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REPORTAGENS / Colunas

Compressores Multibanda

06/11/2023 - 18:19h
Atualizado em 06/11/2023 - 18:46h



 

 

Retomando nossos pensamentos sobre ajustes de dinâmica, vamos considerar o compressor multibanda. Embora, historicamente, não tivéssemos acesso a essa importante ferramenta nas consoles de mixagem, com a tecnologia digital, eles já apareceram e, se não na console, podemos usufruir da qualidade que oferecem por meio de plugins.

 

Por se tratar de compressão, teremos todos os ajustes já comentados, com uma grande diferença: a possibilidade de aplicar compressão às faixas do espectro de frequências que escolhermos. Assim, se o conceito desse equipamento for novo para você, imagine uma mistura de equalizador paramétrico, com sua possibilidade de determinar frequências e as suas larguras de banda, só que ao invés de apenas cortar ou reforçar frequências, você poderá determinar quanto estas serão comprimidas sempre que elas cruzarem o Threshold ou limiar que você determinou.

 

 

 

 

 

 

“Mas, então, qual a diferença entre o equalizador paramétrico e o compressor multibanda?” A grande e importante diferença é que o compressor paralelo não fica cortando ou reforçando continuamente. Quando você aplica um filtro para cortar uma frequência de uma voz ou instrumento, ele cortará a quantidade de decibéis que você determinou daquela faixa ou banda de sinal o tempo todo.

 

Mas, analisando os sons com que trabalhamos, podemos perceber que as frequências dos sinais que recebemos raramente, para não dizer nunca, chegam continuamente com mesma intensidade. O som é dinâmico.   Assim, se eu aplico um filtro para cortar 6 dB e o sinal vier com 6 dB a menos daquela frequência, em relação às outras, o resultado será um buraco de 12 dB no espectro natural daquele sinal. De novo o som é dinâmico e, por causa disso, é muito interessante podermos aplicar ajustes dinâmicos.

 

Obviamente, não tem como um operador passar o tempo todo com a mão no controle de um filtro de um único canal para cortar uma frequência apenas quando ela se sobressair em relação às outras. Daí a maravilha de que a compressão multibanda faz isto para nós apenas quando for necessário, ou seja: ela só atuará na frequência que determinarmos quando a intensidade dela passar do limiar que ajustamos.

 

Pensando na prática, imagine um vocalista que tem um equilíbrio bacana de frequências quando canta num nível médio de potência vocal, porém, quando ele solta mais a voz, esse equilíbrio se desfaz e passa a predominar uma região de frequências médio-agudas não muito agradáveis. Se tivéssemos apenas o equalizador paramétrico, e o ajustássemos para cortar esta faixa de frequências, ele prejudicaria o equilíbrio tonal do cantor o tempo todo em que ele cantasse no nível de potência que alcança sem problemas, e apenas estabeleceria o equilíbrio tonal nos momentos em que ele soltasse mais a voz. Assim, pode ser que prejudicaríamos o equilíbrio tonal, em 85% do tempo, apenas para ter o efeito da correção em 15%. Uma “solução” não muito desejável, não é verdade?

 

Daí, é possível que ou deixássemos sem esse corte e a voz incomodaria muito os ouvidos nas horas em que ele soltasse mais a voz. Ou pode ser que optássemos pelo meio termo paliativo, tentando tirar um pouco dessas frequências para somente suavizar o incômodo nos momentos de maior intensidade vocal, enquanto prejudicaríamos menos o equilíbrio em todos os outros momentos.

 

A compressão multibanda soluciona essa questão. Ajustamos a banda ou largura do filtro para as frequências que incomodam quando o cantor solta a voz, e ajustamos o limiar para que ele apenas atue quando a voz subir além do nível em que é naturalmente equilibrada.

 

Uma coisa muito bacana no compressor paralelo é que por ter várias bandas ele pode resolver problemas diferentes simultaneamente. Com várias bandas de compressão paralela, podemos ter, ao mesmo tempo, uma banda cortando uma faixa de frequências enquanto outra faixa está sendo reforçada.

 

Voltando ao nosso exemplo, digamos que, ao soltar a voz, o cantor use a técnica de afastar o microfone para não distorcer o sinal. Se ele vinha segurando o microfone próximo da boca, este afastamento irá desfazer o efeito de proximidade, evidenciando ainda mais a subida dos médio-agudos. Bem, nós já aplicamos uma banda do compressor para conter a subida deles, mas o efeito audível do afastamento do mic será a perda dos médio-graves. Embora não seja possível fazer o compressor atuar quando o sinal cai abaixo de um nível, o que podemos fazer é reforçar o ganho dos médio-graves e, para não desequilibrar a voz quando ele canta normalmente, ajustamos o limiar para estar comprimindo essa banda quando o cantor segura o microfone mais para perto da boca. Assim, quando ele canta normalmente, o reforço do ganho é contrafeito pela compressão. Então, quando ele afastar o microfone, se o sinal vier a cair abaixo do limiar a compressão deixará de acontecer e o reforço do ganho passa a atuar pela ausência da compressão.

 

Além dessas duas questões, pode ser que ele tenha uma sibilação que incomode em determinados momentos. Cortar os agudos da voz o tempo todo pode acabar com a sua naturalidade e inteligibilidade. Portanto, determinamos a largura de banda para trabalhar nas frequências que incomodam e ajustamos o limiar para atuar nelas apenas quando elas ficarem mais fortes.

