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Rio das Ostras Jazz & Blues Festival: Entrevista com Stênio Mattos

01/11/2021 - 02:11h
Atualizado em 01/11/2021 - 12:13h

 

 

Como a pandemia impactou o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival?

Foi assim: o festival de 2020 que seria realizado em sua data habitual (Feriado de Corpus Christi) já estava montado, artistas contratados, patrocinadores já captados, tudo pronto, então veio a pandemia. Parou tudo com todos os contratos com músicos sendo refeitos e com os patrocinadores, tenho que destacar a atitude, parceria e entendimento deles de nos tranquilizar e termos calma que estaríamos juntos até o fim. Analisando, somente, o impacto em si e não falando que todos nós músicos, produção, a cidade que vive do turismo, ficamos sem trabalho quase 1,8 meses, foi de não ter tido a a edição de 2020 e adiarmos em 2021 da data normal. Tentando tirar um lado positivo de tudo isto que todo o MUNDO passou, graças a Deus e pelo festival ser organizado e profissional, como ele é, como disse ele em fevereiro de 2019, já estava tudo pronto, caso contrário, enfrentaríamos problemas agora. Como se captaria, em 1 mês (data em que ele foi autorizado pelos orgãos Federias, Estaduais e etc...) patrocínio e depois de uma pandemia, crise financeira, etc.? Seria  impossível!

 

 

Vocês chegaram a fazer uma live do festival, não chegaram?

Em 2020 e também agora, em 2021, em junho, nas datas do festival, para não deixar passar em branco. Em 2020, fizemos outra com os artistas internacionais que vão estar aqui. Eles se dispuseram a fazer videos dizendo “em breve estaremos juntos...” e shows exclusivos para o Festival, foi muito legal!  Em 2021 já foi com uma outra tônica. Como a coisa piorou bastante no decorrer de 2020, com os músicos e a classe cultural se ferrando todos, fizemos uma live só com músicos de Rio das Ostras visando gerar renda para eles. Uma ajuda. Fizemos em um teatro aqui, com toda a segurança, só com a equipe de produção presente, com os músicos da cidade e foi muito legal, deu muita audiência. Colocamos também os banners dos patrocinadores para eles sentirem que estão participando. Mas isso com toda a permissão de todo mundo. Nada a gente fazia sem a autorização um do outro.

 

 

Você participa de associações internacionais de evento, não é? Como isso ajudou?

Sou presidente da ABRAFEST (Associação Brasileira de Produtores de Festivais de Jazz e Música Instrumental), membro da La Red Cultural Connections Latin America (associação de produtores culturais dos USA, África, México e países da América do Sul) e da APRESENTA (Associação dos Promotores de Eventos do Setor de Entretenimento e Afins). Por conta disso, e durante toda a pandemia, ficamos em contato (USA, Europa) realizando vídeoconferências, nos atualizando, sabendo o que estava acontecendo aqui e no mundo, tentando arrumar soluções, idealizando protocolos a serem seguidos e mantendo contato. A cada 20 dias eu fazia relatórios dessas reuniões para os patrocinadores. Por quê? Para que eles ficassem sabendo como estava a situação e passar segurança a eles. Com os músicos, a mesma coisa. Em um primeiro momento cancelamos todos os contratos e ficamos pré-agendados para uma agenda futura. Esse festival ia ser em junho de 2020. Em uma primeira tentativa transferimos para setembro de 2020. Isso tudo sempre comunicando músicos, prefeitura e os patrocinadores no terreno das possibilidades, sem nada oficial. E sempre ligados no que acontecia lá fora. Nos contratos, entrou, pela primeira vez por parte deles, uma clausula de que o show só aconteceria se ambas as partes se sentissem seguras em relação à covid. Se um ou outro não se sentisse seguro, o contrato seria cancelado e ninguém pagaria nada por isso.

 

 

E eles querem se associar a uma imagem de segurança e saúde, não é?

Com certeza. Lógico que todos estavam ansiosos para que acontecesse, mas nenhuma ansiedade acontecia no sentido de chegar e tentar apressar alguma coisa.  A cidade está precisando? Está. Mas transmitimos uma confiança muito grande para os patrocinadores. Por quê? Porque eu tive uma relação mantendo-os sempre informados. Ao mesmo tempo ficava pensando: será que esses caras vão pensar que estou enchendo o saco deles? Mas não. Eles gostavam porque estava tudo sendo monitorado e ficaram muito seguros, e isso foi muito legal porque eles vestiram a camisa e me disseram que confiavam no que estávamos fazendo. Para você sentir como foi o processo: nas cidades do Brasil inteiro, quinzenalmente, tinha reuniões dos comitês estaduais com as secretarias de saúde. Eles se reuniam com cada prefeito e secretário de saúde vendo como estava a situação nos municípios. Então eles iam lá, analisavam como estava a situação, diziam se era para ficar na faixa laranja... Essas coisas. Esses comitês tem infectologistas, representante da secretaria de saúde do estado, da procuradoria e ministério público. Quando chegou há 45 dias atrás, colocamos nosso protocolo para a comissão analisar. Isso tentando já uma data pré-marcada não oficial para o festival em novembro. Nesse dia a comissão do estado olhou e falou: quem é que fez esse protocolo? Nós somo ligados a uma entidade que é a Protocolo Clean & safe criado pela coalização GO LIVE BRASIL - juntos pelos Eventos, na qual fazem partes diversas entidades do setor de eventos, entre elas estão as brasileiras, Apresenta, Abeoc, Abrace, Abrafesta, Ampro e Ubrafe, em consonância e apoio de mais de 600 associações e 1500 empresas do mundo inteiro em prol do setor de eventos. A GO LIVE BRASIL conjuntamente com os Governos, em especial os de São Paulo e Rio de janeiro e seguindo as normas ditadas pela OMS, desenvolveram um documento/protocolo que servirão de parâmetro geral de preparação para a reabertura das atividades de eventos.

