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SUMÁRIO / Sumário

Nelson Faria e o corre do músico

17/02/2022 - 10:42h
Atualizado em 18/02/2022 - 14:32h

 

Nascido em Belo Horizonte, o guitarrista, compositor e arranjador cresceu e se interessou por música em Brasíia, onde morou com a família até ir estudar no Guitar Institute of Technology, atual Musicians Institute, em Los Angeles, na Califórnia, EUA. Lá foi aluno de Frank Gambale, Joe Diorio, Ted Greene, Scott Henderson e Joe Pass entre outros.

 

Quando voltou ao Brasil, logo se mudou para o Rio de Janeiro, onde já entrou direto no universo da “música de alto rendimento”, com Nico Assumpção, Mauro Senise e toda a cena carioca da época. Enquanto desenvolvia a carreira solo como músico e dava aulas, tocou e gravou com João Bosco, Nana Caymmi, Toninho Horta, Milton Nascimento, Wagner Tiso, Paulo Moura, Edu Lobo, Gonzalo Rubalcaba, Ivan Lins, Nico Assumpção, Cássia Eller, Leila Pinheiro, Marcos Suzano.

 

A carreira de professor o levou a dar aulas em universidades no Brasil e no exterior como professor convidado na Örebro Universitet,Ingesund Universitete e Royal College of Music, todas na Suécia. Hoje, é apresentador da série Um Café Lá Em Casa, transmitida no YouTube e na TV pelos canais Arte 1, Futura e Music Box Brazil.

 

Nelson também construiu uma plataforma de aulas online de música chamada Fica a Dica Premium, que tem como professores nomes como o colaborador da Backstage Daniel Figueiredo, de quem é sócio em alguns cursos na plataforma, Leila Pinheiro, Joyce, o baixista Kiko Freitas, o baixista Ney Conceição e muitos outros.

 

Foi Daniel Figueiredo quem colocou em contato a Revista Backstage e Nelson Faria, que aproveitou um intervalo nas aulas e workshops que ministrou na edição deste ano do Primeiro Festival de Verão de Campos do Jordão, acontecido entre os dias 22 de janeiro e 13 de fevereiro, para dar, por telefone, uma detalhada entrevista exclusiva.

 

 

 

 

Com foi o início do seu envolvimento com música? Já foi com a guitarra, teve algum outro instrumento?

Quando eu era criança,com uns sete ou oito anos, eu comecei a tocar piano. Minha mãe tocava e foi o meu primeiro instrumento, mas meus irmãos tocavam violão. Tinha um irmão um pouco mais velho e uma irmã adolescente que tocavam violão muito bem, e aí descobri também que o violão eu podia levar para os lugares, o piano eu não podia levar...(risos). O meu primeiro instrumento de fato que eu comecei a tocar mais foi o violão. A guitarra eu descobri quando fui para os Estados Unidos, já mais tarde. Com 19 anos eu fui para os Estados Unidos e lá comprei minha primeira guitarra, porque até então eu só tocava violão.

 

 

Então você foi para o GIT tocando violão?

Fui tocando violão, mas já com a intenção de tocar guitarra, porque no violão meu repertório sempre foi MPB e bossa nova e eu fui para os Estados Unidos buscando o jazz. No jazz, o instrumento é mais a guitarra que o violão, e aí comecei a me adentrar nesse mundo e me apaixonei pelo jazz, pela guitarra e hoje em dia me considero mais um guitarrista do que um violonista, apesar de gostar de tocar violão também.

 

 

São dois instrumentos muito similares em vários aspectos, mas o que faz você se ver mais como um guitarrista do que um violonista?

