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Demo Casanova e os caminhos do trabalho com música

30/01/2020 - 15:26h
Atualizado em 30/07/2020 - 10:43h

 

 

redacao@backstage.com.br
Fotos: Divulgação

 

Produtor e engenheiro de som que já trabalhou om Madonna, Jay-Z e Timbaland – dá as dicas para entrar e se colocar na indústria da música.
 

Demo Casanova começou a carreira ainda bem jovem, como DJ. Quando viu que realmente queria trabalhar com música, procurou o curso de Recording Art na Full Sail University,(EUA). Saiu de lá para trabalhar em um dos grandes estúdios da Florida, onde se aprimorou e se estabeleceu como engenheiro de som. Depois partiu para vôos mais altos no estúdio de Timbaland. A partir daí, conheceu e trabalhou com artistas como Jay-Z e Madonna, entre diversos outros, acumulando indicações ao Grammy e uma vitória na versão Latina do prêmio por conta do trabalho como engenheiro de som e co-produtor na música Mi Plan, de Nelly Furtado. 

 

 
Em março o produtor veio ao Brasil, trazido pelo escritório brasileiro da Full Sail University, fazer uma maratona de palestras no Rio e em São Paulo, em locais como o Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação (IATEC) e  as Faculdades Integradas  Helio Alonso (Facha). Nas palestras, o produtor falou sobre como traçou os caminhos na profissão e, entre um conselho e outro, contou alguns “causos” com as estrelas da música pop. Foi após a palestra na Facha que Demo Casanova deu a entrevista exclusiva para a Revista Backstage.

 

 

Revista Backstage – Por que começou a trabalhar com musica?
Demo Casanova - Quando era mais novo eu era DJ. Nunca toquei nenhum instrumento além das pick-ups. Sempre amei música. Minhas melhores memórias tem música. Os momentos mais divertidos que passei na vida tinham música. Tudo o que eu sabia era que eu queria trabalhar com isso, e então ouvi falar de uma escola que ensinava música e me matriculei. Era a Full Sail, em Orlando, Florida, nos Estados Unidos. 

 

RB – Você é de Orlando?
DC -
Eu sou de Miami. Então eu entrei na escola e aprendi sobre engenharia de áudio e me apaixonei. Naquele momento da minha vida aprender um instrumento parecia muito difícil e engenharia de áudio não, e eu tive ótimos professores lá, e também tive ótimos professores depois que saí da Full Sail. Sempre tive a paixão de fazer música, mas foi depois da Full Sail que eu tomei a decisão de me tornar um profissional da música. Aprendi um monte de coisas lá, aprendi analógico... Meu aprendizado foi metade analógico e metade digital.

 

RB – Você gosta de usar equipamentos analógicos?
DC -
Sabe de uma coisa? Eu gosto de usar, mas é muito caro, e a maioria das pessoas não pode pagar para fazer música no analógico. Por isso não uso mais fita. Uso ProTools ou qualquer workstation que grave. Penso que o analógico por muito tempo soou melhor, mas agora que o mp3 esta aí há mais de dez anos acho que nos acostumamos com isso. Não acho que faça uma grande diferença. Faz uma grande diferença para o profissional em analógico que gosta de som. Para o pessoal que compra nossas músicas, nossos filmes e tudo o que tenha música, eles não sabem a diferença.

 

RB – E como você entrou para o mercado da música profissional?
DC -
Depois que eu saí da Full Sail, eu tinha aprendido um pouco e tirado boas notas. Eu precisava de um emprego para pagar as contas. Então me perguntei: “qual é o melhor estúdio que tem grandes artistas trabalhando?”, e fiz uma lista. Depois liguei para todos aqueles estúdios para marcar uma avaliação de currículo. Uns não atenderam o telefone, outros não responderam, e alguns disseram: “ok, venha para uma entrevista...” e cancelaram. Aí eu fui para o Hit Factory, que era um grande estúdio com um monte de grandes artistas trabalhando lá. Por ser pontual, pelo tipo de roupa que eu estava usando e por conta da minha atitude profissional durante a entrevista eles me deram o emprego, e eu comecei bem, bem de baixo, mas estava em um estúdio profissional com pessoas profissionais, e então aprendi a ser profissional.

