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REPORTAGENS / Matérias Completas

Daniel Figueiredo entrevista Heitor Pereira

30/01/2020 - 13:31h
Atualizado em 30/07/2020 - 10:42h

 

O guitarrista, compositor e arranjador Heitor Pereira, que já foi conhecido como Heitor TP, mostra, em um papo de músico com o também compositor de trilhas Daniel Figueiredo, um pouco dos caminhos que percorreu na música.

 

Heitor Pereira já era um músico de sucesso no Brasil – participando de trabalhos com Ivan Lins e Milton Nascimento, por exemplo - quando foi tocar com a banda de pop soul inglesa Simply Red, de muito sucesso durante os anos 90. Depois de encerrar o trabalho com a banda, ele continuou a percorrer novos caminhos musicais pelo mundo: o músico, nascido no Rio Grande do Sul e criado em Niterói, foi morar em Los Angeles e passou a atuar compondo trilhas de cinema em filmes como Gladiator, Melhor Impossível e Angry Birds, entre muitos outros.     


Heitor veio ao Brasil para a Rio2C e, durante um intervalo dos ensaios com a Orquestra Petrobras Sinfônica, com quem fez um concerto apresentando seus temas, ele bateu um papo de músico com o também compositor Daniel Figueiredo sobre trabalho, Brasil, trilhas sonoras, a relação entre sucesso e esforço e muito mais.

 

Daniel Figueiredo - Agora, uma coisa muito curiosa sobre o seu nome. Você começou... Eu nem sei se você começou como Heitor Pereira. Eu acho que sim, né?
Heitor Pereira - Não. Meu nome é Heitor Teixeira Pereira. Ai eu e o Arthur Maia fizemos um show na Pasárgada, uma livraria em Niterói. E(o terceiro músico) não era o Claudinho Infante não. Era uma outra pessoa com dois nomes. O Artur era dois nomes e meu era três. Ai os caras falaram: sacanagem.. (risos).

 

DF - Ia chamar mais atenção do que os outros... (risos) 
HP -
 Ai eu falei: pô, já que é sacanagem, então, vamos fazer o seguinte. Então faz só T. P. e vocês ficam com a maioria das letras. E foi aí que surgiu T. P., pra ajudar na diagramação (risos)

 

DF - Mas aí então chegou um momento que você mudou pra Pereira. O que causou isso? Como é que foi?
HP -
O lance do Pereira é assim: o Ivan (Lins) de vez em quando me chamava de Heitor Pereira. O Milton (Nascimento) gostava de me chamar de Heitor Teixeira Pereira ou Heitor TP. Mas aí quando eu cheguei no Simply Red, o Mick (Hucknall) sempre falava “Heitor Pereira” (com sotaque), porque o Teixeira é muito difícil de falar pra quem tem uma inflexão de inglês. Então falava “Heitor Pereira, Heitor Pereira”. Aí pegou. Então, quando eu fiz um disco solo na Inglaterra, eu acho que saiu como Heitor Pereira, né? Heitor e na parte de trás Heitor Pereira. Foi essa mais ou menos a transição. Mas muitas pessoas aqui ainda me chamam de Heitor T.P. Tudo bem, mas ninguém nos Estados Unidos, ou seja onde for, me conhece como Heitor T.P, me conhecem como Heitor Pereira. No Simply Red meu nome já era Heitor Pereira. Também acharam que porque era Mick Hucknal, Tony Bowers, Fritz McIntyre, Heitor Teixeira Pereira, que p... é essa de novo, né? É cara, o Teixeira sambou, coitado. Foi herdado da parte da minha mãe, que é onde eu tive a maior influência musical, que são todos os meus tios.

DF - Como foi o seu início na música?
HP -
Minha família. Desde muito, muito, muito pequeno. Acho até que o fato dos meus pais, tios, serem músicos, de ter música o tempo todo em casa, o amor do meu avô por passarinhos... Eu acho que é importante que, quando nós falarmos de música, pra mim é o mundo do som, e não só das notas organizadas que nós chamamos de música. Então, pra mim, a música é também dos passarinhos, sacou? Nós vivemos música sempre no ar. Isso eu tenho certeza, que como o músico que sou hoje, a minha influência musical veio tanto das pessoas que me ensinaram ou mostraram a música organizada, MPB e música clássica ou jazz, ou essa coisa do mundo sonoro, sabe? Hoje em dia, pra mim é tão importante quanto a harmonia, a melodia e tudo mais. 

