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REPORTAGENS / Matérias Completas

No TBT de hoje, mostramos como foram os 30 anos do Rock in Rio

16/07/2020 - 16:50h
Atualizado em 30/07/2020 - 13:32h

 

redacao@backstage.com.br
Fotos: Ernani Matos / Leonardo C. Costa /
Roberto Rego / Marcos Hermes / Divulgação

 

Realizar um megafestival do porte do Rock in Rio é consenso entre todos que, além da técnica, é necessário muito conhecimento e expertise. Na edição de comemoração dos 30 anos, assim como no primeiro festival, em 1985, a Gabisom (que sonoriza o Rock in Rio desde a 3a edição em 2001) ficou responsável pelo som dos palcos Mundo e Sunset, por onde passaram ícones do rock como Queen, Rod Steward e Elton John, além de Rock Street, Tenda Eletrônica e Street-Dance. 

 

Há trinta anos, não existia line array, nem fibra ótica, nem softwares que ajudassem no alinhamento dos sistemas de sonorização nos grandes shows. No entanto, alguns estudos indicam que o conceito já estava pronto, aguardando a tecnologia que três décadas depois seria usada e abusada. Eletrônica digital, aperfeiçoamento dos algoritmos dos softwares, desenvolvimento da fibra ótica, foram alguns dos avanços que contribuíram para essa evolução sonora no festival. 

 


Na edição de 2013, a Gabisom já havia trazido como novidade o controle dos amplificadores via softwares. Para a edição 2015, novidades foram manter o audio no domínio digital, desde a primeira conversão, até a saída dos amplificadores. “O PA teve basicamente a mesma configuração de 2013, apenas maior nas laterais,  e mudou a montagem dos subwoofers do chão para Di-polar. É um conceito antigo está voltando a se utilizar hoje. Nessa montagem, são duas colunas de subs uma de frente para a outra, explica Peter Racy, engenheiro responsável da Gabisom. 

 

No âmbito de gerenciamento de sinal, também houve mudança.
O sistema do Rock in Rio exige uma complexa matriz de endereçamento e manipulação de sinais, para oferecer a flexibilidade de utilização dos recursos do sistema. 
Assim, proporcionamos a cada operador, a escolha de utilizar o sistema da forma que preferir. Há um verdadeiro cardápio de modos diferentes que podemos disponibilizar.

 


Para isso foi incorporada como mesa master, uma SD-7, da Digico. Com ela, o gerenciamento do sistema ficou mais seguro, mais exato, mais flexível e mais rápido, agregando também a limpeza da transmissão de sinais via fibra ótica, que levam a grande quantidade de sinais para o palco. “Desta maneira, eles partem da console do artista digitalizados passam pela mesa master ainda digitalizados, vão até o processador/ amplificador ainda digitalizados e só viram analógicos novamente quando saem do amplificador, para o alto-falante. Com isso, estamos evitando multiplas conversões e re-conversões AD/DA. 

 


Outra novidade de peso nesta edição, foi o uso de um novo PA no palco Sunset. O MLA da Martin Audio.  Trata-se de um sitema line-array Multi-Celular.  Com sofisticadíssimos algorítimos e muito DSP, este sistema reune qualidade excepcional com rendimento acima do normal. Contribuiu muito para amenizar os efeitos negativos da house-mix estar situada a 86m do palco, dando a impressão de se estar a apenas 40m, devido ao controle de diretividade vertical proporcionado pelo
Software, e os 6 canais de amplificação e DSP embutidos em cada caixa.

