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SUMÁRIO / Matéria de capa

A sonorização de Madonna em Copacabana

02/06/2024 - 12:28h
Atualizado em 28/10/2024 - 13:19h



Fotos: Leonardo Costa / Divulgação / RioTur / Peter Racy

 

As discussões sobre o uso assumido do playback no show de Madonna tomaram conta da Internet. Alguns comparavam o show a um musical da Broadway, argumentando que o megashow não teria como foco o desempenho de uma banda de músicos tocando em tempo real. Outros chamaram atenção para um empobrecimento cênico que aconteceria em um show de uma artista de música sem músicos presentes, além das possíveis repercussões negativas em um mercado de trabalho que já não é amigável ao instrumentista. Mas, com ou sem banda, a complexidade natural da turnê The Celebration Tour  junto às mega dimensões de um show para milhões na praia de Copacabana resultaram em um evento gigantesco. Como fazer para sonorizar algo deste tamanho?
 




Visão frontal do sistema principal de sonorização

 

Em primeiro lugar, usar a experiência. Já aconteceu um show destas proporções antes em Copacabana, exatamente no mesmo local: foi o dos Rolling Stones no dia 18 de fevereiro de 2006. “Já ter passado pelos Stones numa situação bem parecida, no mesmo local, ajudou bastante. Já entramos com a noção da dimensão da obra que precisaríamos executar, com os números, as quantidades e as dimensões”, comenta Peter Racy, da Gabisom.

 

 


Madonna abre o show com a música “Nothing Really Matters”

 

 

 

Foi essa experiência que sustentou o conteúdo das trocas de mensagens e telefonemas acontecidas entre a equipe de Madonna – especialmente o engenheiro de som da FOH,  Burton Ishmael e o designer de sistema Andy Fitton - e a Gabisom. O tempo de pré-produção não foi assim tão amplo: dois meses entre as primeiras mensagens e o show, no dia 4 de maio. “O primeiro contato que tivemos com a equipe dela foi dia 4 de março de 2024. Basicamente trocávamos e-mails semanalmente durante março, e diariamente em abril. No cumulativo, foram muitas horas de conversas, pedidos e trocas de informações”, relembra Racy.

 

 


Foram usadas 16 torres de delay

 

Entre os pedidos da equipe de Madonna estava o uso de sistema 100% L-Acoustics, já usado nos shows regulares da turnê. Outra decisão tomada foi a de replicar, até determinado ponto da área do show, o padrão usado nas arenas no decorrer da turnê regular. Esta área, que envolvia o entorno do palco em um raio de 70 metros, coincidia com a área VIP.  “A configuração poderia ser dividida em duas partes distintas:  em primeiro lugar, a área do próxima ao palco que replicava o piso das arenas em que ela tocou durante a turnê toda. Em segundo lugar, a extensão da praia liberada para o grande público que se estendia por quase um quilômetro numa faixa desde o mar até os edifícios, incluindo centenas de barcos e iates dentro da água”, detalha Peter. 

 

 

Seis K1 SB,  16 K1 e 2 K2 por lado com 12 KS-28 no Fly atrás do P.A. principal

 

 

Os equipamentos usados foram  seis K1 SB,  16 K1 e 2 K2 por lado com 12 KS-28 no Fly atrás do P.A. principal; 16 K2 apenas do lado da calçada no P.A. Lateral e 16K2 por lado com 12 KS-28 no chão no P.A. do Canto. “Ao todo foram quase setecentas -  692 se não me falha a memória - caixas L-acousitcs entre PAs, Subs, Front-fills e Delays. Abaixo das várias passarelas havia uma infinidade de caixas X8 e Kara  apontadas para dentro e para fora para atender ao público VIP que estava ao pé e dentro dos espaços cercados pelas passarelas.  A área VIP tinha vários PAs: dois no canto do palco, dois principais, e apenas um lateral do lado da calçada, pois não haveria público no mar. Inúmeros clusters de front-fills Kara foram espalhados por todo lado da área VIP. Não faltou cobertura. Na minha opinião até sobrou”, conclui Peter.

 

 

Nas torres de delay, 4 K1 SB acima das 16 K1 e mais quatro K2. Para os graves, oito subs KS-28 em configuração "end-fired"

 

 

Já nos cerca de 1 km diante do palco, na praia, foram usadas 16 torres de delay. “Na praia pediram um sistema de delays sofisticado, com subs acima dos PAs e também no chão em configuração end-fired”, detalha Racy. Cada torre teve quatro  K1 SB acima das 16 K1 e quatro  K2,  com mais oito KS-28 no chão de cada torre em configuração  “end -fired" com dois blocos de quatro subs cada, um bloco em frente ao outro.

