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REPORTAGENS / Matérias Completas

Os detalhes da produção do Lollapalooza Brasil 2022

01/05/2022 - 12:39h
Atualizado em 10/05/2022 - 10:04h

 

Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Divulgação

 

Durante três dias – 25, 26 e 27 de março – os 600 mil m2 do Autódromo de Interlagos foram ocupados por mais de trezentas mil pessoas para ver bandas e artistas como  The Strokes, Doja Cat, Pabllo Vittar, Miley Cyrus, A$AP Rocky em um line up com mais de 60 atrações divididas nos palcos Perry, Adidas, Onix e Budweiser no festival Lollapalooza, realizado pela Time For Fun (T4F).

 

Entre tempestades climáticas e políticas, além do triste falecimento de Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters, e o cancelamento do show da banda - substituída pelas oito atrações Planet Hemp, Emicida, DJ Nyack, DJ KL Jay, Criolo, Bivolt, Drik Barbosa e Rael - a direção técnica de Andreas Schmidt, da Audiobizz, seguiu firme, com o Festival funcionando plenamente.

 

 

 

Andreas conversou com a Revista Backstage falando sobre os detalhes de produção do primeiro grande evento musical pós-pandemia.

 

- Quais são as funções do seu cargo?

Através da Audio Bizz, coordenamos as seguintes equipes:

- Roadies

- Stage Managers

- Engenheiros de RF

- Tecnicos de Som

- Tecnicos de Patch de sistemas

- Diretores de TV

- Tecnicos de Video

- Light Designers

- Tecnicos de TI

- Eletrecistas

- Tecnicos de Geradores

- Tecnicos de Efeitos e Pyro

- Coordenadores de Montagem de Estruturas de Palco e Barricadas.

- Todas as empresas de perfil tecnico que trabalham no evento

 

Além de todos os itens de técnica, que devo ter esquecido vários na lista acima, temos como função a gestão de tudo o que se relaciona as bandas, desde as negociações dos equipamentos a serem usados, até questões de logística dos equipamentos e acordos contratuais relacionados aos equipamentos que serão usados nos shows. Levantamento de custos dos equipamentos de toda a área técnica. Gestão de gastos, bem como planejamento de produção da execução dos trabalhos, incluindo credenciamento, distribuição de equipes e cargos.

 

 

- O que mudou desde que começou a trabalhar nele? Aumentou muito? Houve mudanças tecnológicas importantes?

Inicialmente, fazíamos muito somente a direção de palco. A necessidade nos fez mudar, e acabamos absorvendo outras funções. Hoje cuidamos de várias áreas justamente para que tenhamos o controle destas operações. Posso mencionar por exemplo a inclusão de projetos de arquitetura e engenharia, para acompanhar as montagens e termos certeza da execução do que estava no projeto. Houve um avanço tecnológico muito grande, onde muitos aplicativos são usados para diferentes fins. Um evento deste porte, hoje em dia, sem técnicos de Rádio Frequência, não seria possível.

 

 

- Quais são as especificidades deste evento em relação a outros nos quais já trabalhou?

Sinto que neste evento a preocupação está na música. O que importa é a experiência musical que as pessoas podem ter. Diversidade e oportunidades para bandas menores. Não vejo isto em muitos festivais. Talvez isto esteja voltando lentamente como sendo o principal objetivo de um festival. 

 

- Quais são os desafios em um evento deste porte? 

O maior desafio é executar uma pré-produção com tempo o suficiente para não termos situações adversas. Sempre é melhor trabalhar duro na pré-produção, para não ter tantos problemas para resolver na hora H.

 

 

- Qual o tamanho da equipe ligada a você? Como são divididas as funções?

Só a minha gestão direta, dentro da minha equipe, estamos falando de algo em torno de 76 pessoas. Indiretamente, temos mais de 800 pessoas sob nossa responsabilidade.

As funções se dividem desde as atribuições das equipes nos palcos, até instalações elétricas, TI e telefonia celular.

