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SUMÁRIO / Sumário

Coldplay: tecnologia a serviço do espetáculo

01/05/2023 - 22:54h
Atualizado em 04/08/2023 - 00:38h


Reportagem e fotos housemix: Miguel Sá | Fotos Coldplay: reprodução redes sociais
 

A turnê Music of The Spheres, referente ao álbum homônimo lançado em 2021, começou a viajar na Costa Rica, em março de 2022. O início da temporada brasileira seria emoutubro de 2022, após a apresentação no Rock in Rio no mês anterior. No entanto, Chris Martin, o vocalista da banda composta também por Guy Berryman (baixo), Jonny Buckland (guitarra) e Will Chapion (bateria), teve uma infecção pulmonar que provocou o adiamento dos shows no Brasil para o mês de março deste ano. Entre os ajustes acontecidos após o adiamento, esteve a mudança do local do show em São Paulo do Allianz Park para o Estádio do Morumbi e três datas extras de shows, com uma a mais no Rio de Janeiro e duas em Curitiba.

 

Os shows em São Paulo foram nos dias 10, 11, 13, 14, 17 e 18 de março. Em Curitiba, foram nos dias 20 e 21 no Estádio Couto Pereira. No Rio de Janeiro, o Estádio Nilton Santos, o Engenhão, recebeu as apresentações nos dias 25, 26 e 28 de março. As atrações de abertura foram Eliana Dara em São Paulo e a dupla mineira Clara x Sofia em Curitiba e Rio de Janeiro. Em ambas as cidades as atrações nacionais tocaram antes da banda escocesa Chvrches.

 

Além da abertura, artistas nacionais também marcaram presença em um set durante o show do Coldplay. Em determinado momento, abanda se deslocava do palco principal para outro menor a cerca de 30 metros atrás da housemix, no meio da plateia, onde compartilhavam números musicais com artistas como Sandy (em SP), Seu Jorge(Rio e SP), Tom, Zeca e Moreno Veloso(Rio), Hamilton de Holanda e Milton Nascimento(rio). Milton, que se aposentou dos palcos em  novembro último, apresentou Maria Mariaacompanhado pelo Coldplay, pela Família Veloso, Hamilton e Seu Jorge.

 

 

O áudio

Com três palcos – o principal, a passarela e um menor atrás da housemix-  atrações de abertura e as participações, é necessário que haja uma estrutura consistente e uma rotina bem fechada para evitar qualquer imprevisto no megashow. A equipe de áudio do Coldplay tem 16 pessoas, com 10 técnicos no FOH e quatro no palco fazendo diversas funções mais os engenheiros de FOH, Daniel Green, e de monitor, Chris Wood. “Antes da turnê fizemos ensaios” explica Tony Smith o responsável por projetar o sistema que roda com a turnê.

 


Tony Smith e Dan Green

 

A equipe ainda tem Nick Mooney como chefe de equipe; Dom Thorne como técnico de sistema, Alex Hadjigeorgiou como técnico do sistema digital, dois técnicos para os sistemas de  delays, dois técnicos do P.A. para a direita do palco e dois técnicos para a esquerda do palco, no PA. Na parte de palco estão Ali Viles como técnico de RF, James Smallwood como técnico de palco e Nick “Mystic” Davis como técnico de monitor e Chris wood técnico de monitor.

 

O equipamento todo foi trazido de navio da Inglaterra, a partir dos galpões da Wigwan, em Manchester. A equipe testou tudo o que diz respeito ao funcionamento dos equipamentos, como conectores e cabos, antes de enviar tudo para a viagem. No Brasil, as viagens entre São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro foi feita de caminhão. “De São Paulo para Curitiba ou para o Rio não é tão longe, dá umas duas noites, mas sim, foi todo  o mesmo equipamento para todos os lugares”, diz Dom Thorne.