 

Sistema
Na edição 2015, a opção foi pelo mesmo VTX V-25, da JBL, usado na edição passada (2013). Esse sistema tem como características as novas tecnologias incorporadas, como componentes de alta capacidade, novos presets, nova amplificação (Crown I-tech 12000 HD) e amplo gerenciamento e monitoramento, oferecido pelo software Performance Manager da Hi-Q Net.
Assim como na edição 2013, foram oferecidas diversas maneiras de se utilizar o sistema, de forma que se alguém tivesse dificuldade em criar outra mix independente para voz, pudesse optar por um dos outros esquemas. 
A configuração do sistema também permaneceu igual às outras edições do festival, incluindo a de 2013, onde cada PA é formado por três colunas, uma denominada Banda, outra de Sub, e uma terceira, chamada de Voz. Assim, os técnicos podiam ainda trabalhar com uma dessas opções. 

 

 

Delays
Cada uma das 10 torres de Delay utilizaram 6 Norton LS-8 e os monitores foram todos d&b M-2. Já os sidefills foram d&b J8, 6 por lado. O nível médio de pressão sonora que chegava à house mix era entre 105 a 110 dB SPL, lembrando que o sistema tinha os ganhos dos setores mais próximos, progressivamente atenuados, de modo a manter a uniformidade da pressão em toda a área de público. 

 


PALCO SUNSET
Ganhando notoriedade no festival, o Palco Sunset definitivamente é uma atração à parte no Rock in Rio. O espaço, que atualmente funciona quase como um festival independente, tem se destacado a cada edição, não só por conta das atrações, dignas de Palco Mundo, mas pela qualidade e potência sonora fornecidas.


Para a edição de 2015, o Palco Sunset trouxe o sistema novo da Martin Audio, as caixas MLA, que deu muito o que falar entre os técnicos de som dos artistas que se apresentaram, seja pelo distanciamento da house mix – a cerca de 60 metros do palco – ou pela inevitável ventania que, eventualmente, assolava a Cidade do Rock. Para tanto, entre os dias 26 e 27 de setembro, a equipe de reportagem da Backstage bateu um papo com alguns dos profissionais do áudio que por lá passaram e traz, a seguir, um breve ‘raio-X’ de como foi o trabalho de sonorização na ocasião.

 

 

Técnicos
De acordo com Michel Kuaker, técnico de som do Brothers of Brazil, o novo sistema da Martin atendeu bem às necessidades, apesar do posicionamento da house mix. “O maior problema da maioria dos grandes eventos é o lugar onde fica a house. O PA ficou bem distante, e na última vez que fiz o Rock in Rio, a house mix estava de lado, o que foi péssimo. Ao menos desta vez eles centralizaram”. 

 


Ainda de acordo com Kuaker, um ponto que lhe acaba sendo positivo na hora da mixagem é o fato do formato da banda ser enxuto. Um violão, bateria e duas vozes. “Quando se tem muitos elementos, tem que montá-los como ‘puzzle’, é uma questão de frequência. Com poucos elementos, posso deixar tudo notável, o violão bem presente, os tambores da bateria grandes, o bumbo grandioso, para suprir a falta de baixo”, explica ele que justifica o encorpado som do instrumento, para cobrir o espectro do grave nas caixas.
Desde 2008 com o Brothers of Brazil, o técnico, que já atuou em outras edições do festival, inclusive em Lisboa, Portugal, aponta algumas das dificuldades de trabalhar com diversos elementos em palco, dentre elas, a monitoração de tudo. 


“Em show solo, se pode ser mais minucioso. Em festival é complicado, devido ao tempo de entrega de tudo. Não há espaço para passagem de som! Descarreguei minha cena – usei o virtual soundcheck – e em cerca de 5 minutos, já tinha sido feito o line check. Passei duas músicas com PA aberto para verificar, e foi... É complexo ser detalhista”.


Para Flavio Decaroli e Jorge Dias, técnicos de som responsáveis pelo show Erasmo Carlos e Ultraje à Rigor, a cobertura do PA foi impressionante e fatores como timbre e ajuste do processamento das caixas foram destaques do sistema de som, apesar, segundo eles, da falta de subs que acompanhassem a pressão e cobertura flay PA. 