 

 

RB – Vendo as pessoas trabalhando…
DC -
Aprendi um monte de coisas na escola e se não fosse ela eu não teria pego aquele emprego. Talvez até tivesse pego o emprego, mas foi bem mais fácil tendo feito uma escola que o gerente do estúdio conhecia, mas aprendi mais nas minhas primeiras duas semanas de trabalho do que jamais aprendera na escola. É difícil ser um cantor profissional se você está em ambientes com cantores amadores. Se você está com cantores amadores, você será um cantor amador. Pode até ser melhor que eles, mas está se baseando no amadorismo. Toda vez que tinha um bom engenheiro que chegava à cidade eu perguntava: “posso te roubar cinco minutos?”. Algumas vezes eles diziam não, e aí eu aparecia no dia seguinte com uma xícara de café e perguntava: “ei, posso te roubar dez minutos?” e eles diziam “o café, é para mim? Ok, posso te dar dez minutos”.   

 

RB -Como você foi de engenheiro de som para produtor?
DC -
Eu fui engenheiro de áudio por dez anos com um produtor e estava sempre no estúdio com ele e com vários outros produtores. Então eu observei e aprendi, e depois tentei produzir alguma coisa. Eu mostrava a eles e eles diziam: “isso está bom, isso não está bom.” Eu perguntava: “o que eu posso fazer para que fique melhor?” e eles diziam: “mais guitarras” ou “mais baixo”. E eu fazia e continuei fazendo a mesma coisa como diretor criativo: perguntava às pessoas que estavam fazendo aquilo. Na verdade eu nem mesmo procurei essa posição. Um dia me ligaram e: “ei, você pode vir e ser o diretor criativo do show?”. E eu disse sim e fiz. Foi bom, foi divertido.

 

RB – Qual seria a diferença entre essas duas funções, de produtor e diretor criativo?
DC -
Um diretor criativo é muito parecido com um produtor. Ele pode até ser um produtor. Um diretor criativo é mais no ao vivo. É, normalmente, a pessoa que ajuda o artista em certos aspectos da turnê, para trabalhar no clipe ou na coreografia. Um diretor criativo pode ter muitos aspectos diferentes. Normalmente diretor criativo é em shows e produtor é no estúdio.

 

RB – E como você trabalha e se relaciona com o artista? 
DC -
Toda vez que eu trabalho com um artista eu pergunto: “oi como vai, como vai a família, como vão os negócios, o que você tem feito?” e “o que você quer? O que nós vamos fazer?”. Porque o meu trabalho é uma prestação de serviço. Você está no negócio do entretenimento, num negócio de pessoas, então você tem que lembrar que as pessoas são a razão de você estar nesse ramo e quando você está trabalhando com alguém você deve se certificar de que essa pessoa está feliz, como um cliente deve ficar feliz com o seu negócio. 

 

 

RB -Mas você também deixa a sua assinatura no trabalho, não?
DC -
Sim você tem, mas as pessoas que se destacam são aquelas que agregam valor. Então o meu trabalho é como produtor, mas digamos que o assistente saiu para fazer alguma coisa e o artista está com fome. Pelo fato de eu ser o produtor ou o engenheiro eu não fico esperando o assistente voltar. Eu vou e pego comida para o artista. Não tenho que fazer isso. Posso esperar pelo assistente, mas porque eu faço isso eu presto mais serviço, e o artista sente que ele tem  valor ao ser tratado daquela maneira. Todos, todo mundo com quem você vai trabalhar, você deve tratar como se estivesse trabalhando com o Michael Jackson ou a Madonna ou o Prince ou a Beyoncé ou seja lá o artista top com o qual você quer trabalhar um dia. Se você tratar todo mundo bem, todo mundo vai querer trabalhar com você.