 

 

Configuração

O sistema tem uma configuração básica usada em todas as arenas com um par dearrays principais, duas de cobertura lateral e mais uma linha de subs içada por trás das duas.Para reforçar a cobertura, além dos front fills, também tem o que eles chamam de 270, que são mais dois arrays  afastados nas laterais que dão mais amplitude de cobertura sonora horizontal, cobrindo, por exemplo, partes da arquibancada mais próximas do palco.Mais para o fundo, o sistema conta com quatro torres de delay. A configuração do sistema de sonorização permite com que haja poucas mudanças de local para local.  “Só mudaram os ângulos nos içamentos de cobertura lateral(em relação a São Paulo). O array principal, os subs içados, os subs no chão, os frontfills e todas as posições deles são exatamente as mesmas. Usamos menos duas caixas nos últimos dois delays e obviamente os ângulos mudaram. Mas na linha principal cobrimos sempre a mesma área”, detalha Smith.

 

O número de caixas usadosno Engenhão, foi de 16 d&b GSL8 de cada lado no array principal, 16 nos arrays de cobertura lateral, noved&b SL-SUB suspensos em cada lado com emissão cardióide mais 16 no chão e18 KSL8suspensos nas linhas 270 e 12 d&b Y7P nos frontfills. No caso do Engenhão, a profundidade permitiu com que as duas torres de delay mais longe do palco precisassem de apenas 12 caixas cada uma. Para definir a cobertura são feitasvisitas técnicas aos locais de show.

 

O sistema de sonorização, que utiliza a série SL, da d&b,é amplificado por amplificadores D80. A ideia ao escolher o equipamento era conseguir 50% a mais de eficiência no consumo de energia em relação à turnê anterior mantendo os mesmos níveis de saída de áudio. Isto para ajudar a atingir o objetivo do grupo de fazer uma turnê com o máximo de sustentabilidade. A equipe do Coldplay e a d&b mantém troca de dados para pesquisar e melhorar o rendimento do equipamento.

 

Um detalhe importante no sistema de sonorização é que as duas  torres nas quais os arrays L&R, coberturas laterais e subs ficam içadas foram construídas especialmente para a turnê, tanto pelo fato de não haver teto na maioria dos locais de show para pendurar as caixas como para manter as distâncias corretas entre subs e arrays garantindo que não haja nenhum tipo de interferência entre eles, mantendo e otimizando os padrões de cobertura sonora.

 


Tony Smith e Dom Thorne

 

No palco, todos usam in ears, mas o baixista Guy Berryman usa dois monitores de chão d&b M2. Há dois sistemas XSL fazendo o sidefill.

 

Funcionamento do sistema

O Direct Out Prodigy MP System Processor gerencia diferentes sinais de diferentes fontes para o show. Na housemix estavam as consoles Digico SD7 e 10 das bandas Coldplay, Chvrches e a Allen Heath da banda brasileira Clara x Sofia. O Prodigyrecebe sinais do Coldplayno formato L&R e sub por meio de sinal AES e com backup analógico. “Com o Prodigy eu posso pegar estes sinais em qualquer formato. Podemos ter isso em AES ports, DANTE ports ou em entradas analógicas e também temos Ravena ports ou MADI. O que o sistema faz é pegar essas entradas e rotear via DSP fazendo estes sinais ‘conversarem’ entre eles e os mandando para o sistema de P.A. no L&R, sub,fills, e para os delays fazendo, neste caso, uma mistura em mono do L&R”, explica Dom Thorne.

 

A partir do momento em que sai do Prodgy, o sinal sai em AES e em analógico. O AES é mandado para o sistema Optocore que então transporta o áudio, via fibra ótica, para quatro partes: uma para o sistema chamado como “palco L”, outra para o “palco R”, uma para o “delay 1” e outra para o “delay 3”  (que, após a mistura, são reproduzidos nos pares 2 e 4). Quando chega a estas unidades, o sinal é convertido novamente em AES para XLR e então alimentam os amplificadores dos sistemas.

 

Todos os passos são sempre conferidos de forma que, desde o ponto zero do trabalho até o estágio final, Dom e toda a equipe tenha a exata noção de que tudo está funcionando como deve. “São muitas coisas diferentes que se tem de fazer funcionar juntas, em diferentes níveis de complexidade e conectividade. Tem que focar na banda no palco e fazer funcionar”, coloca Thorne que, como técnico de sistema, éo responsável pelo funcionamento do sistema. “O Tom me passa o projeto e eu faço com que ele funcione nos lugares”, define.