 

 


“Infelizmente, nunca havia trabalhado com o sistema da Martin Audio, mas o achei versátil e com enorme rendimento. Estou há 10 anos com o Ultraje, e esta é minha primeira vez no Rock in Rio. Na abertura desta edição, atuei com o Titãs no Palco Mundo. Estar no festival é uma oportunidade de ver e ouvir o que estão usando de última geração no mundo. A maioria das bandas estrangeiras traz seu próprio backline”, diz Decaroli, responsável pelo som da banda no palco. “A notícia de que o show seria Ultraje e Erasmo foi confirmada apenas um dia antes da apresentação no festival, quando os dois foram para estúdio de ensaio. De um lado o Ultraje, com monitores, side e amplificadores, atingindo 127 decibéis. Do outro, Erasmo e sua banda, que só utilizaram earphones. No PA, cada técnico com seu console somando-os no processador, ou seja, um não tinha controle sobre o console do outro. Daí pode-se imaginar as dificuldades! Não tivemos tempo de passagem de som, devido ao atraso das bandas anteriores, passei o som sem o baixo, pois trocaram a via do canal do multicabo só para o palco. No outro dia, ao assistir a gravação da transmissão do show, percebi nitidamente as dificuldades que tiveram na mixagem, mesmo tendo o controle das duas bandas na mão”.


Complementando a opinião de seu companheiro de palco, Jorge Dias, que há 10 anos sonoriza Erasmo Carlos, aponta a ventania como um dos desafios para a realização de seu trabalho na ocasião. Ele afirma que as altas frequências rodaram pra cima do palco, não favorecendo sua propagação. “Não sei se é o alinhamento dos parâmetros de range, ou o processamento dele, pode ser normal por conta da umidade do ar, está ventando. Existe um tempo hábil de propagação das altas frequências, daí o grave encorpa mais... Apesar disso, o sistema me satisfez. O tempo de passagem de som é pequeno pro que queremos fazer, tive que criar uma nova cena, e isso me atrapalhou. Contudo, da segunda música do show em diante, ficou arrumado e tudo andou”.

 


Pela primeira vez no Rock in Rio, o técnico de som de Angelique Kidjo, Patrick Murray, se disse surpreendido com o sistema de som, pois mesmo com a ventania que assolou o espaço, o PA se mostrou com bastante punch e poderoso. “Ainda não tinha trabalhado com este sistema novo da Martin. Não precisei fazer muitas mudanças nas cenas. A clareza das frequências também me surpreendeu. Não fiz virtual soundcheck, usei arquivos de outros shows, bem ao modo ‘plug and go’”. Com impressões semelhantes à Murray, a japonesa Keiko Takeda, técnica de som do show que reuniu Sergio Mendes e Carlinhos Brown, ressalta que tudo lhe pareceu claro, apesar de alguns problemas com as altas frequências, que iam e voltavam, segundo ela. “Não tenho certeza de onde era o problema, talvez devido à ventania, ou de todo o sistema”, pondera Takeda, que já havia trabalhado anteriormente com este PA da Martin.


Tendo trabalhado com o sistema da Martin Audio apenas no monitor, o técnico de som da banda Suricato, Léo Almeida, destacou como pontos positivos a cobertura pro público e o timbre do PA, no total da mix inteira. Léo explana que para o estilo apresentado, folk-rock, se mostrou versátil, atendendo bem às necessidades. “Fiquei apreensivo com a participação de Raul Midón. Como seria a questão de sua mix , etc. Todavia, houve uma preocupação da banda com ensaios na semana do festival para entender a relação de volumes que ele usa, bem como a parte percussiva no violão, sua forma de cantar, tocar bongô. Acontece que nós temos aqui um público variado e o desafio é fazer um trabalho que agrade a todos. Esse é um ponto chave no PA que, às vezes, as pessoas não entendem. Você tem que ouvir aqui ‘fora’ tudo que está vendo no palco”, pondera.
Segundo o técnico de som de Aurea e Boss AC, Sassá Nascimento, a cobertura da área foi uniforme, muito estável e bem coerente, apesar de estar a cerca de 60 metros do palco. Ele diz que diante da house mix até sua frente, talvez tenha faltado um pouco de sub que lhe pareceu curto e não saberia explicar o que pode ter acontecido. 