 

 


Visão da housemix (por Peter Racy)

 

 

Os equipamentos de palco e das centrais de P.A. e monitor foram trazidas pela produção de Madonna. O equipamento de sonorização foi fornecido pela Gabisom, que trabalhou no evento com uma equipe de 20 pessoas incluindo o engenheiro de sistema Peter Racy, o gerente de projeto Luciano Costa e os técnicos de som Danilo Costa, Giovane Paes de Sousa, Carlos Henrique Moreira, Caros Henrique Lima, Willian de Brito, Saulo Souza, Aguinaldo Junior, André Sapucay, Renilson Vilela, Auro Torres, Wender Souza, Edilson Meireles de Silva, Anselmo Silva Moreira, Felipe Natal Paixão,Pedro Paulo, Anderson Souza, Michaeli Felipinho e Roberto de Carvalho em funções diversas. 

 

 

 


Durante a montagem (por Peter Racy)

 

 

Por Miguel Sá

 

 


 

 

 

 

"Conte minhas conquistas. Não o número de anos que vivi neste planeta." Madonna fala no comercial do banco patrocinador da sua vinda ao Brasil. E para encerrar a sua turnê “The Celebration Tour”, a diva escolheu nosso país e as areias de Copacabana para uma mega apresentação única em toda a américa do sul, e entregou tudo em Copacabana no Rio de Janeiro, no dia 4 de maio, para um público de 1,6 milhões de pessoas ao longo das areias da Princesinha do Mar, que recebeu de braços abertos a Rainha do Pop.

 

 

 

 

A estrutura do show por aqui foi o dobro do tamanho das outras 80 apresentações pela Europa e América do Norte (realizadas em arenas fechadas) com palco de 814m² com 24m de frente e pé direito de 18m de teto. Havia ainda três passarelas por onde a cantora dançou e cantou por mais de 2h de show. A passarela central tinha 22 metros de extensão e as laterais, 20 metros cada.

 

 

A configuração do sistema de sonorização seguiu o que era feito nas grandes arenas da turnê regular em um entorno de cerca de 70 metros

 

Após passar por uma grave infecção bacteriana, que a manteve internada por semanas em junho de 2023, próximo da estreia da turnê, Madonna precisou reagendar vários shows para se recuperar. Ela começou sua jornada em 14 de outubro de 2023, totalmente recuperada. Reforçando o ditado que diz que o que não te mata te torna mais forte, a rainha do pop retornou aos palcos deixando público e críticos de queixo caído pela sua vitalidade e pela forma como se mostra mestre no que faz de melhor: a reinvenção.

 

 

O show

 

Comemorando 40 anos de carreira, a turnê celebra e conta a história da diva entre uma música e outra, contada por ela mesma e pela Drag Queen Bob The Drag, que comanda o show do início ao fim como mestre de cerimônia. Não ficaria de fora dessa turnê toda a parte tecnológica e visual que vem junto com suas megaturnês, especialmente esta que traz um setlist repleto de hits do passado.

 

 

 

Pela primeira vez, Madonna não teve uma banda completa no palco, mas em vários momentos há músicos, como o violoncelista Mathew Jamal, e até mesmo sua filha Mercy James ao piano e seu filho David Banda no violão, além dela mesma na guitarra e violão em alguns momentos. Para Madonna, que nunca precisou olhar para o passado e sempre seguiu em frente, a Celebration Tour resgata sua trajetória de forma inovadora sob o olhar do seu presente. Há inúmeras referências ao seu passado, como por exemplo a cama vermelha da turnê Blond Ambition, que volta ao palco junto com uma das bailarinas vestida como a própria nos anos 90, com o famoso corselet de cone dourado do estilista francês Jean Paul Gautier.

 


Madonna com a bailarina que representa ela mesma há 40 anos

 

 

A música que abre o espetáculo é Nothing Really Matters, sucesso de 98, e então Madonna começa a contar a história da sua vida através das músicas. Seu primeiro single, Everybody vem na sequência. Após Into The Groove, ela conversa com o público dizendo que está muito feliz de estar ali. Agradece o Rio de Janeiro, fala uns palavrões em português e se encontra com a “Madonna” de 1984 no palco, dizendo que contará histórias dela que só as pessoas que estavam ali iriam saber.