 

 

Então o Festival procurou se articular com tudo o que aconteceu para conseguir fazer um protocolo que desse segurança e satisfizesse a todos

Há dois anos, desde que começou a fechar tudo em março de 2020, a partir daí até agora, existe esse diálogo que falei.

 

 

Então vocês conseguiram amenizar as diferenças e unificar um protocolo articulado para quando fosse possível fazer o evento?

Essa era a idéia, principalmente rio e são Paulo. São Paulo e Rio tentaram unificar porque são os dois maiores centros. Nos mantivemos articulados esse tempo inteiro. Começou de 15 em 15 dias. Votando, há 45 dias atrás a comissão do estado carimbou o protocolo do Festival. Tá liberado. Há quinze dias atrás... uma vez por ano, foi 2020, em 2021 agora, essa mesma comissão, só que federal, passou por Rio das Ostras, Macaé, etc, e não só falaram que o protocolo estava aprovado como também tornaram o Festival a abertura dos eventos no rio de janeiro. Isso é importantíssimo. Esse protocolo vai ser o modelo para a retomada de cultura no plano federal.

 

 

Falando agora sobre o financiamento do Festival: ele começou sendo bancado pela prefeitura e hoje capta pela lei rouanet. Como foi essa mudança?

A prefeitura financiava integralmente até cinco anos atrás. O festival foi um investimento da prefeitura. Nos primeiros cinco anos ela financiou todo o festival. A partir de 2011, o oitavo ano, era metade patrocínio e metade financiamento da prefeitura. De quatro anos pra cá é totalmente privado. E continua tudo com entrada gratuita. Todos os fornecedores, para valorizar a mão de obra local, são de Rio das Ostras. Os serviços de restaurantes e bares, não são vendidos para fora. Eles só pagam 4.000 pelos 4 dias do festival (espaço de 4mx4m, 20 jogos de mesas e cadeiras, piso acarpetado, decorado e coberto.

 

 

Como está o line up?

O line up está muito bom. Vamos ter seis atrações internacionais e sete nacionais mais os novos talentos de Rio das Ostras que tocam jazz e o blues (leia aqui a prévia do festival). Isso ajudou a fazer uma coisa bem pra cima, dentro do possível. A pandemia ainda não acabou, mas neste momento vamos fazer uma coisa positiva para tentar, dentro do possível, levar alegria, felicidade, cultura. Sem esquecer que pessoas... Na minha produção morreram três. O mundo está voltando, dentro da segurança. Tem que voltar, mas seguro.

 

 

E o avanço da vacinação está ajudando nesse processo?

Muito e foi fundamental para remarcarmos o festival. Sem a vacinação o festival com certeza não aconteceria. Quando conversávamos com os músicos, a gente sentia que eles estavam inseguros, mas eu expliquei que o festival só vai acontecer com todo mundo concordando. Se não se sentir à vontade, não tem problema cancelar.

 

 

E isso está em cláusula no contrato com todo mundo?

Com todo mundo. E digo mais: os músicos de fora já estão se sentindo mais seguros com o Brasil, porque eles estão acompanhando lá (o avanço da vacinação). Hoje eu vi na televisão que estamos com 48 por cento da população com duas doses aqui. Eles estão bem seguros, e estão seguros porque estamos passando para eles. Tudo que te falei que passo para os patrocinadores, eu passo para os músicos, que estão plenamente confiantes na produção do Festival. Tudo o que está sendo aprovado eles estão sendo informados a cada novidade. E quero deixar claro que vamos respeitar os protocolos mesmo.

 

 

E as expectativas para a cidade?

No mundo inteiro o jazz é para um público acima de 40 anos. No meu, 60% é de 40 para cima.  Esse pessoal já está vacinado com a segunda dose. Mas em primeiro lugar, eu já tenho aceitação para o festival acontecer. Em segundo, eu tenho um público que garante. Tenho 5 mil lugares sentados. Os donos de restaurantes, quando eu disse que estávamos nos preparando para voltar, as coisas caminhando bem... Fomos em cada setor econômico de Rio das Ostras e falei: olha, estamos caminhando para isso. Aí eles falaram: finalmente, voltaremos voltar a ter aquele publico(de mais de 40 anos)! Que são pessoas de mais poder aquisitivo. Porque um jovem senta na mesa dele com três cervejas e fica lá quatro horas. Eles estão adorando. E outra coisa interessante é que ativou o pessoal dos hotéis e pousadas. Isso porque o público que vai comprar o pacote de pousada para o festival já sai com ingresso garantido para os quatro dias. Isso também ativa a economia, porque o hóspede sabe que vai sair da pousada com o ingresso na mão, tranquilo para os quatro dias. Nada mais justo que um cara que compra um pacote nos quatro dias tenha o direito de ingresso garantido também para todo o período. E isso vai ser pelo sistema da Sympla, que só libera um ingresso por CPF para cada dia e local.Outra coisa é  que este é o evento principal da reabertura dos eventos no Rio de Janeiro. São eventos no estado todo. 30 eventos musicais e 40 esportivos. Começa com Rio das Ostras, que é o maior evento. Tem também em Macaé, Angra, etc. Mas o de Rio das Ostras vai ser o maior.

 

 

 

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