“A MLA é uma tecnologia totalmente diferente. Primeira vez que trabalho com este modelo. Pareceu-me bem elástico, não se mostrando específico para um estilo. A fase do sistema é impressionante, no meio da audiência, às vezes dá confusão de tão exato”. Com experiência no festival, Sassá que em Portugal realiza os shows de Aurea no Palco Mundo, e o último com o sistema da JBL VTX, salienta que a informação vinda das caixas da MLA fogem da linguagem típica da Martin Audio. “É um sistema descontrolado, com muito médio e grave, muita energia, mas energia descontrolada, que é incrível. Nós mixamos um disco, praticamente”, ressalta.


Á frente do PA de Al Jarreu e Marcos Valle, o técnico de som Mark Deadman, mais conciso em suas opiniões, e pela primeira vez no festival, se mostrou satisfeito com o som do PA e seu bom nível de equalização. 

 


No último dia de festival, o Palco Sunset foi local para uma homenagem aos 450 anos do Rio de Janeiro, recebendo diversos artistas, dentre eles Maria Rita, Buchecha, Léo Jaime e Alcione, que cantaram sucessos da MPB em show montado exclusivamente para o Rock in Rio. À frente do sistema de som, o técnico de áudio Leco Possolo também fez algumas considerações acerca do PA da Martin Audio. 


“Apesar da distância da house mix, a cobertura é muito boa. Tivemos muito vento durante o show, então as altas frequências variaram muito. A derivação do ângulo das altas é muito grande, mas chegou bem aqui. A cobertura central é bastante focada, não abre muito para as laterais, o que é bacana para diversos estilos. O tiro dele (PA) é bem longo e preciso, com uma unidade bem legal no centro”.


Possolo, que trabalha no festival desde 1985, explica que num show como esse as dificuldades são inúmeras, uma vez que trata-se de uma demanda exclusiva e têm-se a insegurança de toda equipe técnica – músicos e artistas –, 52 canais ao todo e muitos microfones abertos. “Já tinha trabalhado com a Martin. Neste modelo, é a primeira vez. Me atendeu bem. Apesar da quantidade de canais abertos, houve pouca volta para o palco”. 

 

 

Iluminação
Assumir a iluminação de um dos maiores festivais de música do mundo não é uma tarefa fácil, e os sócio-diretores da LPL Professional Lighting Rafael Auricchio e Caio Bertti sabiam disso desde o início, quando aceitaram o convite do Rock in Rio, para a edição de 2015, substituindo a PRG, responsável pela luz do evento em 2013. Para tanto, a LPL se preparou muito, e com bastante antecedência. O Lighting Designer escolhido pelo Rock in Rio foi Patrick Woodroffe, da empresa Woodroffe Bassett Design, e Terry Cook, um de seus associados e responsável por acompanhar de perto cada detalhe do festival. 

 

 

De acordo com Caio, diferentemente dos últimos anos em que a ênfase era praticamente apenas no Palco Mundo, esse ano foram 13 projetos distintos, uma para cada área do festival. Desde o Palco Mundo propriamente dito até a área VIP, tirolesa/montanha russa, merchandising etc, cada um desses espaços teve um projeto específico, seguindo o conceito de “estar vivo”, resaltando o clima pulsante do festival. Nada se apagava antes do festival terminar. O Palco Sunset, por exemplo, ficou aceso mesmo sem atrações. “Convidamos neste projeto a Nova Light e a Companhia da Luz, empresas locais, que assumiram responsabilidades em seus palcos, com curadoria nossa”, explica.


