Entrevista com Guy Moon, por Marcio Chagas com a colaboração de Daniel Figueiredo

 

Quem viu desenhos como Os padrinhos mágicos, A Vaca e o frango e a série dos anos 90 de Johnny Quest também ouviu as trilhas sonoras de Guy Moon. Desde os sete anos de idade Guy já estudava piano. Ao entrar no ensino fundamental, deslanchou de vez a relação com a música com grupos de rock, participações em bandas da escola e os estudos de piano, bateria, percussão e coro. A continuação na música como profissional era o caminho natural. Mas como se deu o envolvimento com a composição de trilhas sonoras? É o que Guy nos conta nesta entrevista para Marcio Chagas, para quem foi apresentado por Daniel Figueiredo, também compositor e amigo de Guy.

 

 

Você estudou música formalmente?

Tanto quanto me lembro, a música era tocada constantemente pela casa: no aparelho de som e nos instrumentos. Meus pais e minhas duas irmãs eram muito musicais. Nossa casa estava constantemente imersa em música. Minha família também era ativa na música da igreja. Mamãe tocava órgão. Papai cantou no coro e atuou como tenor solo. Ele conhecia algumas melodias no piano e as tocava indefinidamente. Meu favorito era o (estilo) “Boogie Woogie” Um dia, aos cinco anos, pedi a ele que me mostrasse como tocá-lo. Ele fez, e eu fiquei viciado e, a partir de então, a música se tornou uma grande parte de quem eu era.

 

Fui matriculado em aulas de piano aos sete anos de idade. A maior parte dos meus dias, durante muitos anos, era estudar (piano). Ao entrar no ensino fundamental, aproveitei todas as oportunidades de me envolver (com música). Alguns amigos e eu começamos uma banda de rock na 6ª série, que permaneceu ativa até o ensino médio. Foi quando comecei a ganhar dinheiro tocando música. Estudei piano, bateria, percussão entrei no coro. Era óbvio que eu continuaria a estudar música depois do ensino médio. Consegui uma bolsa integral do Departamento de Música de Belas Artes da Universidade do Arizona, onde passei os quatro anos seguintes continuando as aulas de piano e aprendendo no estúdio de gravação, aprimorando o que seria a conclusão de minha educação formal.

 

 

Quando você descobriu que estava destinado a trabalhar com música para cinema e televisão?

Mudei-me para Los Angeles logo após me casar com minha namorada do colégio. Eu não tinha nenhuma estratégia específica além de "diga sim até que você tenha que dizer não", tocando, gravando, escrevendo arranjos, gráficos, cantando e programando em qualquer lugar para qualquer um. Após sete anos disso, fiz uma ligação fatídica com um advogado que mostrou meus trabalhos para o chefe de música da Hanna-Barbera. Naturalmente, começou uma parceria longa, e meu foco se voltou especificamente para compor trilha sonora para animação.

 

 

Qual você acha que é a diferença entre um compositor que compõe música para cinema e televisão e um compositor que compõe música para discos de música regular?

Acho que há muito mais semelhanças, mas as diferenças são bem definidas. Escrevendo como artista, sua inspiração pode se originar de praticamente qualquer coisa: uma experiência, um pensamento, uma crença, uma tragédia. A inspiração para escrever para uma imagem vem inicialmente da história. O que o escritor / diretor está tentando comunicar? Como você pode apoiar a história, ou até mesmo aumentar, quando a câmera não foi capaz de capturar o que se pretendia? A trilha sonora vive principalmente no reino emocional. Como podemos ajudar a direcionar o espectador a uma compreensão mais satisfatória da história?

 

Guy Moon em atividade no estúdio com auxiliar

 

Você foi indicado ao Emmy pela música de Fairly Odd Parents, como alguém recebe esse tipo de reconhecimento?

Primeiro, você precisa de um projeto de sucesso. Em seguida, vem o trabalho árduo de influenciá-lo de forma criativa de uma forma única que seja reconhecida pelo setor. Sem concessões, sempre oferecendo a melhor qualidade absoluta que você pode. Como a arte é subjetiva, isso tende a consumir muito tempo; desafiador quando a vida tem tantas outras opções atraentes. O equilíbrio da vida é a chave.