 

DF - Qual o foi o primeiro o primeiro artista ou a primeira gravação importante que você fez? Aquela coisa de: «Agora sou profissional».
HP -
Acho que foi um show que eu e o Arthur Maia tocamos. Foi a primeira vez que eu toquei com o Ivan Lins profissionalmente. Acho que foi na Hebraica, aqui no Rio. E pra mim, quando cheguei em casa, fui pago e joguei o dinheiro pra cima, mostrando pros meus pais: “olha só que legal, eu sou profissional agora”, isso foi uma coisa que eu nunca vou esquecer. Porque também, eu tava tão excitado, tanto eu quanto o Arthur, que a gente não parou de tocar o tempo todo, e no final do show o Gilson Peranzzetta falou assim pra moça que tava arrumando o teatro: “posso pegar essa vassoura aqui?”.  Ela disse “pode” . “Agora vocês dois vão varrer aqui o palco que tá cheio de nota jogada fora.”Então...(risos). 

 

DF - Como foi o convite pro Simply Red?
HP -
Eu estava tocando com o Ivan Lins, fazendo um disco internacional aqui na Som Livre e o produtor do primeiro disco do Simply Red, me perguntou se eu queria tentar gravar com eles. E aí nós fomos, eu fui pra lá, conheci, deu certo e foi o maior barato. 

 

DF - Eu lembro que pra mim foi uma emoção muito grande quando vi você no Rock in Rio. Eu já sabia que você era brasileiro e eu ficava meio indignado por 99,9 % das pessoas no Brasil não saberem.
HP -
Sim, hoje talvez já seria diferente, por causa do Youtube, Internet e tudo mais…

 

DF - Você acredita que as influências de músicas brasileiras colaboraram para você, ou somaram de alguma maneira? Alguma experiência que o seu background de música brasileira, tenha dado um “plus a mais”?
HP -
Completamente. Do Jackson do Pandeiro a Radamés Gnattali, de Guerra-Peixe a Elomar, sacou? Passando por Carlos Gomes, Villa-Lobos, Tom Jobim, Smetak e a MPB, obviamente, em geral. Mas me lembro a primeira vez que eu vi o João Carlos Martins tocando as partituras e o Concerto de Brandenburg. Pô cara, aquilo ali mexeu comigo assim de uma forma... A primeira vez que vi o Nelson Freire tocando Chopin. Então, quer dizer : sim, completamente. Eu posso escrever essa resposta de várias formas: Egberto, Hermeto, todo mundo. Mas eu acho que, na verdade, a coisa principal é que a música, a nossa música brasileira, a visão que nós temos da música brasileira, eu acho que é ainda incompleta. Porque nós nunca mencionamos o lado indígena. E só bem mais tarde é que nós realmente assumimos a influência africana, sabe? Mas o Martinho da Vila já estava o tempo todo dizendo. Já foi para Angola, já foi para Moçambique, e mostrou tantas coisas, tantas bandas. Luiz Melodia tinha essa força também. E eu dei sorte de estar em um ambiente onde eu era constantemente lembrado dessas coisas. E o mesmo se aplica à música nativa brasileira, que é o que Marlui Miranda fez de uma forma tão digna e tão linda e tão ampla. E eu acho que, vamos dizer assim, o Tom Jobim usou um pouquinho, outras pessoas usaram um pouquinho. Mas, na verdade, se a ideia é que o português ditou o charme das melodias, então é certo dizer que a influência que teríamos do Tupi Guarani na nossa música... Temos. Porque falamos várias palavras: Ipanema, Itacoatiara. Mas, como a Marlui Miranda fez, sabe? E fez um trabalho bonito de pesquisa e depois usou a fonética Tupi Guarani. Estou falando só da linguagem principal da época em que os portugueses estavam aqui. E tem a quantidade de dialetos, sabe? Graças a Deus eu tive a oportunidade de poder estudar isso um pouquinho. Então eu só digo isso, nessa ideia que você tá me perguntando: eu só gostaria de lembrar às pessoas que existe essa sonoridade de uma língua, dessa língua talvez esquecida, que ainda pode gerar tanta música. Porque a fonética e todos os ritmos e melodias que estão escondidos dentro dessa linguagem indígena brasileira ainda pode gerar muita música nova. O Egberto Gismonti, com Sapaim na Dança das Cadeiras com Naná Vasconcelos...