Ao falar dos desafios enfrentados, Caio destaca, de longe, as exigências dos Lighting Designers das principais bandas e principalmente dos headlines. Segundo ele, todos querem muita coisa, e isso foi até mais complicado do que atender o projeto incial de Terry, mesmo este com centenas de moving lights espalhados pela Cidade do Rock.

 


“Foi uma grande surpresa, pois cada artista queria fazer o show da vida! Compreensível, devido à dimensão do festival e o alcance empresarial e midiático que ele propõe. A maior parte das produções investiu pesado em extras. E para a LPL não existia a palavra ‘não’”, conta. 


Para citar alguns exemplos, no Queen, foram pendurados duas paredes de luz, cada uma com aproximadamente 3.600 quilos, em 4 metros quadrados lineares. Oitenta moving lights só nessas estruturas. O Metallica entrou com quase 120 moving lights a mais; para o System of a Down foi feito um grid enorme, com 2.800 quilos de luz, mudando de posição linhas já montadas do festival. A Rihanna entrou com um grande cenário de projeção, alterando muito o que já estava programado. “Enfim, cada artista traz seu show para dentro do festival e o desafio é tornar isso possível”, enfatiza.

 

 

Mapa de luz
De acordo com Caio, o mapa de luz do festival veio pronto dentro da concepção de Terry e Patrick, que focaram em equipamentos usados pelas bandas nas turnês, e práticos o suficiente para os Lighting Designers clonarem, com facilidade o show, qualquer que ele fosse. “Trata-se de uma mistura de spots, washes, beams e LEDs super bem aceitos por todos os profissionais que por aqui passaram”, explica o sócio-diretor, reforçando duas parcerias que foram fundamentais. “Através da Harman, a Martin, fabricante de moving lights, aceitou o desafio de fazer uma grande demanda de importação de equipamentos novos.

 

 

Praticamente tudo o que está no Palco Mundo é da Martin, e é zero. Pouco mais de 70% dessa leva ficará internalizado no patrimônio da LPL, o restante deve voltar para o showroom da Martin. A outra parceria é a GrandMA, provedora e gestora de todo o sistema de network de última geração. “Poucos festivais têm o que temos. Trata-se de um sistema integrado, entre a house mix, os dimmers e o estúdio 3D, numa mesma seção, facilitando a vida dos designers, que já têm o show carregado na mesa que vão usar, assim que deixam o estúdio, sem nem precisar levar o pendriver”, ressalta. 

 


O sistema de visualização usado foi o Light Converse, que ajudou muito para que todos tivessem condições de programar seus shows com tempo, além de economia de energia em alguns momentos. 

 


Caio conta que logo após aceitar o convite em trabalhar no Rock in Rio, para obter a parceria da GrandMa, precisou se reunir com o dono da empresa, Ralph-Jörg Wezorke, junto à Daniel Ridano, em Frankfurt, na Alemanha. “Para nós, o Rock in Rio se destaca pelo tamanho e headlines exigentes. Não existe um festival com essa amplitude que tenha se consolidado no país e consiga sustentar apresentações em duas semanas fixas de trabalhos. Esse período de evento, de fato, só acontece no Brasil de dois em dois anos.

 

Para a LPL, o RiR foi um grande desafio, e todo o dinheiro ganho foi reinvestido na compra de equipamentos e na melhoria da prestação de serviços. “Acreditamos que o segredo não é o equipamento em si, mas o atendimento, a forma como receber os maiores LDs do mundo e fazer acontecer bem em sete dias de festival. Esse é o grande desafio”, completa.

 

 

 


 

 

Cesio Lima, o “homem” da LPL, conversou com a Backstage sobre como é voltar a fazer o Rock in Rio, das parcerias com o mega lighting designer Patrick Woodroffe e com a Martin, e ainda sobre como dribla as dificuldades de atuar em um festival tão complexo.