 

 


Madonna canta o hit Burning Up em sua versão mais rock.

 

 

Na guitarra ela leva uma versão mais rock de Burning Up e, como parte da nostalgia 100% presente nesta tour, Madonna canta Open Your Heart com direito à performance na cadeira remetendo ao clipe e à turnê Blond Ambition de 1990, até que o imenso globo espelhado começa a girar e descer enquanto ela canta Holiday com um rápido mashup de I Want Your Love do Chic, cujo final teatral mostra um dos bailarinos morrendo, pra narrar a época em que tudo parecia bem, mas de repente chegou a epidemia da AIDS, matando milhares de pessoas.

 


Em Live To Tell homenageia as vítimas da Aids como Cazuza, Betinho, Freddy Mercury e amigos pessoais

 

 

A encenação da morte de um dos bailarinos abre espaço para próxima música, Live to Tell, que é uma grande homenagem às vítimas da Aids. Nos telões aparecem fotos de amigos íntimos de Madonna, celebridades e anônimos que se foram por conta da doença na época. Nesta parte Madonna canta sentada em um banquinho de praça enquanto as imagens se alternam. Na turnê em arenas ela sobrevoava o público em um elevador quadrado que era pendurado no teto. Aqui no Brasil foram homenageadas celebridades como Renato Russo, Betinho, e Cazuza.

 

 


A música Like a Prayer foi cantada por grande parte do público presente

 

 

Os sinos de igreja ecoam e então vem a religião. Crucifixos e bailarinos pendurados como Jesus na cruz e cânticos de igreja antecedem a polêmica Like a Prayer, cuja versão usada remete mais uma vez à turnê Blond Ambition, com direito a mashup de Unholy de Sam Smith e solo de guitarra do Prince no final, encenada pelo filho David Banda.

 

 


A canção Erotica trouxe um ringue ao palco e Madonna com roupão de boxeadora

 

 

E claro que ela também traria o sexo depois da religão. Erotica começa dentro de um ringue de boxe e termina na cama com Madonna, quando seu alter-ego volta com ela, agora na cama e vestida com o famoso corselet de cone dourado de Jean Paul Gautier ao som dos famosos violinos da abertura da música Papa Don’t Preach.

 


A camisola vermelha acompanhou nas faixas mais quentes como Justify my Love e Fever

 

 

Justify my love fica por conta das coreografias quentes, com muita sensualidade, e traz Madonna de camisola vermelha, se esfregando em bailarinos e bailarinas em coreografias que quando mostradas por cima no telão dão forma ao espetáculo. Com uma venda preta sobre os olhos, ela começa o hit Hung Up, e se junta às bailarinas que tiram a parte de cima do figurino, ficando com os seios à mostra, incluindo a bailarina trans Jal Joshua, na qual  Madonna dá um beijo. O momento rendeu grande burburinho nas redes, acusando-a de imoralidade, assim como elogios.  Nada que ela não tivesse acostumada nessas quatro décadas de carreira. A sequência termina com sua filha Mercy James ao piano, enquanto ela canta a música Bad Girl, até então antes desta turnê só performada ao vivo uma única vez no programa humorístico Saturday Night Live.

 


A filha Mercy James tocou piano enquanto sua mãe cantava a canção Bad Girl

 

 

Na abertura do próximo ato, sua filha Estere ataca de DJ ao som de Vogue / Break My Soul , de Beyoncé, até a entrada da sua mãe com uma nova versão do corselet de cone, totalmente inspirada pelo Brasil, nas cores verde, amarelo e azul (figurino único e exclusivo para o Brasil que a diva se inspirou em uma montagem de fã feita digitalmente meses antes pelo DJ Rafael Arena da página Madonna Online).

 

 


Em Vogue, sua filha Estere ataca de DJ e abre com remix de Beyoncé

 

 

Ainda ao som de Vogue, Madonna chama Anitta pra participar da sequência ballroom e segue com trechinhos de Human Nature e Crazy for you. Madonna risca um fósforo e põe literalmente fogo no palco assim como fez em seu Girlie Show em 1993. Neste momento ficam apenas seus bailarinos no palco ao som de um remix de Justify My Love, chamado The Beast Within, que cita versos da Bíblia: Apocalipse – Livro da Revelação.