 

 

- O local é favorável ao evento? Quais são os desafios de lá? Houve momentos em que o clima atrapalhou, não é?

Em primeira instância, quando saímos do Jockey para o Autódromo, não havia gostado da ideia. Porém, confesso que devo dizer que ficou muito melhor. Hoje, com toda a certeza, o Jockey não comportaria um público deste tamanho, nem a estrutura montada no Autódromo. O maior desafio do Autódromo fica por conta das restrições de uso da pista. Não podemos montar nada sobre a pista, e muitas vezes, isto atrapalha, mas o maior desafio mesmo é o tempo. Com o autódromo sendo usado para corridas nos finais de semana, trava bastante o nosso processo de montagem. Colocar este festival em pé em duas semanas, realmente não é fácil.

O clima, desde que o Lolla existe, sempre atrapalhou... O importante é termos esta condição de antecipar eventuais problemas para tomarmos decisões acertadas em função da segurança de todos.

 

 

 

 

- Quanto tempo antes do evento ele começa a ser planejado?           

 Ja estamos falando de 2023. Em geral, de um ano para mais. Muitas vezes já estamos falando com bandas que tocarão em 2023, no início do ano de 2022, antes mesmo de acontecer o festival de 2022.

 

- Como é a pré-produção dele? A conversa com as equipes dos artistas e com as empresas de som e luz. Como acontece este meio de campo?

Hoje, existe um modelo já adotado, onde conseguimos otimizar o tempo necessário para o planejamento, mas ainda assim, existe muito trabalho de escritório. A criação de listas de necessidades em todas as áreas demanda tempo, e estas, mesmo com uma guia, se alteram todos os anos. Primeiramente fazemos o nosso projeto de Palco, som, led, luz e todos os demais itens. Somente depois disto previamente definido, iniciamos as conversas com todas as bandas. Encaminhamos para as bandas o que temos no festival, e não exatamente o que eles pedem. Para esta criação, muitas vezes usamos as informações que temos dos Head Liners. Em geral, as negociações com estas bandas se iniciam muito antes de termos qualquer contrato assinado, até porque parcialmente, as infos do festival jávão anexas ao contrato. Desta forma, se evita bastante os problemas com os pedidos extras de bandas, onde no final, esta conta fica a ser paga pelas bandas, e não pelo promotor.A parte dos pedidos de equipamentos para as empresas de som, luz e vídeo, fica sendo a parte mais fácil.

 

 

- Alguma atração fez pedidos específicos? Algum pede algo que te chamou atenção?

 Sempre existe um ou outro pedido específico, como algum equipamento que não temos disponível. Mutas vezes, os equipamentos acabaram de ser lançados nos EUA e Europa e já constam em riders de bandas, mas ainda não os temos no Brasil. O que sempre chama a atenção, são os equipamentos de automação que, dependendo dos pedidos, não conseguimos atender e tem de vir com as bandas. 

 

- Quando começou a ser conversada a volta deste evento? Quando começaram a ver que daria para fazer?

 A conversa de fazer o Lolla nunca deixou de existir, mesmo após o primeiro cancelamento. Sempre houve um planejamento, que inicialmente era para ser em novembro ou dezembro e passou para março, abril novamente. A limitação da execução sempre foi por conta da legislação e da preocupação com a saúde do público. As equipes sempre estiveram em stand by. Para nós, neste Lolla, o sinal verde veio já tardio, pesando em pré-produção. Somente em outubro estávamos começando a falar de Lolla para Abril.

 

- Houve especificidades na produção deste evento por conta da saída da pandemia? Ou foi só reunir de novo as equipes e repetir processos já consolidados?

 Tivemos várias baixas em equipes, desde pessoas que nos deixaram devido a doença, até pessoas que abandonaram a área para atuar em outras frentes. De modo geral, ainda conseguimos manter boa parte da equipe, o que ajuda no processo de colocar o evento em pé, mesmo em um período de tempo tão pequeno.