 

DF - Coincidentemente eu estava com o Gismonti ontem e ele estava justamente contando essas incríveis experiências dele com os índios.
HP -
Eu acho que deve ser uma coisa muito poderosa, né? Você chega num lugar e descobre que grande parte sua não está ainda representada naquilo que você decidiu fazer pro resto da vida. Eu acho que é tão bonito ele mostrar isso na música dele e tudo mais. Eu posso estar me esquecendo de outras pessoas, sei que o Guerra-Peixe fez um pouco disso, o Villa-Lobos de uma forma “europeizada”, representando a música indígena brasileira, mas eu acho que a Marlui Miranda foi a pessoa que, pra mim, impactou muito. O Naná Vasconcelos, e tantos outros... A Marlui influenciou, por exemplo, a Tetê Espíndola, na época, e o Arnaldo Antunes. A Tetê conhecia um pouco desse material e brincava um pouco com isso também, sabe? 

DF - O seu primeiro disco solo, como foi essa experiência?
HP -
Nos meus discos solo, acho que não alcancei o que eu gostaria de ter alcançado com essas duas oportunidades. Porque só depois da “música para cinema” é que eu descobri, vamos dizer assim, realmente o prazer de envolver um número grande de pessoas em um projeto. Então, nos meus discos solo, por causa da palavra solo, eu assumi que as decisões maiores deveriam sair de mim. E eu acho que eu não fui fiel, eu não fui legal com a música. Até porque, naquela época, eu não era ainda um músico formado o suficiente pra dizer assim: “isso é tudo meu!”. Acho que se eu tivesse dado mais oportunidade, entendido mais essa ideia de colaboração, eu teria proporcionado ao ouvinte um material mais legal, mais completo. Então eu  sou super honrado e feliz com o disco solo, uma experiência de vida. Eu acho legal. Eu gosto muito! Representa muitas coisas pra mim. Mas eu sinto que hoje em dia, eu acho que essas músicas representam muito do que eu sou, mais do que um disco chamado “solo”. Acho que uma outra coisa que eu descobri também com o tempo é o fato de se usar a linguagem antes de começar uma música, porque música instrumental tem essa coisa de não ter letra, né? Mas o fato de que não tem letra não quer dizer que não tem mensagem, e eu senti que, as músicas que eu escrevi, elas tinham uma mensagem escondida ali. Mas eu não era capaz de comunicar o que que essa música realmente representa. Fui feliz em algumas delas. Então eu acho que a música de cinema me ajudou exatamente a comunicar qual é a mensagem por trás desse material. A mensagem, no caso, tem muito a ver com a narrativa da história que nós estamos ajudando. Com um personagem, com um momento dramático ou feliz da história. Mas quando você tira o filme e agora quer fazer uma instrumental que represente você, eu acho que, hoje em dia, definitivamente faria uma música muito mais pessoal. Acho que estou mais voltado pra uma música que se explica um pouco mais, com mais significado para vida dos outros. Porque aí as pessoas podem se relacionar um pouquinho mais. No entretenimento mesmo, sabe? A arte às vezes se esquece que a função dela é de entreter. Eu espero que com o tempo as pessoas comecem a dar mais valor aqueles que trabalham pesado e, pelo menos, não só deem valor aqueles que tem talento. Porque eu acho que essa coisa do talento, às vezes, é como se fosse um jogador de futebol que sabe chutar com as duas pernas, mas não sabe cabecear. Então, o importante é que essa pessoa treine pra caramba cabeçada também. Mas o fato é que ele ou ela são tão bons com a perna direita e com a perna esquerda e fazem tantos gols que isso já é suficiente. Agora, o importante, no fundo de tudo, é que esse futebolista e o amor dele ou dela seja pelo futebol. Então, se você quer ser um futebolista completo, o que você vai fazer? Você vai todo dia de manhã treinar cabeçada, porque é o que você precisa ainda praticar para se tornar um praticante daquilo que gosta tanto.

 

DF - A complexidade da sua música as vezes me lembra Frank Zappa.
HP -
Primeiro, você sabe que todo músico que era convidado pra tocar com o Frank Zappa era como se fosse uma vitória. Porque ele ou ela sabiam que todo aquele hard work, paid off  valeu a pena. 

 

DF - Um selo de qualidade... 
HP -
Exato. Então eu acho que esse lado do trabalho, o prazer é o processo e não o resultado. Muito embora, com um bom processo árduo, você muito provavelmente vai chegar a um bom resultado. 