É engraçado. Osdois instrumentos tem várias similaridades, mas ao mesmo tempo tem muitas diferenças. É nítido quando você vê um violonista tocando guitarra e um guitarrista tocando violão, porque tem toda uma abordagem técnica que é diferente. O som do violão, por ele ser um instrumento acústico, tem que ser feito com as mãos. Para ter volume, tem uma forma de tocar para tirar o som do instrumento. Já a guitarra não. Ela já vem com o volume. O trabalho é outro. É conseguir fazer a dinâmica, tocar pianíssimo e fortissimo em um instrumento que já está amplificado. O toque no instrumento é bastante diferente. São detalhes que viram coisas gigantescas. Quanto mais você conhece o seu instrumento e estuda, mais descobre que as sutilezas são, na verdade, diferenças gigantescas, mas que aos olhos dos leigos, de uma forma geral, são detalhes. Os detalhes para quem usa lupa podem vir aser coisas gigantescas (risos).

 

 

 

 

No GIT você teve professores como Joe Pass, Scott Henderson, Frank Gambale... Os caras que vão do fusion até o jazz mais “puro”. Como foi essa experiência? Foi importante fazer esse curso lá fora mesmo?

Eu fui pra lá em 1983. Nessa época aqui no Brasil tinha pouca coisa em termos de música popular. Não tínhamos nada bem estruturado em termos de improvisação, jazz, etc.Sempre tivemos uma tradição boa na escola clássica, mas na música popular eram mais aquelas escolinhas que ensinavam a tocar uma música aqui, outra ali... Não era um estudo profundo de harmonia, contraponto, arranjo, técnica e improvisação. A música popular era uma coisa menor no nível acadêmico. Nem na universidade tinha, só tinha música erudita. Quando cheguei aos Estados Unidos, encontrei uma realidade muito diferente.A música popular já era muito bem estudada, organizada... Já havia as universidades de jazz. Entãoencontrei uma sistematização de estudo da música popular, da improvisação e da harmonia jazzística muito bem feita e organizada. Eu me aproveitei muito disso e, como sempre tive uma veia muito didática, voltei de lá e reorganizei essas coisas para uma linguagem brasileira. Acabei escrevendo livros sobre isso, sobre improvisação e música brasileira.

 

 

Você voltou quando?

Voltei em 84. Foi um curso de um ano, mas um ano imersivo. Ia para a escola de manhã e voltava de madrugada, porque uma parte do aprendizado vem dos nossos professores, mas existe uma outra parte enorme que tem de ser feita por nós mesmos, não tem como delegar para ninguém. Na música além de entender você tem que passar isso (que você entendeu) para a habilidade de executar. Ah, entendi que nesse determinado acorde usa essa escala... Agora,vai fazer música com isso!Tem que sentar horas e horas e muitas horas para que você comece a entender o processo musical, porque o processo intelectual você entende rapidamente. Quer dizer... rapidamente... (risos). Você consegue ter um entendimento para nível profissional em poucos anos, mas para colocar isso na prática e isso virar música tem toda uma questão motora, física, de você entender o tempo fisicamente, de como você faz as subdivisões, e isso é uma coisa que a gente trabalha para o resto da vida. Então para mim esse um ano (nos EUA) foi um ponto de virada na minha vida. A partir dali eu entendi que caminho eu poderia trilhar para me desenvolver como o músico que eu gostaria de ser. Eu segui nesse caminho e vim trazendo várias pessoas comigo, porque uma das coisas que aprendi também lá fora foi o valor do compartilhamento. Aprendi que você ensinar é uma das coisas que, de fato, ajudam a sedimentar aquilo que você sabe. Então eu sempre fiz do compartilhamento uma postura na minha vida.

 

 

Quando você fala de transformar essa informação em música você está falando de interpretação? De uso de recursos como o vibrato, digitação e conseguir uma fluência, uma expressão, e conseguir pensar e isso sair naturalmente?