 

 


Tony Smith projetou o sistema de sonorização do Coldplay

 

 

A mixagem do Coldplay

Trabalhando há 25 anos com o Coldplay, Daniel Green está sempre presente nos trabalhos do Coldplay, tanto ao vivo como no estúdio, durante a preparação dos álbuns. No entanto, não há exatamente uma separação entre os momentos em estúdio e os shows. A banda está sempre produzindo, principalmente durante as turnês. “Eu me considero sortudo porque eu faço as gravações também, então quando começamos a fazer um álbum também já pensamos em como vamos fazer isso no estádio. A criação dos sons, a produção... Eu penso em como isso vai ser apresentado”, explica o profissional de áudio.

 

 

A equipe do Coldplay monta uma unidade móvel, em geral montada em um dos camarins, que eles sempre podem usar para criar. “É uma oportunidade porque a turnê é um dos poucos momentos no qual toda a banda está junta. O Chris vive nos EUA, os outros vivem no Reino Unido, e é difícil ter todos eles juntos. Na turnê estão todos juntos, então é um bom momento para estarem (imersos) na música”, conta o engenheiro de áudio e produtor.

 

Uma das preocupações ao iniciar uma turnê é traduzir o som do álbum para o show. Uma parte importante são os ensaios feitos antes das viagens. “Tentamos fazer uma outra abordagem dos arranjos a partir dos velhos sons. Temos um estúdio nos arredores de Londres e um tempo de pré-produção antes de começar os ensaios para a turnê usando alguns sons a partir do álbum. Eu programo os sons da bateria, os sons da guitarra e preparo os tracks extras de teclados no nosso estúdio antes de começarem os ensaios. Tem alguma experiência sobre coisas que não funcionam também”, aponta, ressaltando que, fora os tracks extras com sons de cordas e teclados, o show é apoiado na performance ao vivo dos músicos da banda.

 

 

Na mixagem, ele costuma usar, principalmente, plug-ins da Waves, o que pode incluir ferramentas como o PuigChild, o  C6; o CLA-76 ou o API 2500, e faz bastante uso de Buss. “Uso uns três ou quatro tipos de reverb, um para os vocais, umpara a bateria, um para os instrumentos em geral, e tenho um delay para o Chris do TC2290, um slapback delay... Uso bastante compressão. Faço um buss da bateria. Principalmente no bumbo uso bastante processamento, na caixa, nos tons e nos overheads. Também usono baixo, guitarras... Tento simplificar fazendo um buss para os instrumentos porque são muitos canais, cerca de 150, porque nós temos três palcos, então faço um bus para o palco principal, outro para o palco B e para o palco C. Trago esses três para um buss e isso torna as coisas mais rápidas. Tento trazer isso tudo para o meio da mesa, para ter tudo ao alcance das mãos”, completa.

 

Abertura com Clara x Sofia

A dupla mineira se preparou especialmente para os shows tanto musicalmente como tecnicamente para as cinco vezes em que fizeram a abertura. Passaram tanto pelas desvantagens de ser a primeira banda de abertura como pelas vantagens de poder contar com um bom sistema bem montado para poder mostrar o trabalho.

 


Rodrigo Grilo no FOH de Clara x Sofia

 

Após ser convidada para fazer o show, a produção da dupla e a da turnê - tanto a parte da equipe brasileira como a inglesa - fizeram reuniões técnicas para dimensionar o que seria necessário, como explica o engenheiro de som de P.A. Rodrigo Grilo. “Basicamente trouxemos o nosso sistema inteiro, desde instrumento até cabeamento e alimentação de AC, multicabo, mesas... Tudo. Entrego a minha mix no gerenciador de sistema deles e só usamos o P. A.”. Todo o equipamento foi conseguido a partir de parceria com a empresa de sonorização ZBM, de Belo Horizonte.

 

Como é normal nesse tipo de situação, o tempo de passagem de som foi curto. “É um linecheck de 30 minutos. Tem que ser super ágil. Sabendo disso tentamos vir com o sistema o mais pronto possível, coisas pré-programadas e a banda ciente da situação”. Além da dupla, tocaram no show bateria baixo, guitarra e teclado. A produção da dupla trouxe ainda os microfones das vozes e bateria. O baixo entrou em linha e foi usado um simulador de amplificadores para a guitarra. Juliano Ventura operou a luz e cuidou da produção. Alberone cuidou dos monitores da dupla.

 

 

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