 

Assim, temos uma banda nos ajudando com reforço nos médio-graves enquanto outra atenua os médio-agudos nos momentos específicos em que o cantor solta a voz, e ainda temos o suavizar da sibilação apenas quando surgem as palavras cuja pronúncia o faz sibilar. Perceba como essa atuação dinâmica do compressor multibanda nos proporciona um resultado muito superior a um equalizador paramétrico que atua de forma contínua, cortando frequências quando não seria necessário ou desejável. O compressor multibanda pode, em muitos casos, proporcionar um resultado superior à equalização paramétrica. Se você tem essa ferramenta à sua disposição, não deixe de estudar os seus recursos.

 

O material que vimos nesta e nas duas colunas anteriores, demonstra como a compressão é uma ferramenta poderosa. Em termos de nível, ela nos permite poupar o sistema de esforço desnecessário e a audição dos ouvintes, enquanto realça detalhes que não seriam ouvidos e estabelece um equilíbrio entre os níveis dos instrumentos e vozes da banda criando uma coesão. Quanto menos experiente for a equipe no palco, mais necessário se fará o controle de nível. Já com músicos mais experientes que controlam o nível dos sons que recebemos, a compressão pode ser usada de forma mais artística, destacando nuances e até conferindo uma tonalidade diferenciada ao som, caso desejarem.

 

Ter um carro de alta performance nas mãos pode resultar em experiências altamente satisfatórias ou perigosas e frustrantes, dependendo da técnica de quem o pilota. E essa analogia vale para o uso da compressão. Por ser uma ferramenta poderosa, é preciso considerar o seu uso antes de fazer os ajustes. E enquanto o conceito de nível é relativamente simples de se entender, os ajustes de tempo de Attack e Release aliados ao Ratio (à taxa de compressão) podem descaracterizar por completo o envelope original do sinal que recebemos.

 

Na maioria das aplicações e gêneros musicais empregados nos períodos de louvor das igrejas, o nosso objetivo deve ser conduzir a qualidade produzida no palco aos ouvidos de quem louva sem alterar ou descaracterizar estes sinais, a menos que nos cheguem com qualidade muito baixa. Assim,  todo operador deve buscar estudar, pelo manual e por experiências práticas os efeitos dos ajustes que fizer no compressor. Assim como na equalização, fazer a comparação do sinal antes e depois do ajuste pelo botão de Bypass é um recurso essencial.

 

Na correria da típica passagem de som, a nossa atenção é frequentemente demandada para elementos mais básicos não permitindo esse estudo e a atenção dedicada aos detalhes. Por isso, explorar o recurso da gravação em multicanal, cada vez mais comum nas consoles digitais, tem um valor imenso para o nosso aprendizado. Carregar uma sessão gravada e poder estudar com tranquilidade o efeito dos ajustes em cada voz e instrumento não tem preço.

 

“Mas, David, a gente faz a passagem de som e já entra para o culto. Não dá tempo para fazer isso.” Ok, e imagino que a banda pode também variar de uma semana para a outra. Assim, ouvir a gravação da banda do último domingo durante a semana não vai ajudar no preparo para a semana que vem... Entendo tudo isso. MAS, nesses tempos de consoles, computadores e HDs externos cada vez mais disponíveis, não é tão difícil se criar uma pasta com cada banda ou criar um documento contendo os detalhes de músicos e até dos instrumentos que usaram, caso estes variarem. Assim, você consegue encontrar as pistas com a gravação da pessoa e do instrumento em que treinar os ajustes durante a semana deixando-os pré-ajustados e em Bypass na cena da console. No domingo, depois que tiver acertado o ganho e a equalização na passagem de som, sole o canal nos fones e desative o Bypass para ouvir o efeito dos ajustes pré-configurados nos sinais que estão chegando ao vivo. Solar o canal e desativar o Bypass leva poucos segundos e com mais alguns segundos de audição você já terá uma boa impressão de se os ajustes feitos durante a semana estão valendo ou se precisarão de mais estudo.

 

É claro que isto pode variar conforme o estilo das músicas a serem usadas em cada semana, mas os recursos de salvar gravações, cenas e os presets da compressão por pessoa, instrumento e estilo nos possibilitam chegar numa qualidade superior e inimaginável antes de estes recursos existirem. Pode ser um pouco cansativo e exigir disciplina para criar o hábito quando se começa a montar essa biblioteca, mas com o passar do tempo, tendo já acumulado uma boa quantidade de presets estudados e salvos, o tempo para encontrar e carregar o ajuste já confirmado é mínimo.

 

Como no som ao vivo, mesmo no nível de engenheiros e sistemas top das turnês internacionais, os problemas e defeitos acontecem, reduzindo o tempo de passagem de som e ajustes, os grandes engenheiros já têm pendrives com arquivos base pré-configurados para a console em que trabalharão e com os ajustes em Bypass. Assim, ao iniciarem o trabalho com um banda, após os ajustes iniciais de ganho e equalização, eles podem solar e monitorar o efeito da compressão e efeitos em segundos apenas desativando o Bypass destes. Levantar um som redondinho em pouco tempo aumenta bastante a confiança que a banda terá no operador. E essa confiança facilita, inclusive, a cooperação dos músicos quando lhes pedirmos coisas que, a princípio, não estariam propensos a nos conceder.

 

Só não se pode esquecer que, na hora de nomear arquivos de gravações, cenas e presets, seguir um sistema padronizado nos nomes para organizá-los corretamente é essencial. De nada adianta você ter passado tempo fazendo configurações acertadas previamente se depois você não conseguir encontrar os arquivos. Essa organização também precisa se estender aos backups! Quem tem um arquivo pode facilmente não ter nenhum, quem tem dois, já tem mais chance, mas o ideal é sempre ter três cópias dos arquivos salvos em lugares e mídias diferentes conforme vimos ao passar por esse tema em 09/22.

 

 

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