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COLUNISTAS

Precisão e Versatilidade: Show do Iron Maiden em Curitiba

21/09/2022 - 09:29h
Atualizado em 21/09/2022 - 10:48h



Foto de abertura: Aspecto da “Legacy of the Beast Tour” da banda inglesa Iron Maiden. Fonte: Steve Jennings.

 

 

A iluminação cênica se integra às produções musicais como recurso essencial para a visibilidade e primordial para a “memória” dos espetáculos, que são experenciados, registrados, compartilhados e eternizados a partir de diversos meios. Com uma legião de fãs, a banda Iron Maiden sabe muito bem como explorar as potencialidades da experiência estética de um show, valorizando os aspectos sensoriais e emocionais. Nesta conversa, vários elementos serão abordados a partir da última turnê, “Legacy Of The Beast”, realizada na capital paranaense no fim de agosto deste ano, com precisão e versatilidade.

 

 

Determinados shows se tornam marcantes e emblemáticos por diversos motivos. Dentre os quais, o caráter de ineditismo, exclusividade, oportunidade e singularidade. Outros, por proporcionarem renovadas experiências estéticas, tornando cada espetáculo um evento memorável e único – mesmo que presenciado várias vezes na mesma turnê.

 

 

Para a banda inglesa Iron Maiden, não se trata do primeiro show no país e na capital paranaense. Esta foi a décima terceira passagem pelo Brasil desde a primeira edição do festival Rock In Rio e a sexta apresentação em Curitiba. Das seis, com esta última, foram três shows na Pedreira Paulo Leminski. Mas Curitiba foi sim, em 2022, a primeira cidade no Brasil a receber a Legacy Of The Beast Tour (iniciada na Estônia em 2018), após um hiato de 11 anos desde a última vinda deles na capital paranaense, em 2013.

 

 

Formada em 1975 em Leyton, East London (Inglaterra), a atual formação conta com Bruce Dickinson nos vocais, Steve Harris no baixo, Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers nas guitarras, além de Nicko McBrain na bateria. Essa banda de Heavy Metal se consagra como uma das mais bem sucedidas e emblemáticas, sendo influência e referência para gerações de músicos e admiradores. Parte desse sucesso se deve, e muito, à devotada legião de fãs, em grande parte responsável pelo esgotamento dos ingressos do show nas primeiras semanas de disponibilização para venda, e realizado no dia 27 de agosto de 2022,

 

 

Coube à ótima banda sueca Avatar um impactante show de abertura, com aproximadamente quarenta minutos, marcado por uma performance intensa, mesmo que a iluminação cênica para essa apresentação tenha sido básica e predominantemente monocromática. Sem o apoio de telões (fundo ou laterais), a produção ficou centrada no palco, com a valorização visual das expressões e interações circenses e teatrais, enaltecidas pela maquiagem pesada e marcante do vocalista Johannes Eckerström.

 

 

No horário de vinte e uma horas, com a tradicional pontualidade britânica, foi iniciado o show da “Donzela de Ferro” (como tem sido, com carinho e respeito, a tradução para a denominação da banda), com uma sequência de três canções do último álbum (décimo sétimo da carreira), Senjutsu (2021), com a faixa-título, Stratego e The Writing on the Wall. Nos primeiros instantes, revelava-se uma cenografia inspirada na arquitetura oriental, horizontalizada, simétrica e imponente, realçada por luzes difusas azuis e fachos brancos e âmbares intensos. Evidenciava-se, desde os primeiros acordes, uma estética exuberante, dramática e potencialmente épica, próxima à linguagem teatral, valorizada pela performance de Dickinson (e, em algumas canções, Eddie the Head), que interpretava diversos personagens que conduziam as narrativas das canções.

 

 


Aspecto do show da banda inglesa Iron Maiden em Curitiba – Pedreira Paulo Leminski, 27/08/2022. Fonte: Toca Cultural

 

 

A direção de iluminação e programação da atual turnê estão sob a condução do Lighting Designer alemão Robert Coleman, que trabalha com a banda desde 2006 e que também já trabalhou com bandas como Ghost B.C. e Bullet For My Valentine, entre outros. Os cenários e adereços foram concebidos pela empresa inglesa Hangman & Metalman e os efeitos sob a responsabilidade da empresa também inglesa Pyrotek Special Effects, além dos vídeos e animações reproduzidas nas telas laterais, cuja produção geral na atual turnê é conduzida pelo diretor americano Patrick Ledwith.

 

 

Importante destacar que no processo criativo da “Legacy Of The Beast Tour” a concepção visual dos cenários foi definida inicialmente para que a iluminação cênica fosse posteriormente projetada, permitindo uma melhor integração e valorização da tridimensionalidade conferida ao palco – e que torna o espetáculo ainda mais exuberante.