Eu costumo dizer que a música é um processo que tem etapas: tem a questão de saber o som que você quer, em que local do braço que esse som está no instrumento, depois entender a função daquele som na música. A função do som na música podemos traduzir por sensação. Qual a sensação que aquilo traz, se é de resolução, de tensão, se é de expectativa, se é uma resolução deceptiva... Tem gente que fica aqui, mas se você consegue, além disso, saber a função de cada nota, começa a passar para o nível profissional mais avançado. E se você ainda consegue entender todas as notas que está tocando, a função, saber o som e em que lugar do braço, você completou esse esqueminha. Aí você vai saber que em cada tonalidade diferente aquele som, aquela sensação, vai ser uma nota diferente. A função é a mesma, mas a nota muda. Então você começa a entender a coisa de uma forma global e vai fazendo isso em espiral. É um trabalho para o resto da vida, porque a gente vai e esbarra em uma sonoridade nova, um acorde que nunca tinha visto antes... Estou aqui (no Festival de Campos do Jordão) trabalhando na big band e somos três arranjadores: eu, o Rafael Rocha e a Debora Rangel. Cada um trouxe os seus arranjos, e eu fico ouvindo os arranjos dos meus colegas com sonoridades incríveis. Fico fechando o olho e tentando entender aquele som, com a orquestra tocando...

 

 

 

 

Tem isso: você falou do braço do instrumento, mas você já deu esse salto há algum tempo para o arranjo, aí entram as regiões dos instrumentos, as sonoridades deles juntos, o que funciona, o que não funciona...

Aí já é um outro leque que abre. A música realmente é meio que um saco sem fundo (risos). Costumo dizer aos meus alunos o seguinte: não tem um ponto de chegada, porque quando você chega lá, vê que aquele ponto não é a chegada. ´É só uma parada numa estrada maior ainda.

 

 

Você chegou a fazer curso de arranjo e composição ou estudou isso como autodidata?

Eu fiz, em janeiro de 2001, uma temporada em Nova York porque ganhei uma bolsa do Ministério da Cultura chamada Bolsa Virtuose. Hoje em dia não tem mais. Era uma bolsa para músicos acima de 30 anos que quisessem fazer algum aperfeiçoamento fora do país, ou mesmo no país. Eu fui para Nova York estudar arranjo, escrever para orquestra, e passei seis meses lá com essa bolsa estudando de uma forma super imersiva e intensiva. Foi muito legal e aprendi muita coisa, mas obviamente é igual o GIT: fiz o curso de um ano e até hoje eu estudo o material que aprendi lá. Fiquei seis meses em Nova York nesse trabalho intenso de arranjo, de aprender... Não era mais aprender, porque eu já tinha escrito muita coisa, e até gravado um disco com orquestra, mas era tudo de orelha, na intuição. Aí eu fui pra lá, e em pouco tempo absorvi muito material.  Esse estudo que eu fiz lá me ajuda até hoje.

 

 

Voltando para a progressão da carreira, você volta dos EUA, do GIT, e chega aqui em um cenário em que você tinha a possibilidade de ser músico de estúdio e tocar com artistas como sideman. Era também um momento em que tinha uma projeção a música instrumental. Que caminhos percorreu para continuar vivendo de música e como isso foi mudando?