 

Backstage - Quais foram as principais mudanças nessa edição do Rock in Rio?
Césio Lima -
As principais mudanças foi que tivemos um Ligthing Designer de renome, o Patrick Woodroffe, e o Terry, e isso organizou melhor. Mas para a LPL a principal mudança foi que a empresa passou a fazer o Rock in Rio de novo no lugar da PRG. Na luz do festival, a principal mudança foi a contratação do Patrick como LD que dá uma moral maior e organiza mais. Põe ordem na casa ter um nome grande assinando e uma empresa organizada, como a WED.

 

Backstage - Além do Palco Mundo, a LPL ficou responsável por toda a iluminação do Rock in Rio?
Césio -
A gente iluminou todas as atrações do Rock in Rio. Palco Mundo, Palco Sunset, Palco Eletrônico, roda-gigante, tirolesa, montanha-russa, área VIP e ainda tivemos uma parceria com a Novalight e com a Cia da Luz para dividir as responsabilidades.

 

Backtage - Como surgiu a vinda do Patrick como Lighting Designer?
Césio -
Quem contratou o Patrick foi o Rock in Rio. A Roberta Medina sempre gostou de trabalhar com o Patrick; ela trabalhou com ele em 2001 e queria chamar ele de novo. Coincidiu de ser na mesma época que voltamos a fazer o Rock in Rio. O Roberto Medina me chamou para fazermos um estudo de como seria dessa vez. Lembramos dos velhos tempos, e conseguimos fechar um contrato que era bom tanto para a LPL quanto para o Rock in Rio.

 

Backstage - Você já havia trabalhado em conjunto com o Patrick. Como foi essa interação entre vocês?
Césio -
A minha parceria com o Patrick tem quase 30 anos. Desde que ele veio com a Tina Turner aqui. Começamos a trabalhar juntos mesmo no Rock in Rio do Maracanã, em 1991, e depois disso já fizemos muitas coisas juntos. Ele fez Roberto Carlos, Marisa Monte, inauguração do Beira-Rio, Criança Esperança. Ou seja, fizemos muito trabalho aqui, e eu também fiz as Olimpíadas de Londres com ele. Nos Rolling Stones em Copacabana eu que fui o Lighting Designer da luz de plateia dele. Então temos uma parceria de muito tempo, além dessa parceria comercial, somos amigos. Quanto ao Terry, eu já o conhecia das Olimpíadas de Londres. Ele é um “chato” (risos), mas vale cada centavo pago para ele, porque ele fica focado em dar para o cliente dele o melhor. Então acaba sendo um chato adorável (risos). 

 

Backstage - Então com essa parceria de longa data, um já conhece o método de trabalho do outro?
Césio -
O Patrick é daqueles que sempre está acompanhando a evolução, desde a época em que colocávamos apenas os operadores de canhão no Rock in Rio e a tradução, depois começamos a fornecer os trusts, as lâmpadas PAR e começamos a ter autonomia para fazer os grandes shows. Então ele acompanha tudo. O Rock in Rio funcionou como um relógio, com todos os extras enormes que tivemos montar de um show para o outro. A produção do Rock in Rio é muito profissional. Antigamente a gente sabia que ia levar mais ou menos duas horas de um artista para outro, mas hoje em dia é tudo calculado. A produção nos dá os instrumentos para que possamos forçar uma barra com os gringos e falar o que dá pra fazer nesse tempo. Nos shows que eram enormes, como Queen ou Metallica, nos programamos para dar certo. Durante a madrugada, tínhamos a equipe da troca, então tudo deu tempo e foi certinho. Eu que acompanho a evolução dos shows estrangeiros no Brasil dos anos 1980 até agora, com aquele Rock in Rio de 1985, que foi um divisor de águas, pela ousadia do Roberto, e abriu as portas para esses shows no Brasil, sei que a gente estava muito aquém das necessidades daquela época. Então os caras vinham aqui e sofriam mesmo. A estrutura de shows melhorou muito aqui no Brasil, então o pessoal de som, luz, LED, palco, não “devem” nada a ninguém. Às vezes achamos que ficamos aquém quando vemos uma produção com a do U2, mas os caras produzem um show enorme para fazer 170 shows. É diferente de atender um gringo que está passando pelo Brasil, então acho que estamos superbem.