 

 


A cantora Anitta participou da canção Vogue, onde Madonna revelou o famoso corselet de cone, desta vez homenageando os brasileiros

 

 

O próximo ato traz a trilha sonora de 007, Die antother day, em um show de iluminação e raios laser enquanto Madonna e seus bailarinos fazem coreografias deslumbrantes, todos de preto. Logo em seguida a versão country da musa chega com Don’t Tell Me, onde ela refaz a clássica coreografia do videoclip e turnês anteriores. Ela então conversa com o público e relembra palavras ditas em 1993, como ‘bunda suja’, e agradece mais uma vez o público brasileiro, falando que cada vez que vê o verde e amarelo das cores de nossa bandeira, ela a sente em seu coração e em outra parte do corpo dela, onde nascem os bebês. Neste momento, ela pega o violão e toca um trechinho da antiga canção de ninar This Little Light of Mine, que nas décadas de 50 e 60 virou um hino aos direitos civis, dando sequência para Express Yourself, seu hino de liberdade feminina.

 

 


A música Don’t tell me trouxe de volta a vaqueira Madonna dos anos 2000

 

 

La Isla Bonita chega com tudo e na logo em sequência mais uma exclusiva para os brasileiros: de fora do setlist dos 80 shows anteriores, aqui Madonna inclui Music, com os jovens ritmistas de Pretinho da Serrinha e a Pablo Vittar, que sobem  ao palco, com batucadas brasileiras e camisas e bandeiras do Brasil enquanto o telão homenageia diversos brasileiros como Pelé, Marielle Franco, Daniella Mercury, Elza Soares, Caetano Veloso, Mano Brown, Maria Betânea, Irmã Dulce, Gilberto Gil, Raoni Metuktire e outros.

 

 


Pablo Vittar particiou da canção Music junto com os alunos de Pretinho da Serrinha

 

 

Após Music, enquanto Madonna se troca é exibido um vídeo que tenta resumir em alguns minutos os 40 anos de carreira da artista, ao som de I don’t search, I find, presente em seu mais recente álbum, Madame X. E então ela surgue com roupa e óculos futuristas pra cantar Bedtime Story e Ray of Light, em cima de um cubo gigante que sobe do palco. A iluminação e show de lasers na segunda música é o destaque. Na sequência, Madonna acalma o público com uma música que encantou os brasileiros em 1993 no Maracanã e nunca mais havia sido cantada ao vivo em uma turnê até então. Rain retorna aos palcos com uma bela batida suave e gostosa (palavra que ela diz saber o que significa).

 

 


Um show a parte de lasers dominaram a música Ray of Light

 

 

O ato final começa com uma grande homenagem ao Rei do Pop, Michael Jackson, ao mostrar, em sombras no telão, o encontro musical que nunca aconteceu, do rei e rainha do pop nos anos 80 com Like a Virgin, Billie Jean e outras. É nessa hora que 1,6 milhões de pessoas ecoam os versos do refrão de Like a Virgin por toda orla de Copacabana.

 

 


O encontro, mesmo que através de sombras projetas, do Rei e Rainha do Pop em uma grande homenagem à Michael Jackson

 

 

Presente em seu álbum Rebel Heart, de 2016, Madonna encerra com Bitch I’m Madonna onde traz ao palco todos os seus bailarinos vestidos cada um de uma fase diferente dela nesses 40 anos de carreira. Tem a Madonna do baseball, a gueisha, a material girl, a cowgirl, a noiva, entre outros icônicos looks da diva. A música Celebration toca enquanto Madonna agradece tudo e todos, estende a bandeira brasileira mais uma vez, agradece a cidade maravilhosa e some pelo elevador que a leva ao subsolo do palco.

 

 


Madonna encerra com as músicas Bitch I'm Madonna e Celebration, e com seus bailarinos carcterizados com cada um de suas fases

 

 

Parece que Madonna fez valer cada palavra que foi dita no comercial do banco patrocinador, onde dizia que já viu muitas outras estrelas irem e virem e que ela continuaria sendo lembrada hoje, amanhã e daqui a 100 anos.

 

Por Leonardo Costa

 

 

 

 

Para ver como foi o show dos Rolling Stones no mesmo lugar, em 2006, acesse https://www.revistabackstage.com.br/reportagens/materias-completas/tbt-com-rolling-stones-e-u2-no-brasil

 

 

 

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