Quando eu fui para os EUA morava em Brasilia.Então quando voltei fui para lá, na casa dos meus pais, e comeceia trabalhar lá mesmo, tocando na noite, mas sempre o repertório de música instrumental. Tocava direto, de terça a domingo, todo dia, porque eu queria pegar cancha esaber as músicas todas de cor. Aí aconteceram algumas coisas: eu voltei em 84. Em 1985, 86 teve o Primeiro Seminário Brasileiro da Música Instrumental, em Ouro Preto, que foram 20 dias de música o dia inteiro com aulas e shows, produzido pelo Toninho Horta. A gente brinca que foi o primeiro e único, né(risos)? Porque foi o primeiro e nunca mais teve. O Toninho me chamou para dar aula efui professor lá. Eu era muito novo. Tinha uns 23 anos,mas estava com muito material que eu tinha trazido de fora, e ali conheci muita gente do Rio, de São Paulo... Muito músico do cenário. Essas pessoas começaram a me convidar para ir tocar. Estava morando em Brasília mas ficava fazendo essa... Não vou dizer ponte aérea porque ia sempre de carro... (risos). Um dia, lembro que estava no Rio, tinha feito um show com o Mauro Senise e ele me falou: “você tem que mudar pra cá, cara. Eu falo que tenho um guitarrista muito bom que mora lá em Brasília...(risos).... Aí o cara desiste de te chamar!”. Eu já estava casado desde os 22e com um filhinho. Aí conversei com a minha esposa e resolvemos encarar. Quando eu vim para o Rio, lembro que saí de Brasilia em um sábado, cheguei em um domingo e liguei para o Mauro, “mudei e estou aí. Vim com tudo e preciso trabalhar. O que eu faço?”. Ele disse: “Nelson, toda a segunda-feira tem uma jamsession no JazzMania que quem conduz é o Nico Assumpção”. O Nico era um baixista genial. Não o conhecia pessoalmente, só da música mesmo. Aí me lembro que fui lá no JazzMania. O Nico tocou com a banda dele no primeiro set. No segundo, ele convidou para quem quisesse tocar subir no palco. Esse momento foi decisivo na minha carreira. Eu subi para tocar e estava muito preparado. O repertório todo eu vinha tocando lá em Brasilia. O Nico ia puxando as músicas e eu sabia todas elas. E então, quando fui sair e entregar a guitarra, ele chegou e disse, “não bicho, não desliga. Você vai ficar com a gente aqui até o fim”. Fiquei com ele lá e aí, quando acabou, o Nico virou para o pianista, o Marinho Boffa, e disse: “olha aí o guitarrista que você tava procurando”. Nessa hora comecei a tocar com o Marinho. Fizemos até um daqueles shows de música instrumental, gratuitos, com 10, 15 mil pessoas no Parque da Catacumba. Ele tocava com o Antônio Adolfo, que ia fazer um Free Jazz... Ou seja, eu dei uma canja no Rio que me colocou no Free Jazz, que era o maior festival de jazz do Brasil na época. As portas se abriram.

 

 

 

 

O Nico sempre foi muito generoso comigo. Era um cara que conhecia o mercado muito bem e  foi me colocando nos trabalhos, e foi assim até eu tocar com o João Bosco. O Nico tocava com o João e começou a bater no ouvido dele: “você tem que chamar o Nelsinho...”. Toquei 12 anos com o João, acabei virando arranjador e diretor musical. Tudo o que o João faz com orquestra, ou quase tudo, os arranjos são meus.Fiz uma relação muito forte com o João e toquei também com várias outras pessoas. Gravei com todo mundoe fui fazendo a minha carreira. Paralelamente nunca deixei de dar aula. Tenho oito livros de música escritos e quase vinte CDs meus. Já gravei em uns 300 discos de outras pessoas, acabei tocando bastante com muita gente e desenvolvendo também uma carreira na área didática. Também trabalhei na área acadêmica. Fui professor de Universidade por vinte anos: 12 aqui no Brasil e oito anos na Suécia. Morei lá por oito anos. Abri bastante o leque. Queria abrir o leque e abri mesmo... (risos).

 

 

E foi na volta da Suécia que você começou a fazer o programa Um Café La em Casa?