 

 

RB – Que equipamentos você gosta de usar nos seus trabalhos?
DC -
Vou te dar duas respostas: se for um álbum ou eu estiver trabalhando com alguém que tenha verba para um estúdio eu vou querer trabalhar numa SSL 9000 ou uma Neve VR, estas são minhas duas opções. Se eles não tiverem isso, uso uma SSL Duality. Para as vozes eu gosto da SSL. Para várias coisas  eu uso muita coisa direto da mesa. Processadores externos eu gosto do Neve 1073, o 1081, que tem equalizador, e para compressão o Tubetech CL1B nos vocais. 

 

RB – E os efeitos de delay e reverb?
DC -
Os clássicos sempre. Gosto de mesclar equipamentos clássicos com as coisas novas, então eu uso Lexicon 480 e o TC 6000. Se eu tenho o físico eu uso, se não, uso o plug-in.

 

RB – Você faz mais mixagens que gravação?
DC -
Faço mais mixagem.

 

 

RB – Voltando aos negócios da música, você acha que o streaming é o lance agora?
DC -
Sim, todo artista com o qual eu trabalho eu digo: “concentra no Spotify”. Penso que o Spotify é onde o pessoal se dá melhor. ITunes Music é legal, mas nem todo mundo quer comprar música. O streaming te dá a chance de motivá-los a comprar música, então eu acho que se for para fazer alguma coisa você deve direcionar ao streaming.

 

RB – E album ainda faz sentido hoje em dia?
DC –
Não. É triste dizer isso, porque essa é a minha parte favorita. O começo da minha carreira foi fazendo álbuns, mas eu digo para novos artistas:  não faça um álbum. Faça um monte de singles até que um monte de gente vire para você e diga: “ei, nós queremos um álbum!”. E aí coloque todos aqueles singles juntos e faça mais três canções novas. Esqueça álbuns até que você tenha um público grande. Então você pergunta ao público: “se eu fosse fazer um álbum, qual tipo de álbum vocês iam querer?” “ah, baladas românticas”, ou “eu quero dançar, quero música animada” e aí você faz um álbum para essas pessoas com o que elas querem.

 

 

RB -  E o que acha dessa volta do vinil?
DC -
Eu adoro. Acho que não vai ser algo grande, mas é tão bom! Outro dia entrei numa loja e vi um vinil. É uma ótima mídia. Se você cuidar bem dos discos e estiverem num ambiente com boa temperatura podem durar um bom tempo.

 

RB – Você acha que faz sentido lançar um trabalho em vinil?
DC -
Se você estiver começando o único jeito de usar o vinil é como presente. Faça algumas cópias e dê de presente para o produtor que você quer que te represente ou para a gravadora com a qual você quer gravar. Não gaste seu dinheiro fazendo uma tiragem grande, porque você não vai vê-lo de volta. Se você é um artista médio e já vive de música pode fazer uma edição limitada especial. Vá direto ao seu público. É importante ter uma boa comunicação com seu público para isso, mas você pode até ganhar algum dinheiro. Se você é um artista grande eu digo; é claro! Faça concursos com seus fã-clubes e dê de presente para as pessoas que achar importante.

 

RB – Algo mais que queira comentar?
DC -
Tenho muita sorte de ter uma vida e uma carreira incrível. Trabalho em músicas e projetos maravilhosos e sinto que ainda estou ficando melhor no que faço, mas sei também que só estou nesta posição agora porque trabalhei muito duro e todo mundo pode fazer o que eu faço, até mesmo se você mora no Brasil. Não importa onde você mora, você pode fazer algo incrível com a sua vida e pode fazê-lo com música. Há um monte de gente fazendo coisas espetaculares dentro da música no Brasil e você pode fazer também, mas se não der o primeiro passo e decidir fazer, nunca vai acontecer. Então eu espero que ler esta entrevista dê o suficiente para saber que tudo é realmente possível. Fique muito bom no que você faz e continue fazendo boa música. Se você fizer música boa, não importa quanto tempo leva, em algum momento as coisas vão decolar porque a música boa fala por si e no Brasil tem muita música boa.        

 

Matéria publicada na edição 294

 

 

 

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