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REPORTAGENS / Colunas

Som nas Igrejas - Endereçamento e subgrupos

29/04/2024 - 15:17h
Atualizado em 29/04/2024 - 18:28h


 

Seguindo em nossa abordagem do fluxo de sinais, vamos ao endereçamento e subgrupos para na próxima coluna destacar a diferença entre estes e os DCAs ou VCAs.

 

O endereçamento já existia nas antigas mesas analógicas, mas com o baixo custo do processamento digital, passamos a ter mais desse recurso disponível. O endereçamento nos permite juntar grupos de sinais com características semelhantes, separando-os dos outros sinais. Nós os reunimos nos chamados subgrupos para podermos fazer ajustes gerais de nível, equalização ou processamento de dinâmica. Estes grupos são chamados de subgrupos, porque ficam logo antes, ou abaixo, da mix principal L&R na sequência:       

 

Canais > Subgrupos > Mix L&R 

Numa mesa com 4 subgrupos conjugados em 2 faders estéreo, podemos ter, por exemplo, um subgrupo de vocal, e um subgrupo de banda que são tipicamente os ajustes de nível mais necessários na dinâmica do louvor ao vivo. Também podemos endereçar os vocais diretamente para a L&R  e trabalhar com um subgrupo para a bateria e percussão e outro para os outros instrumentos da banda. Outra vantagem dessa separação é poder solar o subgrupo ouvindo a relação dos canais endereçados para ele ao invés de tentar identificá-los entre todos os elementos da mix L&R.

 

Mas antes de se começar a apertar botões, endereçando os canais para os subgrupos, que podem ser mono ou estéreo, é preciso se tomar uma decisão sobre o propósito da mixagem ou mixagens que se fará na console. Isto tem a ver com o/s destino/s da/s sua/s mix. A decisão por se usar subgrupos estéreo em que o ajuste do PAN do canal chegará na imagem estéreo da mix L&R ou subgrupos mono, usando o pan do canal para isolar o sinal em um subgrupo par ou ímpar, depende de duas questões principais:

 

1. O projeto do PA da igreja ser mono ou estéreo

 

2. Haver transmissão por streaming.

Se for mixar apenas para um PA mono, parabéns, você ganhou automaticamente o dobro de subgrupos  disponíveis! Isso lhe dará um controle maior sobre os elementos na sua mix.  E esse controle mais preciso será necessário porque, com todos os sinais amontoados  um sobre o outro, um sistema mono é bem mais trabalhoso para conseguir se fazer ouvir todos os elementos da mix. Mas os sistemas mono tem o seu lugar, especialmente em auditórios muito largos e ou estreitos e eles, principalmente, custam metade do valor do estéreo que, aliás, requer bem mais no projeto do que ter apenas duas caixas para cada área de cobertura(!). Dependendo do projeto e implantação,  os sistemas mono podem ainda requerer bem menos ou nenhum tratamento acústico.

 

Já no caso do streaming, em que não existe a espacialidade da ambiência por se ouvir remotamente em fones de ouvido, a minha posição é que se deve evitar uma mix mono a todo custo. Em casos de igrejas com PA mono, streaming e bandas sem muitos canais (1 a 3 vocais no louvor e 3 ou 4 instrumentos, em que os subgrupos nem seriam tão necessários, senão para controlar as peças da bateria, por exemplo), pode ser interessante se fazer a mix do PA por um Auxiliar pós fader da mesa e usar os subgrupos e a saída estéreo dela para a transmissão. Nessa decisão, vale se considerar que o som transmitido por streaming é frequentemente disponibilizado posteriormente para acesso online sob demanda, onde pode ser acessado por um número potencialmente ilimitado de ouvintes e serve como um cartão de visita da igreja que ouvintes remotos não muito distantes da igreja podem usar como parâmetro quando avaliam se desejam ou não frequenta-la presencialmente. Assim, endereçar e mixar em mono ou estéreo deve ser considerado com um cuidado bem maior do que apenas pegar duas saídas da mesa para serem amplificadas em duas caixas, ok? Depois de se determinar as razões para uma configuração estéreo ou mono, agora pode se pensar em como endereçara os canais.

 

Para fazer o endereçamento, cada canal possui botões tipicamente numerados em pares (1&2, 3&4, etc.) mais o botão que envia o sinal direto para a mix L&R. Se quisermos que o sinal de um canal vá apenas para um subgrupo mono, basta endereçá-lo ao par do subgrupo desejado e usar o PAN do canal para enviar o seu sinal apenas para o subgrupo ímpar (PAN para a esquerda) ou para (PAN para a direita).

 

Quando ativado o botão de endereçamento no canal, o sinal desse canal passará pelo subgrupo antes de chegar ao/s fader/s Master L&R (botão L&R). Se esse canal já estava endereçado direto para a Master, talvez por padrão da console, é preciso desendereçá-lo.