 

Backstage - Quais foram as novidades de equipamentos em relação à edição anterior?
Césio -
Bem, equipamento é equipamento. Se você precisa de 100 moving lights de alta performance de um tipo e 100 de outro, hoje em dia existem várias marcas que podem atender. Mas não dá para por um xingling no lugar de um Varilite. Decidimos fazer com Martin porque ela está sendo parceira da LPL, tem os moving lights de alta performance que podem atender a qualquer LD do mundo e tudo que foi pedido tivemos como atender. Então escolhemos a Martin e investimos uma grana para comprar tudo novinho, no Palco Mundo. Foi muito gostoso trabalhar com equipamento zerado, sem dar problema. De tempos em tempos, temos alguém que dá suporte para nossa empresa, como já tivemos outras fábricas. Tem muito essa coisa de momento. A empresa lança uma linha de moving lights que é revolucionária, então ele fica na moda, daí outra fábrica lança outra que fica melhor, e isso é cíclico. Nesse momento, nosso parceiro está sendo a Martin e estamos sendo muito bem atendidos, com a representante no Brasil, a Harman, que nos dá suporte. Temos também um suporte da GrandMA, com o Daniel Ridano, e esse ano veio o Phillip, um alemão muito bom. Então, estávamos com um house mix muito f., que era o Phillip, o Paulinho Lebrão, o Serginho Almeida, o Eric Berti, então só tinha fera. Ainda tinha a Lis Lawrence, minha assistente que conhece todo mundo do showbizz e já está nisso a um tempo. Então os LDs chegavam e já se sentiam em casa.

 

Backstage – E com foi a interação com os LDs dos artistas?
Césio -
Foi muito tranquilo, porque a maioria dos que vieram já tinham vindo antes e já conheciam a LPL, porque fazemos muitas turnês estrangeiras. Então o LD às vezes já tinha vindo com outro artista. Até porque não é tão grande assim o mercado para os tops, e às vezes pelo fato de o artista vir para o Rock in Rio, ele pega um bigman para fazer a luz dele no RiR.

 

Backstage  - E qual a diferença do Rock in Rio para os outros grandes festivais?
Césio -
Eu faço Lollapalooza, Tomorrowland, mas Rock in Rio o buraco é mais embaixo. No Tomorrowland, por exemplo, não tem esse tanto de extra. Antes no RiR a gente dizia que não podia trazer extra, e tinha que fazer com o equipamento que estava ali e pronto. Mas não é assim. No próprio Rock in Rio é legal ter esse diferencial do Queen para o Metallica. Primeiro porque quem paga são os gringos, e segundo porque dá uma crescida no show e dá uma personalidade. O desenho do Patrick é suficiente para qualquer show, e a gente queria bater o pé dizendo que não podiam os extras. Mas hoje acho que se der, pode ter. Primeiro porque eu ganho dinheiro, segundo porque é bom para o público, que vai assistir o festival e ter essa diferença. 

 

Backstage – O Rock in Rio é um festival muito mais complexos do que os demais?
Césio -
Sim, eu acho. Na nossa empresa, principalmente. Durante todo o RiR, também estamos fazendo turnê de outros artistas, e os outros clientes também querem que a gente atenda, e o ano inteiro. O RiR é mais esporádico. Mas os meus outros clientes fazem shows o ano inteiro, então não posso “dar perdido”. Então temos que atender direitinho, mesmo acontecendo o RiR. Então tem essa complexidade de ao mesmo tempo acontecerem as turnês e os shows extras, em SP, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte. Temos que atender sem deixar o padrão mudar, porque estamos fazendo Rock in Rio.