 

 

- Vocês se depararam com algum imprevisto no decorrer dos shows? Como foi resolvido?

 Sempre temos imprevistos. Dependemos de máquinas e de seres humanos. Sair ileso de um evento deste porte, é quase que impossível. Tivemos problemas com A$AP na parte de vídeo, onde o computador deles não estava conseguindo se conectar com o sistema do led. Tivemos problemas com fogos, que com as chuvas acabaram molhando e não explodindo de forma apropriada, ou mesmo não detonando. Tivemos problemas com a chuva, que molhou mesas de som. Problemas com o vento, que rasgou o fundo de lona de dois palcos. Enfm, sempre temos problemasmas, como sempre falo, problemas são bons, porque tem solução. Se não tem solução, se torna um fato, e teremos que aprender a viver com ele.

 

 

- Esse festival é uma franquia. Tem algum tipo de especificação que os donos do Festival mandam que você tenha de seguir? Ou é autonomia total?

O trabalho é em conjunto, respeitando opiniões de cada um. Não existe uma imposição. Sempre se resolve as coisas com o diálogo. Muito democrático o processo. Confesso que é o modelo menos engessado que já trabalhamos. Recebemos apenas as demandas de Riders. Existem comentários, sugestões e solicitações em todas as áreas, vindo por parte da C3/LN, mas dificilmente existe uma imposição. Quando surgem momentos assim, estão sempre relacionados àsegurança do público. Nao posicionar uma câmera em determinado local porque estrangula a passagem, apenas como exemplo. 

 

- Neste momento pós-pandemia, ainda foi necessário seguir procedimentos sanitários no festival relacionados à covid?

Sem dúvida. Existiu uma preocupação muito grande por parte do festival e seguir todos os protocolos, desde o controle de vacinas do público, até o uso de mascaras em locais mais reclusos e que merecem maior cuidado, como unidades moveis de vídeo e áudio e o contato de artistas com as equipes. 

 

-Após a onda de lives, o que ficou disso? 

Ficou o aprendizado de que, mesmo em situações adversas, temos a condição de achar saídas. A tecnologia está nos ajudando muito a usar estes recursos. Quem nunca usou, aprendeu a usar. Quemjá usava, ficou feliz de poder ter ao menos alguma atividade para atuar. 

 

- Alguma coisa mudou na parte de transmissão e de TI em geral no Lolapalooza? Essa parte da transmissão ganhou mais importância, ou voltou tudo a como era antes?

 Sempre temos acréscimos de tecnologia, seja na área de TI, seja em qualquer outra áreatécnica. Na transmissão, como sempre falei durante a pandemia, fizemos o que sempre fizemos. Este evento vem sendo transmitido pela internet desde o primeiro. Se pensarmos nesta tecnologia, ela vem sendo usada desde os festivais como Planeta Terra. Estamos falando de mais de 15 anos. Acredito que muitas pessoas não tinham acesso a estas tecnologias, e a situação fez com que todas corressem para o mesmo lado, mas não temos tantas novidades nesta area.

Vendo pelo ponto de vista de importância, acredito que as transmissões pela rede se tornaram mais importantes. Com certeza, os números de pessoas trafegando e fazendo uso destas tecnologias, aumentou muito, e deve ainda aumentar mais, além de estar evoluindo e melhorando.

 

- Algum comentário que gostaria de fazer?

Não sabemos o dia de amanhã, mas mesmo com todos os problemas que o nosso setor teve, fiquei feliz de poder continuar a atuar na áreatécnica. Espero que as pessoas não desistam de seus sonhos, e do que realmente gostam de fazer. Sou muito grato as pessoas que me ajudaram durante este periodo. Agradecimento ao surgimento do Backstage Invisível, que me fez sentir util. Temos que tentar estender a mão para os que precisam, afinal, a mãotambémjá foi nos estendida em algum momento.

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