Anuncio topo
REPORTAGENS / Colunas

Carnaval na sapucaí: espetáculo de ritmos e luzes

24/04/2024 - 11:51h
Atualizado em 24/04/2024 - 11:52h




Foto abertura: Aspecto dos Desfiles das Escolas de Samba do Grupo Espacial do Rio de Janeiro, na Sapucaí. Fonte: Riotur.

 

Teatro Grego (século V), passando pela ‘Commedia Dell’Arte’ (século XV), culminando nos festivais e shows artísticos e musicais, em estádios descobertos, como em outros lugares adaptados no século XXI. O Carnaval, comumente referendado como a “maior festa do Brasil”, tem seu ápice no Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, evento este que reúne linguagens visuais, sonoras, musicais, corporais e, cada vez mais, aprimora-se na integração de soluções de iluminação cênica. Nesta conversa, as luzes saem do contexto dos shows musicais para desfilarem, magnificamente, na Marques de Sapucaí”.

 

Arte, cultura e entretenimento são, ao mesmo tempo, conceitos distintos, como também áreas de conhecimento e produção técnica que se desenvolveram significativamente, em decorrência de novas tecnologias, e da mesma forma, pela mais diversificada abrangência e acesso por diferentes públicos. Isoladamente, constituem representações, elementos e comportamentos próprios de determinados povos, atrativos que captam turistas e visitantes em determinadas épocas do ano, a partir de calendários e datas específicas e festivas.

 

Entretanto, a convergência entre esses três pilares, associados à evolução humana e ao lazer, potencializam determinadas produções, estabelecendo condições para a realização de espetáculos singulares, notadamente e historicamente a partir do século XIX com a Ópera, o Circo e as Grandes Exposições. No Brasil, o paralelo de grandiosidade histórica comparável aos mesmos impactos que aquelas produções tiveram como fenômenos e influência, com certeza, tem no Carnaval uma dimensão ainda mais significativa, deslumbrante e inovadora.

 

Também como um conceito complexo e abrangente, o Carnaval tem seu mais expressivo desenvolvimento com a popularização do samba, no início do século XX. Mesmo que seja uma festa de âmbito nacional e com desdobramentos culturais associados a outras linguagens musicais e repertórios rítmicos dos mais diversificados e plurais, foi na capital federal (até 1960), a cidade do Rio de Janeiro, que o Carnaval atingiu um marco de referência de uma identidade nacional, “exportada” como produto cultural genuinamente brasileiro a partir dos blocos que se tornaram Escolas de Samba desde 1928. Oficialmente, o Desfile das Escolas de Samba tem no ano de 1932 a sua gênese, como realização organizada e programada no formato de concurso ou competição anual.

 

Deve-se destacar que, tão deslumbrantes quanto essas realizações produzidas na Cidade Maravilhosa, são as incontáveis as festas, festivais, bailes, e outros eventos, além de desfiles com designações e associações geográficas específicas, que ocorrem anualmente no fim de semana, segunda-feira e terça-feira que antecedem a Quarta-Feira de Cinzas, no Brasil. Muitas dessas realizações ocorrem em estruturas dedicadas a essas festividades (principalmente salões para os bailes), outras em espaços adaptados ou multifuncionais, desde o início.

 

 


Aspecto do Desfile das Escolas de Samba do Grupo Espacial do Rio de Janeiro, na Sapucaí. Fonte: Leo Queiroz/PropMark.

 

 

A partir da inauguração do popularmente conhecido “Sambódromo da Marquês de Sapucaí”, em 1984, cujo emblemático projeto arquitetônico foi elaborado por Oscar Niemeyer, sendo o projeto luminotécnico concebido pelo magistral Lighting Designer teuto-brasileiro Peter Gasper, além de um novo patamar qualitativo no espaço dedicado aos desfiles, foi pela ampla cobertura dos meios de comunicação tradicional que houve uma disseminação ainda mais significativa, mesmo que o processo de evolução da década de 1930 até os anos de 1980 tenha sido igualmente significativo, ainda que em condições mais modestas, financeiramente e midiaticamente.

 

Assim, com esse palco projetado para os espetáculos carnavalescos produzidos para os desfiles dos grupos classificados de acordo com critérios competitivos definidos para acesso e rebaixamento, milhares de profissionais se dedicam anualmente para a produção do “Maior Espetáculo da Terra”. No projeto original, Gasper buscou atender as necessidades de transmissão de TV ao mesmo tempo em que idealizou a “teatralização da luz” (nas palavras dele), ficando inviável naquele momento pelas tecnologias disponíveis. Em 2002, conseguiu implantar um projeto, com equipamentos locados de empresa fornecedora estadunidense – descontinuado, em função dos investimentos necessários (e, posteriormente, indisponíveis).

