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Especial lives: entrevista com Flávio Senna

29/07/2020 - 10:09h
Atualizado em 30/07/2020 - 13:26h

Reportagem: Miguel Sá / Fotos: Divulgação / Reprodução

 

Flávio Senna é engenheiro de som premiado com diversos Grammys. Com atuação na antiga RCA, tem seu nome nos créditos de vários clássicos da MPB. Requisitado da gravação de DVDs, e álbuns, também atua no som ao vivo de alguns dos P.As mais exigentes do país, como Roberto Carlos e Ana Carolina. Entre os trabalhos nos quais atuou mixando na temporada de lives estão o Drive In Show, do Roupa Nova – que aconteceu no Espaço Hall, antigo Barra Music - e Jorge Aragão. O engenheiro de som também é sócio no estúdio Cia dos Técnicos, no Rio de Janeiro.

 

Qual a diferença da live para outros trabalhos similares?

Os shows para TV são mais bem elaborados e algumas lives não. Por sorte acho que as que eu fiz foram bem elaboradas, bem ensaiadas, com cenário, passagem de som... Tem algumas lives de artistas profissionais que não são profissionais. Até li um comentário de um fã que falava sobre um: “era tão bom no disco e no show,  por que aqui está ruim?”. Alguém respondeu: “é porque aqui não tem a tecnologia é como ele era na realidade”. Achamos que as pessoas não prestam atenção, mas às vezes elas nem sabem por que que não está bom, mas sabe que não está, até porque o artista já deu um produto de qualidade antes. Se você se propõe a fazer live com celular, está legal, vale tudo. Mas se você se propõe a chamar vídeo, chamar uma unidade móvel de som, aí acho que tem que ser feito direito, porque se não só acentua o que está errado.

 


Clique na imagem e assista a live drive-in completa do Roupa Nova

 

Muda alguma coisa no seu trabalho ao mixar para internet? Como é a referência?

Por exemplo, fiz o Drive-in Show para o Roupa Nova (o show aconteceu no dia 10 de julho). O som foi para os carros que estavam no drive-in (montado no estacionamento do Espaço Hall) e foi para o YouTube. No drive – in, o som foi transmitido para os carros em FM. Foi fornecida uma frequência para ouvir no carro no volume que quisesse. O parâmetro de mixagem são os níveis de transmissão que você tem seguir, de mais ou menos 14 LUFs. Se acerta esse nível de loudness está tudo certo, e também fazer o mais perto que você conseguir fazer do disco ou do DVD. Tem que fazer com reverbs e alguns tipos de delay para não ficar um som frio. Usamos um par de microfones de ambientes que somamos em alguns momentos para não ficar tão chapado. Gravei a passagem de som para fazer um soundcheck virtual e toquei ela ouvindo dentro do meu carro para entender como soava a transmissão na frequência que eles passaram. Aí ouvi algumas coisas diferentes do que escutei dentro da unidade móvel. Então optamos por fazer uma segunda saída só para o FM com Master no final dela sem compressão - porque já havia uma compressão absurda da FM - e com uma equalização diferente da que fizemos para o YouTube. A mixagem foi para o YouTube e para o transmissor de FM com equalizações e compressões diferentes. Quando o Roupa Nova tocou no Espaço Hall, que é uma casa imensa, com um palco imenso, foi sem nenhum público na frente deles. Apenas a suíte de vídeo. Eu estava fora do teatro, na unidade móvel.

 

 

Que equipamentos foram usados?

Foram consoles que aceitavam plugins de equalizadores e compressores. Não tive nenhum problema com periféricos ou equipamentos. Eram consoles digitais e os microfones foram do setup normal de som de show, mas eu não quis interferir na forma como artista faz. Continuei com o que eles já usam normalmente. É claro se tem uns SM58 Beta que eles usam e eu tenho um mais novo eu coloco o mais novo, mas não troquei modelos.

 

E como foram esses trabalhos com a questão da pandemia?

Na live do Jorge Aragão foi feito aquele túnel de desinfecção, todo o lugar foi desinfectado e  foi feito exame em todo mundo que participou. No Roupa Nova a mesma coisa, e depois que faz o exame e coloca pulseira não pode sair mais do lugar. E todos com máscara e luvas. Os artistas ficaram com máscara até a hora de começar. Aí afasta todo mundo e os artistas tiram a máscara. Teve live em que detectaram, nos exames, pessoas que foram retiradas da equipe por terem apresentado resultado positivo para covid-19 e encaminhadas ao serviço de saúde. Além disso, claro que tem que se policiar e tomar cuidado.  Eu não consumi nenhum tipo de alimento lá. Trouxe tudo de casa.

 

As lives trazem perspectivas para estúdios como a Cia dos Técnicos?

A Cia dos Técnicos está fazendo várias. O estúdio permite fazer a live em um lugar tratado. Não que as unidades móveis não sejam ótimas, mas na Cia dos Técnicos estamos no mínimo a 20 anos gravando lá todos os dias. Temos como usar coisas analógicas, como prés da Neve. Teoricamente é uma gravação ao vivo com toda qualidade que o estúdio pode dar. Se você quiser usar uma voz uma com microfones Neumann... Eu acho ótimo. Mas já começou a diminuir . Isso vai ter o seu lugar. É uma opção legal o drive-in show até ter uma vacina. Acho o público essencial até para o desempenho dos Artistas, mas a Live vai ter o lugar dela.

 

 

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