Daniel Figueiredo (esquerda) e Heitor Pereira 

 

DF - Quando começou a trabalhar com trilha sonora? 
HP -
Há vinte e poucos anos. O Hans Zimmer precisava  de uma música brasileira para um filme chamado As Good as It Gets, que eu não sei qual o nome em português, mas é um com Jack Nicholson, super famoso... Melhor impossível! Um amigo em comum me apresentou ao Hans e ao diretor. Então eu toquei o tema dele. Aí o diretor falou: “tem mais alguma coisa nesse estilo?”. Eu fiquei sem graça e falei com o Hans: “Olha, eu tenho outros temas que são meus, mas não quero tocar nenhuma música minha sem falar com você”. Ele falou: “toca todas”. Aí eu fui lá e toquei um monte de temas  meus e o cara falou: “gostei desse, dá pra botar uma letra, fazer uma música?”. Falei: “dá! Dá pra fazer tudo!” E esse foi o primeiro encontro com o mundo do cinema. E essa idéia do Hans, assim, uma coisa tão reveladora e tão bonita, muito embora ele fosse o dono da bola... Qual o sentido de ter a bola, se você não tem os jogadores? E de não valorizar o que cada jogador tem de especial para que essa partida seja feita, entende?

 

DF - E se renovar, sempre.
HP -
Você falou tudo. A cada novo filme, eu vou lá e encontro o Hans. Até agora nós fizemos 25 filmes juntos. E ele começou minha carreira dizendo: “esse tem que ser você”. Ai meu Deus! (risos). Acho que foi o Curious George, que já era um filme de animação com orquestra. Ele falou: “sabe o que que você tem que fazer? Você tem que botar a guitarra no chão e começar a pensar nas suas ideias com som de orquestra”. Aí, um dia eu peguei o violão, bati na porta dele, falei assim: “olha só, é assim que a orquestra vai soar”, e mostrei no violão. Ele falou: “pra isso você pode tocar o violão”.  Então eu não vejo a hora, o dia, seja aqui no Brasil, ou na Europa, ou nos Estados Unidos, de achar alguns filmes onde eu possa escrever quase como se fosse um concerto para violão e orquestra. Mas eu não posso impor essa música na narrativa do filme. Então nunca forcei a barra. Mas foi assim que a coisa começou, através do Melhor Impossível. Sempre procurei dar títulos para as minhas músicas. Eu talvez estivesse fazendo um filminho emocional dentro da minha cabeça que tava seguindo a narrativa da letra. Por isso que eu e o Ivan e o Vitor Martins nos amamos. Porque o Vitor é um grande escritor, sabe? Um escritor mais clássico. E as letras dele são tão coloridas. Propõem visuais tão legais. Sempre curti trabalhar com ele, e o Ivan sempre me deu a oportunidade de fazer arranjos pras músicas dele porque eu sempre pensei muito na letra também. E, hoje em dia, a letra é o filme. 

 

DF - Eu lembro de um vídeo com você e o Hans se divertindo muito em uma gravação no estúdio, não me lembro se era você ou ele tocando guitarra. Dava pra sentir a “vibe”. Vocês se esbaldando ali no estúdio, gravando aquela guitarra pesada!

HP - Sim! Missão Impossível. Com Tom Cruise. Eu acho que isso aí, no final de tudo... Eu conheço tantos músicos que merecem um espaço muito maior pra essa musicalidade deles e delas que, se isso não aconteceu ainda, eu sei que a minha tá acontecendo e eu tenho uma responsabilidade em relação a isso. Então eu procuro curtir esses momentos que você viu, até mesmo como o Artur era: uma pessoa que parecia que tinha uma responsabilidade com o bom astral, sabe? 

 

DF - Imagino que as vezes seja bem difícil manter o alto astral com tanta pressão e responsabilidade ainda mais trabalhando em Hollywood, o lugar mais competitivo do mundo, na nossa área.
HP -
Aquele grupo de pessoas está ali te apoiando para que você faça o seu melhor. Para que o seu melhor, junto com o melhor deles, faça uma coisa melhor ainda. Então acho que minha benção também tá nisso, sabe? Eu sempre encontrei pessoas positivas. Todo dia que eu vou trabalhar, celebro isso de uma certa forma. Acho que é mais ou menos por aí. 

DF - Como é seu processo criativo? Existe algum processo sequencial ou é aleatório?
HP -
Em relação à criação, o que acontece é o seguinte: eu escolho a música do personagem. Aí eu estudo a história do personagem no filme inteiro. Descubro se aquele personagem vai ter momentos felizes e tristes. Então, eu tento escrever um material rítmico, melódico e harmônico, que, pelo menos a princípio, signifique todos esses capítulos na vida desse personagem. Então, o que eu faço? Eu escrevo uma suíte. Muito embora, em um filme de animação, o que você escuta muitas vezes são as três primeiras notas repetidas over and over and over. Mas, pelo menos pra mim e os film makers, eu mostro que esse personagem tem essa história musical para ajudar. Por causa desse tipo de coisa, por exemplo, no Angry Birds 1, a produção, graças a Deus, gostou tanto da música  que, no DVD, eles lançaram também a versão do filme sem diálogo, só com a música. 

