. Os computadores MacIntosh rodam, simultaneamente, duas sessões iguais de Pro Tools de onde vem o teleprompter, a mix de soundcheck virtual, os vídeos do telão e o timecode já dentro do sinal de áudio (por protocolo LTC). Este protocolo é mandado para a SSL L650 de Daniel Carvalho, no FOH, e para a mesa de luz na house mix. Há também uma interface MIDI que manda o timecode para a Digico de Arthur controlando inclusive as mudanças de snapshot das consoles de modo que todos trabalhem em perfeita sincronia.

 

 

“Daniel Carvalho, o responsável pelo P.A., trabalha a partir de um imputlist de 59 canais. Ele teve à sua disposição, no mineirão, 16 elementos de cada lado com falantes D&B Audiotechnik GSL. Um dado interessante levantado pelo Daniel sobre esse modelo são os falantes laterais que cada caixa possui para aprimorar o padrão polar da caixa por meio de cancelamento de fase.

 

“Finalmente Arthur Luna, pode me mostrar os earphones recém chegados para Marisa Monte testar. Eram dois pares de modelos diferentes da Jerry Harvey customizados e feitos ao molde da orelha da artista. Um, era o Angie e o outro o Ambient FR. Este último funciona como um headphone open-back (aberto) onde você consegue escutar o som ambiente através de uma abertura lateral, que foi o escolhido por Marisa Monte.

 

“Pelo fato de eu ser também técnico de monitor, a nossa conversa acabou sendo mais longa, com muita informação sobre o funcionamento da turnê”.

 

Como você pegou essa gig e começou a trabalhar com a Marisa?

Comecei a trabalhar com a Marisa em outubro de 2021. Já tinha trabalhado com o Dani (Daniel Carvalho) antes no Los Hermanos e o Simon e a Maria, que fazem parte do escritório da produção da Marisa Monte, já tinham me chamado na época dos Tribalistas e eu não pude porque estava no Lulu (Santos). Agora meu pai (Willian Luna) está no Lulu Santos e eu vim topar o desafio, porque não sou muito de fazer monitor. Não era muito meu mundo até então, mas estou me divertindo.

 

Sua estréia no monitor está sendo agora?

Não, já fiz. Foi até no Los Hermanos, mas a última vez que eu fiz foi em 2019.

 

 

Como vocês preparam uma tour dessas? qual seu poder de decisão na pré-produção técnica?

É muito em conjunto, cada um dando um pouco de opinião no que ia precisar, no que seria essencial para trabalhar bem. Aí é reunião, e-mail, ZOOM pra caramba e depois ficamos ensaiando uns três meses. Fomos mudando um monte de coisa até a gente definir o que está agora. O input list, por exemplo está na versão oito eu acho. Já testei um outro rack de reverb, mas a gente testou esse e gostou mais. O bate-bola que define o andamento da coisa, o Marcinho (Marcio Barros -Stage Manager) tá aí há o maior tempão e ele conhece muito bem as necessidades. O  Dani gravou o disco (Portas, de 2021) com ela então ele também sabe os momentos todos da coisa.

 

O Artista faz muito input nessas questões técnicas?

Não muito, ela confia bastante no pessoal e os músicos são incríveis. A equipe técnica é só gente cascuda, a Marisa confia no pessoal de olhos fechados e ela sabe que nossas escolhas são boas, o Simon e a Maria, do escritório [da produção de Marisa Monte] também fazem questão de que a gente esteja trabalhando só com coisa legal. Isso é reconfortante, porque a gente está viajando com o sistema todo, com uma mesa que é relativamente nova, que saiu tipo em 2020, a (Digico) Quantum 338. A gente tava com a (Digico) SD7 Quantum antes.

 

 

Me fala um pouco do que vocês têm aqui na sua área do palco.

Estamos viajando com um volume considerável de outboard, tem o NEVE 5045 na voz dela, o reverb é o Bricasti M7, os microfones com cápsula sE (Corpo do mic é Shure com cápsulas intercambiáveis V7 MC1 da sEElectronics) nas vozes, temos um SSL Fusion insertado somente para o in-ear da Marisa, um sistema Galileo (Meyer Sound) que é para o side que são (um line-array de) seis elementos de “Meyer M’elodie” e um sub (aéreo) de 500 HP (de cada lado).

 

 

Você volta muito efeito para os músicos pelo monitor?