 

 

 


Iluminação Cênica na Sapucaí em 2002 – Projeto de Peter Gasper. Fonte: Peter Gasper/Lume Arquitetura

 

 

Conforme destaca a matéria elaborada pelo excelente jornalista Miguel Sá, “Iluminação cênica na Sapucaí” (publicada em 30/03/2023 no seguinte link: https://www.revistabackstage.com.br/sumario/sumario/iluminacao-cenica-na-sapucai), que apresenta detalhes técnicos, equipamentos e estruturas utilizadas nesse contexto, o atual projeto – elaborado por uma competentíssima e espetacular equipe liderada pelo brilhante Lighting Designer Césio Lima -, finalizado em 2019, coloca a Passarela Professor Darcy Ribeiro, situada na Avenida Marquês de Sapucaí, também conhecida como Sambódromo da Marquês de Sapucaí – ou simplesmente, Sapucaí – como um dos palcos mais sofisticados para a realização de eventos – principalmente para os Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.

 

 

 

 

Com os recursos dos espetáculos produzidos em ambientes abertos – tais como estádios esportivos e, atualmente, arenas multi-eventos – a Sapucaí tem a competência de disponibilizar tecnologias de monitoramento e controle de iluminação em patamares iguais àqueles instalados para a realização de megaeventos, com fibra ótica e Wi-Fi para toda a extensão de aproximadamente 700m – sendo cerca de 560m somente do comprimento da pista.

 

 


Iluminação Cênica na Sapucaí em 2024. Fonte: Guito Moreto/O Globo

 

 

Nesse processo de renovação, também como “retrofit” de iluminação, com a devida atualização tecnológica – luminárias, equipamentos e efeitos -, como também o aproveitamento máximo das possibilidades de melhorias nas torres e estruturas verticais existentes – uma vez que o conjunto arquitetônico integra o Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Só por essa estratégia, trata-se de um desafio superado e fundamental para projetos específicos, programação e criação de cenas personalizadas, a partir da decupagem dos roteiros produzidos para cada tema, cada Agremiação ou Escola de Samba.

 

Para além de uma requalificação tecnológica, deve-se destacar também o caráter comemorativo de um espaço cultural e simbólico que em 2024 celebra quarenta anos desde a inauguração, atingindo marcas e cifras impressionantes a cada ano, fomentando ainda mais a capacidade de captação de turistas e visitantes para uma cidade com natural vocação turística em diversos aspectos – naturais, culturais, de negócios – e que projeta, notavelmente, o Carnaval como símbolo e produto composto, que de maneira indissociável converge correntes artísticas e culturais em um ambiente propício para a contemplação estética e o entretenimento.

 

 


Aspecto de Carro Alegórico da Grande Rio no Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial (2024). Fonte: Hermes de Paula / Agência O Globo

 

 

Como resultados esperados, a mais intensa valorização de um espetáculo único, singular e incomparável, cuja visualidade, marcada pela profusão de cores, texturas, formas e movimento, será ainda mais exuberante, vívida, memorável. Aliam-se a isso as novas potencialidades e alinhamentos conceituais e contextuais, que expandem as referências e simbologias, os figurinos, os carros alegóricos, as bandeiras que representam cada Escola, cada Agremiação, possibilitando ainda novas percepções e sensações para tão relevante acontecimento.

 

Como recursos cênicos, mesmo com a reforma de 2012, entende-se como uma nova conjuntura tecnológica, técnica e operacional para o uso da iluminação cênica em condições inovadoras e inigualáveis, tanto no âmbito de qualidade como versatilidade, comparável talvez – e claro, com as devidas proporções - às melhorias que Richard Wagner propôs na construção do Teatro de Bayreuth e que permitiram a dimerização da iluminação cênica, fato esse que revolucionou a Ópera e os espetáculos desde então. Trazendo essa reflexão para um contexto atual: seria essa perspectiva e expectativa revolucionária o prenúncio de um Carnaval 4.0?

 

Abraços e até a próxima conversa!!!

 

 

 

  • COMPARTILHE
voltar

COMENTÁRIOS

Nenhum cadastrado no momento

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Escreva sua opinião abaixo*