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Entrevista Cesar Portela: vale a pena ter equipamento analógico?

24/03/2022 - 10:53h
Atualizado em 24/03/2022 - 15:20h

 

O projetista, restaurador de equipamentos e colunista da Revista Backstage, Cesar Portela começou a carreira no final dos anos 80 fazendo manutenção em equipamentos de som em geral. Em meados dos 90 abriu uma empresa especializada em manutenção e projetos eletrônicos para dar suporte às empresas de sonorização ao vivo, estúdios de gravação e emissoras de radio e TV. Em 2010 passou a projetar os primeiros circuitos de pré-amplificaçãoque resultaram no pré-amp Deep Blue Audio, hoje adotado como pré-amp principal por vários estúdios pelo país a fora. Em 2015 começou a atuar como restaurador de microfones históricos dos anos 50, 60,70 e 80, o que se tornou a atividade principal dele. 

 

 

Nestes anos, como a sua atividade mudou na medida em que os equipamentos digitais foram avançando na atividade do áudio?

Na realidade minha atividade mudou muito pouco. Foi mais uma questão de adaptação à mudança da tecnologia. Porque desde o final dos anos 80 nós convivemos com equipamentos analógico/digital. É fato que a balança foi pendendo bem mais para o lado do digital.

 

 

Mesmo com o digital tomando conta de todos os estágios da atividade em áudio, ainda hoje há uma procura por equipamentos analógicos. A que você atribui isto? São modismos? Tem fundamento?

Para uns é um “lance legal” puro modismo, para outros tem total fundamento. O equipamento analógico projetado para uso profissional tem característicaselétricas como distorções harmônicas, alto Headroom e elevado MOL  que influi totalmente na “coloração do som”. Até onde eu sei, não conseguiram simular isso. 

 

 

Quando vale a pena obter um equipamento vintage?

Vale a pena quando o equipamento realmente é de uso profissional e está em perfeito funcionamento. O resultado é sem igual.  Diferente disso não compensa, só vai adicionar ruídos e chiados na gravação.

 

 

Há equipamentos vintage mais e menos procurados? Por exemplo: as pessoas procuram mais pré-amplificadores que reverbs?

Sim. As pessoas procuram mais pré-amps. Acho que todos querem “aquele” som com a identidade que só um clássico tem.

 

 

Às vezes, ao se falar em “equipamentos vintage”, se esquece que isto também envolve todo um histórico do equipamento em termos de manutenção e forma de uso. Qual a importância destes fatores ao se procurar um equipamento vintage?

Em minha opinião essessão osfatores mais importantes. Existem “marcas de uso” que sãoirreversíveis.  Deve-se tomar cuidado. O aspecto geral do equipamento já vai contar um pouco da história. Mas o interior é que vai revelar como ele foi tratado durante todos esses anos. Por muitas vezes serviços mal feitos comprometemo equipamento em definitivo.

 

 

Na sua experiência, é possível chegar perto, com plugins digitais, dos originais analógicos como pré-amplificadores, compressores e efeitos de reverb físicos? Pelo que pode perceber, ainda haverá lugar para equipamentos analógicos em médio e longo prazo?

Em se tratando  de pré-ampsnão funciona... O microfone + Pre-amp é o primeiro elo do sinal de áudio numa gravação. Láécaptado e amplificado o som com todos os detalhesde um instrumento. Pode criar uma ilusão, mas não chega perto da realidade.Mas para outros periféricosé possível chegar perto. Porem não dá pra comparar no teste A/B. Para uma bela fatia do mercador acredito que o analógico vai durar por um longo tempo.

 

 

Tem algum tipo de equipamento analógico que você considere um “modismo”? Que o custo-benefício não compensaria diante de um equipamento digital com funções similares?

Talvez alguns modelos de reverbs...Rsrs

 

 

Há muito que os investimentos e a pesquisa para se projetar equipamentos analógicos diminuiu bastante. Mas ainda há algum avanço possível de ser notado neste tipo de equipamento? Em reedições por exemplo. Ou na qualidade de componentes, como válvulas. Que avanços é possível acompanhar no terreno analógico?

Sim. Existem reedições muito boas com componentes de alta qualidade. Falando dos componentes, houve um aumento na qualidade e variedade.  Principalmente nos resistores e capacitores. Maso grande avanço tecnológico está na geração de analógicos digitalmente controlados. Eles combinam o melhor dos dois mundos com o som do analógico e a praticidade do digital. De uma forma bem simples, trata-se de um equipamentoanalógico com potenciômetros A/D que mudam o seu valor ôhmico por meio de informações digitais, não interferindo no sinal analógico. Onde o plug-iné apenas o controle remoto via USB.

 

 

Pelo projeto, construção e qualidade, que equipamentos mais te chamam atenção? Quais você mais gosta?

Gravadores Studer , Pre-amp/ Equalizador Neve 1081 e Genelec 1031A

 

 

E qual as pessoas mais gostam, pelo que pode ver na sua atividade? Por que acha que este equipamento tem a preferência dos seus clientes?

Desculpe, tenho que citar mais de um. Clássicos como Urei 1176, Pultec Eqp1,Teletronix LA-2A e os Neves dos anos 70 sãoos mais amados pelos  meus clientes. Tenho certeza que a preferência vem pelo maravilhoso resultado sonoro de cada um deles.

 

 

Algo mais que gostaria de acrescentar?

A questão entre o analógico e digital não se trata de melhor ou pior. Cada um tem seus pros e contras, e cada um tem seu público. Acho que eles se complementam no universo da produção artística. Éverdade que é necessário um alto investimento financeiro para comprar e restaurar um equipamento vintage / histórico e nem todos estão dispostos a fazer isso. Por outro lado, não se discute que o uso de plugins é muito mais acessível e ágilna produção do áudio.

 

 

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