Eu tenho um auxiliar de efeitos para cada um. Tenho até uma compressão paralela de bateria. O batera usa um “roomzinho” (reverbroom), o Pretinho tem um “Hall” (reverb hall) que eu uso para conga, cuíca, cavaco. No Dadi eu tenho um delayzinho na guitarra, porque ele toca guitarra em duas músicas, Chiquinho tem um reverb na voz e no violão e no Davi Moraes eu não uso nada. Nos metais eu uso também um “Plate” separado para cada um e a Marisa tem o Bricasti (M7) e o reverb interno da Digico. Fica uma soma dos dois.

 

O Avalon (VT-737sp) é o pré que ela usa?

Não,  Eu gosto de ter ele à mão para uma compressão ou equalização mais fina. Na mesa digital, às vezes, você está em outra página fazendo alguma coisa. Desse jeito, a voz está ali [no Avalon] e fica mais fácil ver a compressão, e é valvulado, analógico, mais macio. Eu acho interessante, mas é um luxo né? Temos também 16 canais de PSM1000 (sistema in-earda Shure). São 12 canais de Axient Digital (sistema de transmissão sem fio da Shure) para vozes, instrumentos etc… Temos também uma via de equipe para comunicação interna que é todo mundo (roadies, direção de palco, técnicos..). O Adriano (Colado) tem uma via dele que é um pouco mais na cara pra ele poder entender o que está rolando, porque o timing do show está na mão dele. Inclusive os disparos para começar uma música.

 

 

Vocês adequam o rider ao espaço?

Na verdade é um rider só, porque a gente viaja com tudo né? Montamos tudo. Nós reduzimos algumas coisas como na turnê dos EUA (durante o mês de março). O Colado, por exemplo, a gente colocou na via (de comunicação) da equipe, economizando aí uma unidade de PSM1000, por que isso lá fora fez um pouco de diferença. Fizemos treze shows lá viajando com a Clair (Clair Brothers) e foi demais. Aprendemos pra caramba. No primeiro dia, o Calvin, o tech que viajou com a gente, já marcou todos os pedestais e todos os microfones, porque era tudo de engate rápido. Então a gente usava muito do “stagehands”, que era o pessoal local que ajuda. Já chegava, posicionava os pedestais e a galera já plugava os microfones. A montagem era muito rápida, muito eficaz, porque lá tudo também tem um lance de sindicato. Por exemplo: tem um teatro que tem “darkstage”, então eles param na hora do almoço e, durante uma hora, você não pode nem pisar no palco. Uma hora antes do show acontece a mesma coisa, então tudo tem que ser bem ágil, e a gente estava viajando num ritmo bem corrido. Quanto à redução de equipamentos, não tinhamos o SSL Fusion, não viajávamos com o side, nem com o Galileo e nem com o reverb externo.A única coisa de outboard que levamos foi o Neve (5054). Reduzimos também um pouco as vias de in-ear por exemplo. Temostrês vias de equipe e mais uma de vídeo aqui porque às vezes vem um pessoal de vídeo de mídias sociais. Tinha uma que a gente usava pra fazer mídia pro Instagram que a gente teve que cortar. Então, ao invés de 16 canais de PSM1000 estávamos, acho, com12, o que é uma redução considerável. Ainda tem uma via de convidado que a gente sempre mantém. No mais, o setup foi bem parecido e ficamos bem confortáveis de viajar com a Clair. Aprendemos muitas coisas de ligação com os caras, até de práticas bobas do dia-a-dia, que lá é super bem feito. O gaveteiro deles é todo arrumadinho, identificado com label... Uma organização que a gente não vê muito por aqui.A única vez que vi algo parecido foi com a SSE, uma empresa em Londres. Eu fui fazer Lulu Santos. Fizemos um show só e os caras até plotaram a logo do Lulu no sub-snake.

 

 

 

O equipamento é o mesmo do lançamento não é? Vocês lançaram foi no Jeneusse Arena é isso?

O lançamento ia ser no Jeneusse Arena, mas acabou que não foi (o show foi adiado de janeiro para maio). A Marisa teve Covid e estreamos de verdade o show no Espaço das Américas com todo esse setup mas com algumas pequenas alterações. No primeiro show, a gente estava com a (Digico) SD7 Quantum e não com a 338, que acaba sendo uma mesa menor e mais fácil de transportar.Eu que escolhi a 338.A gente viaja sempre com a mesma 338 e tem uma SD10 de backup.

 

O que a Marisa gosta no monitor?

Eu faço a mix pós-fader.  Então mando uma mix que já mais ou menos do meu gosto para o fone dela. De intervenção de banda, ela nem tem muita preferência e acabamos chegando num acordo nesse sentido. Ela gosta bastante de reverb na via dela, o que é um pouco diferente do meu gosto, mas no geral não é difícil entender o que ela quer.

 

 

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