 

DF - Qual a sua conexão com o Brasil hoje em dia? Existe? Você tem alguma coisa aqui? Você vem aqui de vez em quando, ou é apenas uma boa lembrança?
HP -
Muito pelo contrário, o lance da minha família que tá aqui, os meus amigos, muitos amigos. Quando eu falo: “Jackson do Pandeiro tá nos ritmos de Angry Bird”, realmente tá um pouquinho, sabe? Do meu jeito, da forma que o filme pede, mas foi ali que nasceu, mais ou menos. Então, o que eu sinto...

 

DF - É que você saiu do Brasil, mas o Brasil não saiu de você.
HP -
Exato. Eu fico com vontade de poder voltar aqui, de poder fazer um trabalho mais ligado à educação. Também não forço não, porque eu acho que isso vai acontecer, como muitas outras coisas aconteceram, sem forçar a barra. Isso vai acontecer. O Brasil, foi como você falou, nunca saiu de mim. 

 

DF - Quais músicos, artistas que mais te inspiraram e continuam te inspirando? Que eram uma referência pra você, além desses brasileiros que você falou? 
HP -
Eu devo confessar a você que eu não tenho muita influência de compositores de música de cinema não, sabe? Na verdade, eu evito. Porque só assim, eu vou poder trazer um pouco mais de profundidade em quem eu sou, ao invés de, através de uma escolha musical, demonstrar que eu estou homenageando um compositor de cinema. Então, eu prefiro, de volta à sua pergunta, sem desmerecer, prefiro escutar música clássica, do repertório clássico. Então, eu adoro, obviamente, Villa-Lobos, eu adoro Guerra-Peixe... Aqui do Brasil, esses dois. Mas eu gosto muito de música africana. Principalmente do Mali. Até hoje eu escuto isso. Violão, gosto do de Madagascar. Tem o D’Gary. que é uma coisa que eu escuto o tempo todo. Salif Keita, do Mali, Baobab do Senegal e outras coisas assim. Eu gosto de todos os compositores de poema sinfônico, sacou? E também gosto pra caramba de compositores do período... Ravel, Debussy... Do período impressionista. 

 

DF - Sempre gosto de fazer uma pergunta meio inusitada mas, porque, com ela, já recebi respostas muito interessantes: Qual foi o seu pior momento?
HP –
O pior momento, o momento que eu trabalho feito um louco pra evitar que aconteça, é descobrir, quando eu escuto uma coisa que eu fiz, que não fui tão fundo quando eu deveria ter ido. 

 

DF – Foi uma surpresa pra você ter dado tão certo nesse ‘nicho’ de animação? Minions, Angry Birds … Quando você viu já estava lá?
HP -
Eu estou sempre batalhando para não só fazer animação, e estou sempre batalhando para, como eu te disse, adicionar esse outro lado, vamos dizer assim, com um motivo social e de ajuda ao próximo. Não me pegou de surpresa, porque quando aconteceu, e desde então, eu não faço nada diferente dos outros 15 anos, quando não fazia sucesso. Porque o processo é o mesmo. Não tem nada, nada de diferente. 

 

DF - Animação é um dos estilos mais trabalhosos para qualquer compositor, concorda?.
HP -
É, por isso que você precisa de outras pessoas. É por isso que você não pode pegar essa responsabilidade toda nas suas costas. Não é nem legal com as pessoas que gastaram 80 milhões pra fazer aquilo, sabe? Eu acho que eu estou numa fase da minha vida onde estou tentando fazer isso. Talvez proteger um pouco esse ser humano, para que as minhas decisões sejam as mais claras possíveis. Mas sempre com a ajuda de outras pessoas. 

 

DF – Quais os próximos projetos?
HP -
Quando eu sair daqui, eu volto pra Los Angeles, acabo o Angry Birds 2 e gravo a orquestra em Londres daqui a três semanas. Aí, espero duas semanas e começo a escrever música pro Minion 2. E, nesse meio tempo, enquanto isso tudo tá acontecendo, eu estou fazendo vários projetos que tem mais a ver com aquilo que eu tava te falando antes. Estou trabalhando com um grupo de cientistas onde eles me dão toda essa informação, e eu vou escrever uma música baseada nesses dados, em todos esses gráficos e tudo mais. Mas eu estou tentando descobrir qual é a minha forma de analisar isso e tornar isso uma coisa musical e, mais importante de novo, entertaining. Então, quando as pessoas veem aquilo... A missão vai ser cumprida quando as pessoas entenderem a informação e aquele aquele material dos cientistas que trabalharam pesado tenha um impacto na vida delas. 

 

Entevista publicada na revista Backstage edição 295.
 

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