Foi lá ainda, porque eu ficava indo e voltando. Eu era professor contratado da Universidade mas tinha uma possibilidade de organizar os horários bem flexível. Então eu podia, por exemplo, pegar as aulas do semestre inteiro e dar em dois meses. Aí dava a aula em março, abril e até a metade de maio, vinha para o Brasil e só voltava pra lá em agosto, dava aula em setembro, outubro e novembro, voltava para o Brasil e ficava até março. Fiquei meio que morando nos dois lugares. Nesse momento, estava um dia no Brasil... Já não tocava mais com o João Bosco, mas eu falei com o João e ele ia participar do Prêmio da Música Brasileira em uma edição que foi em homenagem ao Tom Jobim (13ª edição do Prêmio da Música Brasileira, em 2013). Eu tinha gravado, na Alemanha, com a Big band de Frankfurt(Live in Frankfurt – Nelson Faria & Frankfurt Radio Big Band. Álbum de 2011). O João Bosco ouviu o disco e eu tinha feito um arranjo para Dindi. Tinha ali uns negócios no arranjo que o João gostou. Aí o João me ligou, “você tá em casa? Posso ir aí tomar um café?”. Ele subiu lá em casa e pediu para explicar um lance que eu fiz porque ele queria usar no prêmio da música. Chegou um momento em que perguntei se poderia gravar o que a gente fez. Eu não tinha Youtube, só vídeo de Facebook. Mas eu abri, gravei a gente tocando e perguntei, “posso postar isso aqui?”. Ele disse, “pode”, e postei no Facebook. Isso foi em 2013. Lembro que postei isso e, quando abri o meu Facebook, tinha saído completamente da curva. Tinha umas mil curtidas, e o normal era dez curtidas e umas 25 visualizações. Tenho um filho que é cineasta e fotógrafo e uma filha que é jornalista. Eles me falaram que eu poderia aproveitar isso. “Você conhece todo mundo aí da música, já gravou com todo mundo, vamos chamar para fazer exatamente isso o que o João fez, com um café... Vamos fazer um café lá em casa”. Aí em uma dessas voltas minhas no Brasil falei: “gente, vamos gravar aquele negócio?” Aí começamos. Na verdade, gravamos dois programas que não deram certo. Ficaram ruins tecnicamente. Depois gravamos mais um programa que já deu para colocar no ar. Aí gravamos dois programas e ficamos sem saber o que fazer com eles. Queríamos tentar colocar em uma TV...Tentamos mas não conseguimos nada até que meu filho falou: “temos oito programas aqui. Vamos chamar de Um Café lá em Casa e colocar no Youtube?”. Isso em 2015 já, um ou dois anos depois do lance com o João Bosco. Aí enviamos os programas e enquanto eles estavam indo ao ar, gravava mais. Hoje temos quase trezentos programas no ar, acabou indo para a televisão no Arte 1, para o Music Box Brasil, etc.

 

 

Dos anos 80 para os 90 já teve uma redução do campo de atuação do músico. As orquestras de emissora foram desmanchadas, o sintetizador entrou pesado no jogo e dos 90 para os 2000 mais ainda: se passou a usar os eletrônicos. Nem sempre quem tem a formação do músico encontra esse campo para atuar. Como é hoje? A parte didática é mesmo o grande campo do músico que tem formação?

No meu caso, hoje em dia, a partedidática tem uma presença muito forte. Em 2017, dois anos depois que iniciou o Café Lá em Casa, comecei a pedir dicas para os convidados. De repente,esses programetes pequenos, só com as dicas musicais, começaram a dar mais audiência do que o programa em si. Aí o Youtube abriu um programa de canal por assinatura e eu pensei: tá na hora de a gente fazer um canal por assinatura e fazer as dicas só em um canal específico. E como vai ser só dicas vou botar o nome de “Fica A Dica Premium”. Só que isso durou um seis meses e o Youtube já acabou com esse lance do canal por assinatura. Ou seja, acabou com o meu negócio(risos). Nessa hora entrou meu terceiro filho, o filho do meio, que é engenheiro e trabalha com TI. Ele disse: “pai vamos fazer o seguinte: vamos montar uma plataforma nossa. Eu programo ela do zero e a gente monta os cursos nela”. Montamos a plataforma em 2017. Comecei em janeiro no Youtube. Em setembro montei a plataforma própriae chamei meus amigos todos. Chamei Toninho Horta para colocar aulas lá, chamei Joyce e Roberto Menescal, Filó Machado, Nei Conceição, Kiko Freitas... Hoje em dia tem uns 40 professores lá. Então, em 2017, eu construí isso e comecei a investir bastante nessa área de educação online, não presencial. Quando a pandemia veio deu um empurrão no meu negócio, porque todo mundo foi para o online. Já tinha uma plataforma recheada de cursos, bateria, baixo, violão, canto... estilos diferentes, Leila Pinheiro é professora lá, Cris Delano... Muita gente. Então eu tinha uma plataforma robusta que já estava rodando e triplicou o número de alunos (na pandemia). Então o meu foco de dedicação hoje, além de estar tocando, é o curso online, que eu adoro fazer, adoro compartilhar.E essa relação com os alunos no online também é muito legal, temos lá um grande fórum onde as pessoas ficam lá conversando e mandam vídeos tocando, o professor comenta, o aluno faz uma pergunta... é muito dinâmico e a gente está em contato com os alunos 24 horas.Estou muito feliz com isso. Hoje essa parte didática é o meu carro chefe.