Obs.: Se ele ficar endereçado para os dois, subgrupo e L&R, ele terá um ganho de nível de uns 6  dB na mix L&R sem ter aumentado o ganho do canal, mas pagamos dois preços:

1. O efeito de subir e baixar o som dele no subgrupo será bem menos percebido porque o seu sinal já estará lá na mix, no nível em que estiver aberto o fader no próprio canal.

2. O que seria normal no uso do subgrupo, que é baixar o fader do subgrupo para tirar o sinal da mix L&R não ocorrerá por ele ainda estar endereçado diretamente para o L&R.

 

Portanto esse recurso de double bussing só faz sentido usar em instâncias raras e como último recurso quando for necessário conseguir mais 6 dB de um sinal na mix e já estiverem esgotados todos os outros recursos como ganho, nível do fader do canal etc.

 

Depois que os sinais dos canais estiverem endereçados para o subgrupo, a mix do subgrupo precisa ser endereçada para a L&R. Caso contrário, o som desses canais apenas irá até o subgrupo e ficará ali, sem entrar na mix. Depois de se ajustar o que for desejado em termos de equalização e dinâmica global nos recursos da master do subgrupo, podemos dosar o nível da mix do subgrupo na mix L&R por meio do/s fader/s master do subgrupo.

 

Um exemplo prático de endereçamento numa console com mais de 4 subgrupos seria criar, além dos subgrupos comentados para a banda, um subgrupo com os microfones do coral. Tipicamente neste subgrupo aplicaremos uma equalização global contra microfonia (deixando a equalização dos canais  livres para ajustes dos naipes vocais). Também podemos aplicar processamento como gate e compressão, por exemplo. E, havendo subgrupos suficientes, se o coral for acompanhado por uma orquestra, faz sentido criarmos um subgrupo com os canais de instrumentos da orquestra. Novamente pode ser interessante aplicarmos uma equalização global e processamento comum a este subgrupo. Se você não tiver mais subgrupos, não se desespere, uma saída sem alguns dos recursos dos subgrupos pode ser usar um DCA como veremos na próxima coluna.

 

 

 

 

 

 

Depois que ajustamos a estrutura de ganho na passagem de som, o que mais fazemos ao mixar é manter a relação de nível entre os vocais e instrumentos. Controlar apenas os faders dos subgrupos por ter os níveis dos canais individuais já mixados dentro dos subgrupos facilita demais o trabalho de mixagem. Os momentos de transição dentro do culto, entre banda e coral, por exemplo, também nos ajudam a perceber o grande valor prático dos subgrupos.

 

Imagine que o culto se inicie com o coral, seguido por um período de louvor conduzido pela banda em que haverá uma participação dos coristas no refrão. Assim que terminar a música introdutória, vamos, tipicamente, fechar os microfones sensíveis que captam o coral e os instrumentos da orquestra para deixar o som mais limpo e reduzir chances de microfonia. Ao invés de precisar baixar ou mutar uns 20 canais, que já estavam perfeitamente ajustados para uma boa mix, baixamos apenas os subgrupos do coral e da orquestra, abrindo os subgrupos da banda e vocalistas. Assim que chegar o momento de o coral participar do refrão, basta subir os faders do seu subgrupo para ele entrar e, possivelmente, ajustar a relação entre os subgrupos de vocal e coral para que a presença dos dois seja claramente perceptível. Apenas essa facilidade que os subgrupos nos oferecem já tem valor imenso, sem nem considerarmos os recursos de processamento e equalização que os subgrupos digitais nos disponibilizam. Ela facilita o nosso trabalho de mixar e permite realizar ajustes precisos em tempo mínimo comparado com a trabalheira que seria ajustar os faders, canal por canal, em cada um dos conjuntos de entradas.

 

Talvez você tenha pensado: “Mas eu posso salvar essas configurações de canais e faders numa cena ou grupo de mute e chamá-las rapidamente sem precisar mexer nos faders desses subgrupos. Sim, isso é possível, mas devido a uma série de fatores humanos, nem sempre os níveis que foram ajustados na passagem de som serão os que receberemos na apresentação. Além disso, conforme o fluxo de sinais que for usado para a transmissão ou gravação, uma mudança instantânea entre cenas pode deixar o som estranho para quem ouve remotamente, pois estaremos instantaneamente fechando os microfones, provavelmente dinâmicos, usados no vocal da banda e abrindo uma série de sensíveis microfones a condensador, usados para o coral e orquestra. Ao fazer isso, além de o panorama estereofônico mudar, os mics mais sensíveis passarão a trazer mais som de ambiência como ruídos na congregação, som do ar-condicionado, possíveis vazamentos de sons de transito etc. Alguns destes podem ser evitados pelo ajuste dos gates, mas na prática, nem sempre terá sido possível chegar a esse nível de detalhamento nos múltiplos canais envolvidos Enfim, abrir lentamente os faders dos subgrupos proporcionará uma transição mais suave para os ouvintes remotos e se os gates não foram todos programados, é preferível fazer isto.

 

Na nossa próxima oportunidade veremos os DCAs (VCAs) e as diferenças e semelhanças entre eles e os subgrupos. Até lá!

 

 

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