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COLUNISTAS

Estúdio: A menina dos olhos (da cara). Última parte.

24/11/2021 - 09:04h
Atualizado em 24/11/2021 - 15:11h

Fotos: Documentário Sound City / Freepik.com / Wavebrak Media / Divulgação

 

O Templo dos sonhos!

 

Por fim, na quarta parte da série de artigos sobre estúdios, vamos falar dos estúdios consagrados. Pequenos como o Motown ou grandiosos como o Abbey Road, muitos estúdios sobreviveram aos períodos críticos de crise e chegaram aos dias de hoje como templos sagrados da música.

 

 

Quando o documentário Sound City (https://www.youtube.com/watch?v=EV_FOdMtos0) dirigido por Dave Grohl, chegou ao youtube eu confesso que fiquei realmente impressionado. Passei uma semana sonhando com aquilo. Toda história contida no espaço, nos equipamentos e nos álbuns de sucesso. O enredo do documentário orbita o lendário console Neve que atualmente é propriedade do próprio Dave Grohl. Sound City soa como um projeto ambicioso de pessoas entusiastas que inicialmente queriam apenas entrar em parte de um segmento comercial, mas que por fim acabaram fazendo história.

 

Mas qual o segredo do sucesso do Sound City? É difícil afirmar, mas parece que é uma combinação perfeita de pessoas e máquinas. A figura amável dos donos Joe Gottfried e Tom Skeeter, o super produtor Keith Olsen, somados a um ambiente propício para os músicos, o console Neve, o que na época era realmente para poucos, permitiu que álbuns de bandas como Fleetwood Mac, Neil Young, Elton John, Cheap Trick, entre muitas outras, entrassem para história do rock-pop norte americano. Por outro lado, o documentário mostra claramente a derrocada final do modelo de estúdio caro e exclusivo, perdendo espaço para a produção do pop eletrônico com o uso de plataformas digitais de gravações e finalmente a queda acentuada na venda da mídia física. Então fica a dúvida: É o fim dos grandes estúdios?  Se não o fim, certamente a decomposição e a fragmentação. Peças icônicas como mesas e microfones clássicos, gravadores, compressores foram sendo vendidos e ganhando nova vida em estúdios domésticos de pequeno e médio porte. Eu mesmo também coleciono algumas peças raras.

 

 


Tom Skeeter, Keith Olsen e Joe Gottfried no documentário Sound City

 

 

O início de uma nova era!

 

Dave Grohl também foi responsável por trazer à tona essa revolução do processo de renascimento dos estúdios pequenos e médios porte que de alguma forma se beneficiaram do desmonte dos grandes estúdios. Na série Sonic Highways (https://www.youtube.com/watch?v=FUR6x-AIHps ) também produzida por Grohl, somos apresentados a vários estúdios espalhados pelos EUA, que tiveram que se reinventar para continuar trabalhando, ou ainda estúdios que já nasceram nessa nova perspectiva. Um dos que mais me chamou a atenção é o Rancho de la Luna. Um home studio pra fazer inveja a muito entusiasta. Plantado no meio do deserto, o produtor David Catching transformou sua casa inteira em um super estúdio. Os equipamentos, consoles e instrumentos ficam misturados ao meio do mobiliário da casa, espalhados pelas salas e quartos, podendo ser gravado qualquer coisa em qualquer lugar. Outro detalhe é que por estar em um ambiente desértico o menor dos seus problemas é com o vazamento sonoro. No mais o estúdio conta com toneladas de equipamentos raros e clássicos que acabam sendo uma grande isca para os artistas que querem viver essa experiência. Outro estúdio muitíssimo interessante é o da produtora e engenheira Sylvia Massy. Depois de ter trabalhado nos principais estúdios americanos, Massy montou seu estúdio em uma antiga igreja. Proprietária de uma mesa clássica Neve, praticamente irmã da mesa dos estúdios Sound City e também de uma coleção magnífica de microfones vintage, Massy hoje oferece uma "vivência" de gravação para os músicos.

 

 

Decompondo grandes estúdios

 

Depois do fim dos grandes estúdios, vemos dia a dia seu patrimônio e história se decompor em fragmentos menores. No início parece triste, mas por outro lado é um recomeço tanto para os equipamentos quanto para os destemidos donos de home studios. Diariamente recebo  ofertas de equipamentos que foram da Transamérica, RCA, Beebop e por aí vai. Se por um lado parece um velório pra quem vende, pra quem compra é uma grande conquista. Ter um microfone icônico, um par de canais SSL, Neve ou Harrison é ter um fragmento da história. Existe um comércio frenético nos grupos de whatsapp, basta saber com quem falar. A decomposição dos estudos clássicos em pequenos home studios repletos de equipamentos de primeira linha e cheio de história, hoje representa uma boa fonte de recursos para quem está com o estúdio dando prejuízo, ou migrando completamente para o digital. O único estúdio que não vende nada é o Mosh, ao menos nunca vi nada à venda. Por outro lado, muito feliz com isso, tenho um carinho imenso pelo Mosh, provavelmente pelo amor que o Oswaldo Malagutti, dono do Mosh, demonstra por tudo aquilo. Mas de qualquer maneira, com o tempo a gente vai vendo que os estúdios vão ganhando ares de “templo sagrado” e que a combinação entre as pessoas e máquinas vão animando esse mundo de malucos que escolheram viver dentro do estúdio.

 

Por fim, não podia deixar de falar do Forest Lab, do Lisciel Franco. Uma pessoa que põe o coração na ponta da lança tem que ser lembrada. O que, no início, parecia apenas uma tentativa de sobreviver no mundo do áudio, com o tempo foi se transformando numa cruzada para edificar um estúdio muito genuíno. Ainda que eu ache que seus vídeos devessem vir com aqueles avisos “atenção crianças, não tentem isso em casa” não tenho como não admirar todos aqueles que pararam de fazer as contas do valor do sonho e se lançaram ao desconhecido com a coragem necessária para pavimentar o caminho das gerações futura. Uma recomendação final para os quem está pensando em se aventurar no mundo dos estúdios, é a série “O Furo do balde” no canal do Lisciel (https://www.youtube.com/user/felipeliscielfranco)  vale a pena ouvir a opinião e as considerações daqueles que já abandonaram as esperanças de tornar o estúdio uma empresa lucrativa.

 

 

 

Estúdio: A menina dos olhos (da cara). Última parte.
José Carlos Pires

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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