 

 

 

 

O que você usa hoje para tocar guitarra?

Isso engraçado, porque fui fazendo um caminho que talvez seja o inverso das pessoas. Quando voltei dos EUA estava cheio de equipamento. Tinha vários pedais, rack, guitarra MIDI... Isso foi bom para mim quando cheguei no Rio. Pouca gente tinha guitarra MIDI, e era um momento no qual também eu queria abrir meu leque no mercado. Estava tocando rock com a Cassia Eller, queria tocar pop, de tudo. Então precisava ter vários instrumentos. Mas aos poucos fui achando a minha assinatura, e com isso fui tirando tudo. Então eu brinco que, hoje em dia, eu uso a guitarra e um cabo e pergunto, onde é que eu ligo isso aqui por favor? (risos). Estou bem minimalista. A única coisa que peço é colocar um pouquinho de reverb, mas não uso mais nada: chorus, compressor, equalizador, distorção... não uso mais nada. E eu toco com guitarra acústica.

 

 

Qual a dica para o músico jovem?

Acho que hoje estamos no melhor momento do músico. Tem gente que acha que não, mas eu vejo que sim. Vejo que, pela primeira vez na história do músico... Digo o músico porque o artista sempre teve visibilidade, sempre esteve no rádio, na TV, mas músico sempre foi uma peça descartável nesse processo. Tanto faz se quem está tocando é Joaquim, Nelson, tanto faz quem é o baterista, porque importante é quem está ali na frente . Hoje o músico tem como encontrar quem curte o trabalho como músico em qualquer lugar do planeta. Ele só precisa ter um celular conectado. O Mateus Asato... Ele conta a história dele no programa. Ele é um menino que nunca tocou na banda de ninguém, e o que ele fez? Foi estudar na mesma escola em que estudei. Só que, para mostrar aos amigos dele como estava sendo a evolução, todo dia ele chegava em casaegravava um video. Começou a ter cada vez mais visibilidade e, hoje em dia, tem sete milhões de inscritos e aonde ele for tocar abarrota de gente. Quer um conselho? Entra nas redes sociais e mostra a sua cara. Não espere que do dia para a noite ter milhões de seguidores. Outra coisa é que as pessoas ficam querendo receber remuneração do Youtube, mas o Youtube vai pagar uma merreca. Oque vai acontecer é que você vai encontrar as pessoas que gostam do seu som, e você vai anunciar onde vai tocar e elas vão ver. Vai lançar um disco e elas vão ouvir. Outra coisa que mudou é que antes as pessoas ficavam tocando a música que os outros querem ouvir, para agradar ao mercado. Hoje em dia não. Você faz a música que você quer e encontra os malucos que gostam. Basicamente é encontrar sua tribo.

 

 

Para saber mais:

https://www.ficaadicapremium.com.br/

https://www.youtube.com/channel/UCC8sjLWfha4fPIgQXIT5tcQ

 

 

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