 

 

Após alguns segundos em blecaute com efeitos sonoros para a troca do cenário, de fato, rotundas retro iluminadas com imagens de vitrais que aludiam a contextos religiosos (mesmo com a figura de Eddie), uma sequência arrebatadora com Revelations (do algum Piece of Mind”, de 1983), Blood Brothers (quarta faixa de Brave New World, de 2000), Sign of the Cross (primeira canção de The X Factor, de 1995), com uma iluminação mais uniforme, em tons azuis, violetas e vermelhos, complementadas por lustres dispostos simetricamente, com lâmpadas que simulavam velas, com luzes âmbares, vibrantes e intensas.

 

 


Aspecto da canção “Flight of Icarus” no show da banda inglesa Iron Maiden em Curitiba – Pedreira Paulo Leminski, 27/08/2022. Fonte: Cezar Galhart.

 

 

Nova proposta cenográfica, agora formada por portais com arcos trilobados e uma imponente figura humana alada, executaram com maestria a épica canção Flight of Icarus (também do álbum Piece Of Mind), com fachos brancos e âmbares, finalizada com labaredas que culminaram na derradeira queda do filho de Dédalo, de acordo com a mitologia grega. Com o cenário predominantemente azulado (pelas luzes laterais e de fundo), a banda executou a sequência uma das mais aguardadas pela plateia, Fear of the Dark (faixa-título do álbum de 1992), com fachos verdes e violetas, em contrastes dinâmicos e intrigantes.

 

 

Para finalizar a primeira parte do show, Hallowed Be Thy Name e The Number Of The Beast (ambas do álbum The Number Of The Beast, de 1982) e Iron Maiden (última canção do primeiro e homônimo álbum de 1980). A “besta” (que intitula a turnê) surgiu, enfim, com um inflável cenográfico, cercada de efeitos e luzes mais dinâmicas, estabelecendo um diálogo, triangulado com a sonorização e iluminação cênica, por uma narrativa notável, situando o espetáculo em um patamar de catarse, na mesma contextualização da representação teatral, promovendo todos os atores em cena a intérpretes de uma peça pujante e complexa.

 

 

No primeiro bis, The Trooper (mais uma do ótimo álbum Piece Of Mind), agora com uma rotunda que estampava Eddie e remetia ao tema da canção, inspirado na Batalha de Balaclava (1854). O palco, agora com um tablado em patamar mais elevado – por detrás da bateria, que servia como um mirante e passarela para a interpretação do tema principal. Eddie retornava ao palco para um duelo com Dickinson – mas quem realmente ganhou foi a plateia, pela diversão e fascínio com que as dinâmicas de palco eram coreograficamente desenvolvidas, seja pela atuação dos músicos, seja pela iluminação, crepuscular e envolvente.

 

 


Aspecto da canção “The Number Of The Beast” no show da banda inglesa Iron Maiden em Curitiba – Pedreira Paulo Leminski, 27/08/2022. Fonte: Cezar Galhart.

 

 

Na sequência, The Clansman (quarta canção de Virtual XI, de 1998), uma nova rotunda, revelando um Eddie guerreiro, em alusão à luta e rebelião destacadas na letra, cujo ideal de liberdade ficava evidente por uma iluminação cênica mais fluida e instigante. Deve-se ainda destacar o cuidado de Coleman com a busca das melhores interações com os elementos tridimensionais no palco e com as dinâmicas dos músicos, complementada pela coordenação de montagem da iluminação, conduzida por Antti Saari, além das equipes de montagem, carpintaria e figurino, impecáveis.

 

 

Em Run To The Hills (também do estimado The Number Of The Beast), nova rotunda e uma sobreposição de luzes, alternando entre tons azuis e vermelhos, dominantes e em contrastes, complementadas por variações de magenta e âmbar, em transições frenéticas, além de canhões seguidores que acompanhavam as marcações de Dickinson na estrutura elevada, precediam um novo e segundo bis, com o encerramento do show com a emblemática canção Aces High (faixa que abre Powerslave, álbum lançado em 1984), com uma aeronave inflável automatizada sobrevoando o palco, em uma densa massa de efeitos, com luzes predominantemente vibrantes (a “tônica” do show).

 

 


Aspecto da canção “Aces High” no show da banda inglesa Iron Maiden em Curitiba – Pedreira Paulo Leminski, 27/08/2022. Fonte: Cezar Galhart.

 

 

Mais do que um show de entretenimento, a banda Iron Maiden entrega um espetáculo único, mesmo que repetido em todas as datas. Se isso pode sugerir algo previsível, do contrário, torna-se mais empolgante assistir a mais de uma apresentação da mesma turnê, pois as interações entre todos os elementos presentes no placo, conferem uma atmosfera cuja teatralidade e entrega de todos os envolvidos – banda e equipe técnica – uma produção versátil e precisa, em todos os detalhes, e com memoráveis surpresas.

 

 

Abraços e até a próxima conversa!!!

Precisão e Versatilidade: Show do Iron Maiden em Curitiba
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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