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Áudio & Eletrônica: Equipamentos de Áudio e a Percepção Auditiva - Parte II

07/07/2023 - 01:43h
Atualizado em 07/07/2023 - 01:43h

 

Caro Leitor;

Em  continuação ao artigo anterior, vou explicar em detalhes as principais características de um  pré-amplificador de alta qualidade fechando, assim, o elo mais importante na captação de instrumentos acústicos.  Aqui abordarei o conceito, topologias e alguns detalhes de hardware.

 

Há basicamente duas subdivisões quando se fala em conceito de pré-amp. Os transparentes e os com coloração. Os transparentes são aqueles que amplificam exatamente o que recebe do microfone. Totalmente flat, respondem em torno de 15Hz a 80kHz com  Slew Rate > 20V/uS  e alto headroom. Essa categoria de pré-amp tem como característica o uso de amplificador diferencial discreto no circuito de entrada, fonte linear com baixíssimo nível de ruído e precisão de 0.01V(centésimo de Volt) na diferença entre as tensões de saída. Geralmente todo o circuito é em estado solido, não usa válvulas nem transformadores de acoplamento. Esses pré-amps são super indicados para captação de instrumentos sinfônicos, porque não altera o timbre e responde muito bem aos transientes sem deformar os picos. Tem altíssimo ganho com ruído ultrabaixo. Por consequência são mais caros e na opinião de alguns,  um pouco mais difíceis de usar. Os mais conhecidos são os das marcas  Millennia  e Grace Design.

 

Do ponto de vista da engenharia, esses circuitos são bem mais precisos e elaborados. Construídos com componentes de baixa tolerância. O que resulta em um som limpo, transparente e linear em todos os canais da unidade.

 

 

 

 

 

Pre-amps “coloridos”.

Nessa categoria de pré-amps,  diferente dos transparentes, a pré-amplificação não é exatamente fiel ao sinal do microfone. A resposta de frequência por muitas vezes não atinge nem os 40kHz. Em alguns casos a distorção harmônica chega perto de 1%, especialmente nas baixas frequências dos valvulados. Mas o grande segredo está em moldar o timbre para que soe o mais musical. Coisa que não é simples de fazer... Quando comecei a projetar pré-amps , o mais difícil era entender o que eu deveria mudar no circuito para obter  aquele determinado efeito. Não digo elétrico e sim sonoro. Por exemplo:  Em um determinado estágio do circuito, se eu quisesse acentuar uma região, eu precisava mover a fase em alguns graus. Mas a questão era quantos graus? Positivos ou negativos? E, além disso, sem gerar um efeito colateral. Levei algum tempo para aprender a resolver isso sem comprometer a sonoridade do equipamento. 

 

Os Pré-amps com coloração são bem mais “divertidos e fáceis” de usar. Cada fabricante tem sua identidade sonora. É importante dizer que é comum à esses pré-amps duas características elétricas básicas: resposta não exatamente plana e pequenas distorções de fase. O timbre particular é o resultado dessa combinação. Os pré-amps coloridos podem ter circuitos bem elaborados, mas não é uma regra. Já vi muito circuito de pré-amp bem simples, tipo ALTEC, com um som muito bonito. Em minha opinião é o encontro da ciência com a arte. Mas não se engane. Tem muito equipamento ruim se passando por “um som diferente e tal...” Especialmente uns Hand Made com alto ruído de fundo e “distorções fora do lugar”. Digo isso sem medo de errar, dentro e fora do Brasil.

 

 

Bons exemplos de pré-amps coloridos são os fabricados pela  API e pela Neve. Tecnicamente bem resolvidos, bem construídos e tem as distorções no lugar certo. Nada está lá por acaso. O primeiro, com o som mais “sujo” que favorece certos instrumentos. Grande parte dos produtos da marca usa o Amp-op AP2520 que é uma espécie de coringa para os projetos desde a fundação da API. O segundo, com um “ar de limpo”, porém com leves níveis de distorção que resulta numa suave mudança de timbre na voz. Para chegar a esses resultados é preciso muito experimento. Pois não são receitas de bolo. É claro que todo projetista sabe fazer os cálculos para construir um pré-amplificador, mas apenas alguns sabem como fazer a coisa certa. Existe uma enorme quantidade de variáveis que implicam no resultado musical satisfatório. Apenas para citar algumas: A polarização dos transistores não estão exatamente no ponto ótimo da corrente do transistor e o ganho dos estágios não seguem exatamente a ordem decrescente. Com isso entendemos que microfones e pré-amps também são instrumentos musicais, e não simplesmente equipamentos eletrônicos.

 

Para concluir, podemos dizer que o elo mais importante da gravação também é a mais estreita fusão entre a ciência e a arte.

 

 

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