 


 

Eu fui, a todos

Visão histórica da sonorização por um profissional de áudio.

 

Quero começar citando a frase de um grande amigo, Nelson Cardoso, “Quem não se lembra do seu passado, com certeza não terá um bom futuro”. E falar do Rock in Rio é um prazer, pois a primeira edição do festival foi um divisor de águas com relação a tudo que envolve os grandes festivais.

 

Em janeiro de 1985, eu estava lá, fui em seis dos dez dias de Rock in Rio, para ter o prazer de assistir ao vivo, Queen, AC/DC, George Benson, James Taylor, Rod Stewart, The B52’s, Nina Hagen, entre outros.


Na minha memória foi o festival que mais me marcou, já trabalhava com equipamentos de sonorização, era também discotecário (o DJ de hoje), e ter o prazer de escutar uma verdadeira parede com mais de 100 falantes JBL de 18 polegadas, com uma baixa frequência que nós, brasileiros, não estávamos acostumados a ouvir. Sempre vou parabenizar a Clair Brothers com seu consagrado sistema S4 (nos delays era outro sistema) por proporcionar esta alegria. Apesar da lama e do cansaço valeu muito a pena.


Em janeiro de 1991, desta vez no Maracanã, eu novamente prestigiei o festival e curti Prince, Guns n’ Roses, George Michael, A-HA, INXS, Information Society, Dee Lite, Lisa Stansfield e outros. A sonorização ficou a cargo da Showco (empresa americana que depois foi adquirida pela Clair) que trouxe ao Brasil o Prism System de cinco vias. Nesta época era normal as grandes locadoras terem o próprio sistema e alguns processadores e consoles dedicados. Achei muito bom o resultado final por ser em um local difícil de ser sonorizado, como um estádio de futebol, mas hoje com sistema Line Array não é tão complicado.


Seguimos para 2001, que apesar do local maravilhoso (a Cidade do Rock In Rio) foi o festival que menos gostei, porque esperava mais, lembro do Show do Guns n’ Roses, Sting entre outros. Foram sete dias de festival, mas fui em três, e o que mais me marcou foi o momento destinado aos três minutos de silêncio “por um mundo melhor”.


Em 2011, na sua quarta edição no Brasil, na nova Cidade do Rock, já tive o prazer de ir ao Festival com a minha filha Valentina, gostei muito do som. Parabéns à Gabisom e sua equipe que, ao longo de dez anos, sendo a empresa responsável pela sonorização, conseguiu desenvolver um sistema capaz de atender desde o show suave do Stevie Wonder ao metal pesado do Metallica.


Em 2013, temos o Festival já instalado em sua casa definitiva, e evoluindo em logística, atendimento e tecnologia. Na sonorização tivemos a estreia do sistema novo da JBL, neste ano também Valentina me acompanhou.


Chegamos em 2015, meu sexto Rock in Rio e o terceiro de Valentina, ou seja, fui a todos. Novamente, reparei a evolução do sistema de sonorização, achei que a altura das caixas no Palco Mundo ficou melhor que na edição anterior e senti uma melhor eficiência com os subgraves. No palco Sunset, o sistema da Martin Audio superou minhas expectativas, gostei do timbre, só achei que a house mix estava muito longe dificultando a mixagem dos técnicos. A Pista Eletrônica bem agradável e com um sistema eficiente da Norton e com subs da JBL. Também achei incrível um palco da Pepsi montado na passagem (início da Rock Street), apenas 2 JBL VTX por lado e uma qualidade e eficiência de dar inveja. O palco principal da Rock Street, eu não gostei, acho que o sistema de som ficou prejudicado atrás da tela ortofônica.


Resumindo, sou fã do Rock in Rio e, apesar deste ano ter tido o meu iPhone furtado dentro do evento, em 2017 estarei lá, com a minha filha.


Roberto Rego
robertor@audiovoice.com.br

 


 

 

 

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