 

 

Quais são os requisitos para um aspirante a compositor compor música para cinema e televisão?

Amor por ouvir; tudo e qualquer coisa que puder colocar em suas mãos. Ouvir música ao vivo e também música gravada. Todos os estilos e épocas. Se você está destinado a ser mais específico em sua composição, isso eventualmente se apresentará.

Uma educação; para entender o que nossos antecessores descobriram e como desenvolveram a arte ao longo dos séculos.

Uma consciência; perceber intencionalmente enquanto assiste como a música está afetando a história. Teve sucesso? Isso prejudica? Se a música chama a atenção, pode não estar funcionando!

 

Guy Moon com o diretor do filme Talentland David Kiang (direita) e os prêmios de melhor trilha e melhor curta metragem de 2017

 

Ao longo de sua carreira, você já teve algum pedido musical incomum? Algum diretor ou produtor pediu para você criar algo incomum como trilha sonora?

Com séries animadas, a maioria é incomum. Uma pontuação que se destaca para mim é uma primeira passagem na série da Nickelodeon Tak and the Power of Juju. Eles não queriam uma pontuação de "Tarzan". Atingimos uma pontuação completamente a capela, o que acabou sendo uma das minhas experiências mais gratificantes escrevendo ... Mas não deu certo. A trilha sonora final tinha muitos vocais, mas também muita percussão do Tarzan.

 

 

Em geral, descreva como é trabalhar com a Nickelodeon.

Um puro prazer! Como são uma empresa movida por artistas, os criadores comandam a criatividade (não o conselho de administração). Acho que isso tem muito a ver com seu sucesso. Os cronogramas de entrega são razoáveis. Existe uma cadeia de comando definida da qual recebo notas, e raramente é de mais de uma pessoa. E, claro, sua distribuição é incrível. É uma alegria entregar um episódio e vê-lo em alguma tela de TV aleatória algumas semanas depois.

 

 

Teve alguma série ou filme em que você trabalhou que foi especial para você?

Sim. Danny Phantom, sobre um adolescente que acidentalmente adquire poderes de fantasma. Musicalmente, uma divertida fusão de techno-rock e drama orquestral. Algumas cenas engraçadas, algumas pesadas. Cenas de perseguição exigiam uma ENORME escrita orquestral. O investimento de tempo foi impressionante, mas é um dos meus trabalhos favoritos.

 

À esquerda de Moon, Frances Preston (Imprensa BMI - 1986-2004). na direita, Doreen Ringer Ross (VP de filmes, TV e relações com a mídia da BMI)

 

No que você está trabalhando agora?

Na continuação da Netflix de Johnny Test para o produtor executivo Scott Fellows. Esta é minha quarta série para ele. Também estou preparando três séries para o streamer pocketwatch.com, que foi fundado em parte por Albie Hecht, que conheci quando era presidente da Nickelodeon.

 

 

Você já lançou, ou tem vontade de lançar, um álbum de música "regular" sem relação com trilha sonora? Você tem algum projeto assim?

Sempre desejei, mas nunca fiz disso uma prioridade. Até recentemente meu amigo Daniel Figueiredo me convidou para ser parceiro em um projeto totalmente original de duo. Parece que nossos estilos e instintos são naturalmente complementares. Temos a primeira música em andamento!

 

 

Que conselho você daria para quem gostaria de começar a trabalhar com música para cinema e televisão?

Trabalhe duro, divirta-se muito, invista. Trate a todos com respeito, como se algum dia eles fossem seu chefe! (Sim- isso aconteceu ...) Diga sim até que você tenha que dizer não. Mas acima de tudo, defina intencionalmente o equilíbrio entre seu trabalho e sua vida. Não permita que outros façam isso por você.

 

 

Em seus anos de trabalho, você encontrou algo que seja uma fonte consistente de inspiração para sua música?

Eu simplesmente teria que voltar a ouvir. Nunca fui muito fã de associar músicas a eventos ou experiências de vida, e raramente escrevi uma melodia por qualquer outro motivo que não o puro prazer de ouvi-la (ou o pagamento...). Há vários artistas e compositores que se repetem em minhas playlists . Meu objetivo é confiar em Deus sobre todas as coisas e tirar proveito dos ricos elementos espirituais da arte e da vida.